Vendas da LVMH desaceleram à medida que os gastos em luxo pós-pandemia diminuiram

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O impacto cambial negativo, em relação ao dólar, foi pior do que o previsto, avança a empresa Reuters/GONZALO FUENTES

O conglomerado LVMH, líder no sector dos bens de luxo, registou um aumento de 9% nas receitas do terceiro trimestre, assinalando um crescimento mais lento à medida que uma forte onda de gastos pós-pandemia diminui devido ao aumento da inflação e à crise económica.

"Depois de três anos de crescimento e de anos extraordinários, o crescimento está a convergir para números que estão mais em linha com a média histórica", afirma o director financeiro do LVMH, Jean-Jacques Guiony, aos analistas.

A LVMH, que detém marcas como a Louis Vuitton, Dior, Tiffany e Bulgari, informou que as receitas ascenderam a 19,96 mil milhões de euros, um aumento de 9% em relação ao ano anterior, excluindo o efeito das flutuações cambiais e das aquisições. As receitas totais aumentaram 1% em relação ao ano anterior.

A divisão de moda e marroquinaria, onde se encontram as casas Louis Vuitton e Dior, registou um crescimento das vendas de 9%, em comparação com as expectativas dos analistas de um crescimento de 10%.

A LVMH está a enfrentar um abrandamento da procura de produtos de gama alta nos EUA e na Europa, onde o aumento dos preços levou os compradores — especialmente as gerações mais jovens — a recuar de uma euforia de gastos pós-pandemia, enquanto a recuperação na China tem sido desigual.

Guiony observa que, embora o negócio tenha abrandado na Europa durante o terceiro trimestre, não houve uma mudança acentuada na procura de artigos por parte da China em comparação com há dois anos, excepto que mais compras estão a ser feitas fora do continente, à medida que as viagens foram retomadas. Nos EUA, as tendências não se alteraram muito, acrescenta.

A divisão de vinhos e bebidas espirituosas registou um declínio de 14% nas receitas durante o trimestre, com a empresa a registar uma menor procura de champanhe durante o período, enquanto o fraco ambiente económico nos EUA e uma recuperação mais lenta do que o esperado na China afectaram a procura do conhaque Hennessy.

A LVMH é a primeira grande empresa mundial de luxo a apresentar resultados neste trimestre e dá aos investidores uma ideia do que esperar dos seus rivais. A Hermès e a Kering apresentam os seus relatórios a 24 de Outubro.

"Isto parece suficientemente bom para apoiar o preço das acções, uma vez que as expectativas do lado da compra eram possivelmente mais moderadas, tal como sugere a significativa desvalorização do mercado", afirma Luca Solca, analista da Bernstein, observando que a empresa enfrentou um período de comparação mais difícil, na sequência de fortes desempenhos na China, nos EUA e na Europa há um ano.

Os investidores baixaram recentemente as suas expectativas para o sector do luxo e, desde Abril, cerca de 96 mil milhões de euros foram retirados do valor da LVMH. No mês passado, o grupo francês deixou de ser a empresa cotada mais valiosa da Europa, após um reinado de dois anos e meio do fabricante dinamarquês de medicamentos Novo Nordisk, que foi impulsionado pelo crescimento do medicamento anti-obesidade Wegovy.

Um euro mais forte em relação ao dólar americano do que um ano antes também afectou a empresa, uma vez que as vendas nos EUA valiam menos quando convertidas na sua moeda nacional. O impacto cambial negativo foi pior do que o previsto, afirma Guiony, referindo que esperava que afectasse negativamente as margens no segundo semestre, embora parte desse impacto fosse compensado por estratégias de cobertura. Prevê-se que o impacto cambial afecte as empresas europeias com grandes operações nos EUA nesta época de resultados.

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