Justiça bielorrussa condena vencedor do Nobel da Paz a dez anos de prisão

Tribunal de Minsk responsabiliza activista político Ales Bialiatski por financiamento ilícito dos protestos contra o regime de Lukashenko. Oposição denuncia julgamento com “motivações políticas”.

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Ales Bialiatski foi detido por causa dos protestos de 2020 e de 2021 contra o regime de Lukashenko EPA/TATYANA ZENKOVICH

O activista político e de defesa dos direitos humanos bielorrusso e co-vencedor do Prémio Nobel da Paz de 2022, Ales Bialiatski, foi condenado esta sexta-feira a dez anos de prisão pela Justiça da Bielorrússia

No final de um processo judicial que os opositores do regime do Presidente Alexander Lukashenko rotulam como “político”, um tribunal de Minsk declarou que Bialiatski e outros dois activistas financiaram ilicitamente “actividades que violaram grosseiramente a ordem pública”.

Valiantsin Stefanovic foi condenado a nove anos de prisão e Uladzimir Labkovich recebeu uma pena de sete anos.

Em causa está o envolvimento dos três nos protestos massivos de 2020 e de 2021 contra o regime, na sequência da declaração de vitória de Lukashenko nas eleições presidenciais de Agosto de 2020, consideradas fraudulentas e cujo resultado não foi nem pela oposição, nem pela União Europeia.

Ales Bialiatski, de 60 anos, é um dos membros mais antigos do movimento pró-democracia do país, tendo fundado a Viasna (Primavera, em português), uma organização de direitos humanos que documenta e denuncia práticas de tortura contra prisioneiros políticos na Bielorrússia.

Detido em 2021, o activista já cumpriu uma pena de prisão de três anos, entre 2011 e 2014, por causa de uma condenação anterior, por fraude fiscal. Tal como nesse processo, também neste se declara não-culpado e diz que não passam de estratégias do regime para o tentar silenciar.

“As alegações contra os nossos colegas estão ligadas à sua actividade de direitos humanos no centro de direitos humanos Viasna, que oferece ajuda às vítimas de perseguição por motivações políticas”, assegura a organização, num comunicado, citado pela Reuters.

Na mesma linha, a principal figura da oposição a Lukashenko e candidata presidencial nas eleições de 2020, Svetlana Tikhanouskaia, recorreu ao Twitter para voltar a denunciar o “julgamento falso do regime” e “vingativo” do regime contra os críticos e prometer apoio aos condenados.

“A condenação de hoje dos defensores de direitos humanos da Viasna – incluindo o vencedor do Prémio Nobel da Paz, Ales Bialiatski, é simplesmente deplorável. Ales dedicou a sua vida a lutar contra a tirania. É um verdadeiro herói da Bielorrússia e será homenageado muito tempo depois de o ditador ser esquecido”, escreveu Tikhanouskaia, numa das várias mensagens publicadas esta sexta-feira.

Bialiatski foi laureado pelo Comité Nobel Norueguês, juntamente com as organizações de direitos humanos Memorial, da Rússia, e Center for Civil Liberties, da Ucrânia, por demonstrar a “importância da sociedade civil para a paz e a democracia”.

A escolha dos vencedores do Nobel da Paz do ano passado foi claramente influenciada pela invasão da Federação Russa à Ucrânia.

Alexander Lukashenko e o Governo da Bielorrússia constam da lista de principais aliados de Vladimir Putin e do Kremlin, prestando um apoio logístico significativo à operação militar russa no território ucraniano, com o qual a Bielorrússia também faz fronteira.

No final do ano passado, aumentaram inclusivamente as suspeitas, junto do Governo ucraniano e da equipa do Presidente Volodymyr Zelensky, de que a Bielorrússia estaria a planear envolver-se directamente no conflito.

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