Em tempo de “desafios e crises”, Alemanha e China querem “contribuir para a estabilidade” da economia mundial

Depois de receber o primeiro-ministro chinês em Berlim, chanceler alemão diz que o país europeu não quer “cortar as ligações económicas” com Pequim, mas diversificar as relações comerciais alemãs.

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Li Qiang, primeiro-ministro chinês, foi recebido em Berlim pelo chanceler alemão, Olaf Scholz EPA/Filip Singer
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“Diálogo directo”, “negociações pessoais” e “discussões autênticas”. Segundo o chanceler alemão, Olaf Scholz, o reforço destas dimensões no relacionamento político e económico entre a Alemanha e a República Popular da China são hoje “mais importantes do que o habitual”, para responder a um “tempo incomum cheio de desafios e crises globais”.

Li Qiang, primeiro-ministro chinês, concorda. “Elevar as relações a um nível ainda mais elevado” e fortalecer a “cooperação” em sectores como o Comércio, a Ciência, a Indústria ou o Clima, sublinhou, “irão contribuir para a estabilidade da economia global”. Alemanha e China, afiançou, podem “desempenhar o papel de estabilizadores”.

Segundo os jornais alemães Frankfurter Allgemeine Zeitung e Die Welt, esta foi uma das principais mensagens que os dois líderes políticos quiseram deixar aos jornalistas, nesta terça-feira, numa conferência de imprensa conjunta, sem direito a perguntas, realizada pouco depois de um encontro entre os dois em Berlim.

Criticado pelos seus opositores internos por ter aceitado receber uma enorme delegação chinesa – que inclui, além de Li, vários ministros e responsáveis políticos por pastas como a Economia, as Finanças ou a Saúde – numa altura em que as relações entre a China e grande parte dos países ocidentais se encontram num período de enorme tensão, à boleia da posição ambígua chinesa sobre a guerra na Ucrânia e do braço-de-ferro geopolítico e económico com os EUA, Scholz procurou um discurso apaziguador.

Sem fazer qualquer referência a Hong Kong, Taiwan ou Xinjiang – o Ocidente tem demonstrado ter divergências insanáveis com a forma como Pequim vem lidando com os três territórios – o chanceler social-democrata não deixou, ainda assim, de (voltar a) apelar à China para exercer a sua influência sobre a Federação Russa, no sentido de convencer o Kremlin a pôr fim à invasão e ocupação do território ucraniano.

Já o tinha feito aquando de uma visita a Pequim, em Novembro do ano passado, que também mereceu críticas, e durante a qual se fez acompanhar por uma delegação de empresários.

“É evidente que estamos a atravessar um período geopolítico difícil. Isto também afecta o comércio internacional e as relações económicas internacionais”, referiu, citado pela Reuters. “É por isso que hoje também falámos sobre a forma como o Governo chinês pode utilizar a sua influência sobre a Rússia para acabar com a terrível guerra de agressão contra a Ucrânia.”

O Governo chinês recusa condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e apresenta, como solução, um plano de paz genérico, que equipara o invasor ao invadido, e que não estabelece quaisquer condições pré-negociais. Por outro lado, tem intensificado a sua cooperação económica, energética, diplomática e militar com Moscovo desde o início da guerra.

No mesmo dia em que a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, enquadrou a nova Estratégia de Segurança Económica da União Europeia, que, mesmo não fazendo referências directas à China, define uma intenção clara de autonomia do bloco face ao gigante asiático, Scholz garantiu que a Alemanha “não tem qualquer interesse em cortar as ligações económicas” com Pequim.

Berlim, explicou, pretende, ainda assim, diversificar as suas relações comerciais, para evitar estar dependente de um único mercado ou economia.

A China é o maior parceiro comercial da Alemanha desde 2016 e o mercado chinês é vital para as algumas das principais empresas alemãs, nomeadamente as do importante sector da construção automóvel. Para além disso, a Alemanha depende da China em matérias-primas que são essenciais para a descarbonização, como o lítio ou o tungsténio.

Também por isso, Olaf Scholz enfatizou a importância da cooperação bilateral na luta contra as alterações climáticas, principalmente por se tratar de dois dos países do globo que mais libertam gases de efeito estufa para a atmosfera.

“Iremos continuar o diálogo para que nos possamos compreender mutuamente e responder, em conjunto, aos desafios globais”, disse o chanceler. “Iremos enfrentar, juntos, esta responsabilidade. Por cada tonelada de CO2 que pouparmos, estaremos a contribuir para reduzir o aquecimento global.”

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