Ser sedentário pode aumentar o risco de vir a desenvolver demência

Estar dez horas por dia sentado no sofá ou no computador é um risco acrescido para o desenvolvimento de demência, cuja principal causa continua a ser a doença de Alzheimer.

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As caminhadas regulares são um dos "antídotos" para o sedentarismo MARCO MAURÍCIO/ARQUIVO
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Quanto mais tempo se mantém um comportamento sedentário, maior o risco de vir a desenvolver demência. Estar várias horas por dia sentado no sofá, sentado ao computador ou mesmo a conduzir agrava a probabilidade de vir a ter sintomas como a perda de memória, dificuldades de linguagem ou de executar tarefas que antes faziam parte do dia-a-dia. Este risco aumenta sobretudo quando o sedentarismo é superior a dez horas por dia.

Esta associação entre a demência e o sedentarismo coincide com estudos recentes que mostram também o papel que a actividade física poderá ter na diminuição do risco de desenvolver demência. Em Outubro do ano passado, um estudo publicado na revista científica JAMA, associava a redução deste risco a dar 9800 passos por dia, depois de analisar os dados de quase 80 mil pessoas da iniciativa UK Biobank, do Reino Unido.

Agora, a associação entre a demência e o sedentarismo reforça o papel que sermos activos pode ter nesta área, como conclui uma equipa de cientistas liderada pela Universidade da Califórnia do Sul (Estados Unidos) no estudo publicado também na revista JAMA. Os investigadores analisaram os dados de mais de 50 mil adultos com mais de 60 anos, através dos dados do UK Biobank, e os comportamentos sedentários destacaram-se como um dos factores de risco.

Estes resultados têm mais importância quando, no que toca à actividade física, Portugal está na cauda da Europa. De acordo com os dados do Eurobarómetro de 2022, 73% da população portuguesa inquirida disse nunca fazer desporto com alguma regularidade – a taxa de abstenção desportiva mais alta da União Europeia.

O principal factor de risco para o desenvolvimento de demência continua a ser a idade. No entanto, o tabagismo, a obesidade e a glicemia elevada também têm um impacto importante neste risco, como alertava um relatório divulgado no ano passado. Nesse mesmo relatório, publicado na revista The Lancet Public Health, alertava-se para o aumento das pessoas a viver com demência em todo o mundo: dos 57 milhões de pessoas adultas em 2019 para um máximo de 153 milhões em 2050. Em Portugal, os cerca de 200 mil casos em 2019 poderão tornar-se 351 mil em 2050.

Promover o exercício e facilitar a mobilidade

“A demência é uma síndrome, não é uma doença. E inclui várias alterações cognitivas, que podem afectar a memória, a atenção, a capacidade de avaliar problemas ou mesmo alterar a capacidade de orientação em determinados ambientes”, nota Tiago Gil Oliveira, presidente da Sociedade Portuguesa de Neurociências. “Globalmente, a principal causa de demência é a doença de Alzheimer”, indica. Esta doença, que provoca perda de memória, será responsável pela maioria dos casos de demência, apesar do contributo de outras doenças menos comuns, como a doença de Huntington.

A aposta no exercício físico é inescapável para Tiago Gil Oliveira. “É necessário promover estes hábitos. Há evidência para que se adoptem estes comportamentos e a promoção [da actividade física] deve ser feita nas populações mais idosas, mas também nas mais jovens”, refere. “É importante prevenir. E estes são hábitos que devem estar presentes desde cedo e devem ser incutidos nos mais jovens.” As caminhadas regulares (dia sim, dia não, por exemplo) são um dos exemplos mais simples de como evitar uma vida sedentária.

O acompanhamento e monitorização dos comportamentos e hábitos de saúde dos utentes nos cuidados de saúde primários é outro dos reptos deixados pelo também investigador em doença de Alzheimer da Universidade do Minho. Mais: “Há uma questão na organização das nossas cidades, que devem permitir que se ande mais a pé. É essencial que se criem condições para termos cidades organizadas de modo a promover estes hábitos de saúde e de mobilidade.”

Este novo estudo reforça o papel que a actividade física regular pode ter na prevenção da demência, tal como outros estudos já o demonstraram na prevenção de alterações que favorecem a doença de Alzheimer, por exemplo. “A demência não é só uma alteração fruto da idade. É uma alteração anormal em que a idade é um dos principais factores de risco. Mas há uma série de factores em que se pode intervir precocemente para prevenir o desenvolvimento destas alterações”, remata Tiago Gil Oliveira, aludindo à importância de tornar o exercício físico uma prática mais regular em Portugal.

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