Mais de cem prémios Nobel exigem libertação do activista bielorrusso Ales Bialiatski

Os escritores JM Coetzee, Kazuo Ishiguro, Mario Vargas Llosa e Annie Ernaux unem as suas vozes a outros Nobel da Medicina, da Química ou da Física para alertar o mundo: foi preso um “herói”.

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Ales Bialiatski fotografado em Minsk em 2019 TATYANA ZENKOVICH/EPA
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Mais de cem galardoados com o Prémio Nobel assinam uma carta aberta em que condenam a detenção do activista político e defensor de direitos humanos bielorrusso Ales Bialiatski, exigindo a sua libertação. Co-vencedor do Nobel da Paz de 2022, Bialiatski está a cumprir dez anos de prisão na Bielorrússia, na sequência de uma condenação pelo crime de financiamento ilícito de “actividades que violaram grosseiramente a ordem pública”, segundo a justiça do seu país. JM Coetzee, Kazuo Ishiguro, Olga Tokarczuk, Mario Vargas Llosa e Annie Ernaux são alguns dos signatários que pedem que se ouça a voz do activista.

“Nós, os laureados com o Nobel signatários desta carta, pedimos a libertação imediata e incondicional do nosso colega — o escritor, defensor de direitos humanos, Prémio Nobel e membro da PEN Ales Bialiatski”, começa a mensagem.

A carta, cuja existência foi noticiada este domingo pelo diário britânico The Guardian, é promovida pela conhecida organização de defesa da liberdade de expressão PEN International. Solidários com Bialiatski, os subscritores condenam as autoridades bielorussas pela “repressão brutal, incansável e sistemática de vozes independentes”, escreve a organização no seu site.

Este domingo assinala-se o Dia Internacional de Solidariedade com os Prisioneiros de Consciência na Bielorrússia e o Guardian associou-se a essa iniciativa.

“Ales Bialiatski dedicou a sua vida à promoção da democracia e dos direitos humanos na Bielorrússia”, destacam os signatários, dando vários exemplos da sua actuação e apontando o dedo directamente ao Presidente Alexander Lukashenko, que tem sido questionado pelo activista pela repressão da liberdade de expressão no país. “Por isso, está a pagar o preço mais elevado: dez anos de prisão apoiados em fundamentos espúrios.”

Para nomes como Herta Müller (Nobel da Literatura em 2009), Shirin Ebadi (Nobel da Paz em 2003) e outros distinguidos nas áreas da Medicina, da Física ou da Química, “Bialiatski é um símbolo de esperança e inspiração para defensores dos direitos humanos em todo o mundo”. Os signatários não esquecem que também estão detidos outros cinco membros da Viasna (Primavera, em português), uma organização de direitos humanos que documenta e denuncia práticas de tortura contra prisioneiros políticos na Bielorrússia e que foi fundada por Ales Bialiatski. São eles Marfa Rabkova, Valiantsin Stefanovich, Uladzimir Labkovich, Leanid Sudalenka e Andrei Chapiuk.

Esta não é a primeira vez que Ales Bialiatski é preso pelas autoridades do seu país. Cumpriu uma pena de três anos entre 2011 e 2014, por fraude fiscal, acusação que, tal como a que o levou novamente à prisão, sempre negou.

“O mundo merece ouvir a voz de Bialiatski”, lê-se na carta, que o cita: “Porque sabemos que a Primavera vem sempre a seguir ao Inverno”.

O Prémio Nobel da Paz foi entregue em 2022 a Bialiatski e a duas organizações de direitos humanos, a Memorial, da Rússia, e o Center for Civil Liberties, da Ucrânia, numa clara mensagem do Comité Nobel Norueguês sobre a invasão russa da Ucrânia.

Bialiatski, de 60 anos, é um dos rostos mais antigos do movimento pró-democracia da Bielorrússia e na verdade está detido desde 2021 pelo regime de Lukashenko, apesar de só ter sido julgado e sentenciado em Março deste ano; foi por isso impedido de receber em mãos o Nobel em Dezembro último.

A sua detenção surgiu após os grandes protestos públicos contra Alexander Lukashenko, que está no poder há 29 anos. As manifestações eclodiram após a atribuição da vitória a Lukashenko, uma vez mais, nas presidenciais de Agosto de 2020, consideradas fraudulentas. Os resultados não foram reconhecidos nem validados pela oposição e pela União Europeia.

Svetlana Tikhanouskaia é a principal figura da oposição a Lukashenko e foi candidata presidencial nas eleições de 2020. Tem apoiado publicamente Bialiatski e considerou o julgamento daquele que aponta como “verdadeiro herói da Bielorrússia” um processo “falso” e “vingativo”.

Como o PÚBLICO escreveu quando da sentença de Bialiatski, Lukashenko e a Bielorrússia são aliados de Vladimir Putin e do Kremlin e estão indirectamente envolvidos na invasão da Ucrânia através de “um apoio logístico significativo à operação militar russa no território ucraniano”, com o qual a Bielorrússia faz fronteira.

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