Carla Castro abandona vice-presidência da bancada da Iniciativa Liberal

A liberal, que se candidatou à presidência do partido contra Rui Rocha, diz ser necessário um maior foco na união. A deputada diz que se sentiu excluída na direcção do grupo parlamentar.

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Carla Castro desempenhava até agora a função de vice-presidente da bancada parlamentar da IL Nuno Ferreira Santos

Carla Castro anunciou esta sexta-feira, através das redes sociais, que tomou a decisão de abandonar a vice-presidência da bancada parlamentar da Iniciativa Liberal. Em causa está a falta de envolvimento na estratégia, comunicação e gestão do partido que um cargo como seu deveria ter, segundo entende a deputada.

"Venho por este meio dar uma breve nota da minha resignação de vice-presidente de bancada parlamentar. Aceitei a continuidade do mandato após a convenção, até pela unidade que defendia e defendo", começou por escrever Carla Castro no Twitter.

Para a até então vice-presidente da bancada dos liberais, os "cargos devem ter efectivo exercício dos mesmos (neste caso participação na estratégia, comunicação e gestão)", algo que não tem acontecido. Por esse motivo, e não estando "na política por cargos", decidiu apresentar a demissão.

"Reitero que é muito importante a união e é nisso que temos de nos centrar: há promessas eleitorais para ajudar a cumprir, um partido para crescer e uma enorme necessidade de ajudar a tornar Portugal Mais Liberal: contam comigo e não obsta a nada no orgulho e honra em trabalhar, todo os dias, colaborativamente, em prol dos compromissos para um Portugal Mais Liberal", conclui a liberal.

Ao que o PÚBLICO apurou, Carla Castro cedo começou a sentir-se excluída na direcção do grupo parlamentar. O assessor que a apoiou no Congresso da IL foi despedido e queixa-se de ter deixado de ser apoiada pela equipa de comunicação do partido – os seus discursos e actividades parlamentares passaram a ser ignorados nas redes sociais, um meio onde a Iniciativa Liberal sempre apostou.

O facto de Ricardo Valente, vereador na Câmara do Porto, que apoiou Carla Castro nas eleições internas, estar também quase a ter um estatuto de persona non grata pela direcção do partido pode também ter contribuído para a decisão da saída do cargo de vice-presidente. A demissão foi, assim, um acumular de situações em que a ex-candidata à liderança se sentiu posta de lado pela nova direcção.

Ao PÚBLICO, fonte próxima de Carla Castro diz que esta foi excluída das fotografias do próprio grupo parlamentar e ainda da fotografia tirada a propósito da participação no 25 de Abril (onde estavam todos os deputados menos a vice-presidente da bancada parlamentar). Fonte oficial do partido rejeita esta imputação, dizendo que não foi tirada nenhuma fotografia no Parlamento e juntando fotos da participação de deputados na descida da Avenida da Liberdade, onde a deputada se encontra.

Bancada lamenta “​momento”​ e “​forma”​ como a demissão foi apresentada

Em comunicado, o presidente do grupo parlamentar da Iniciativa Liberal (GPIL) esclareceu que é de "lamentar o momento e a forma com que [Carla Castro] decidiu apresentar a sua demissão". A deputada liberal terá comunicado a intenção de se demitir da função que desempenhava na passada quinta-feira. O assunto foi então discutido na reunião de deputados que se seguiu, na qual a liberal foi "convidada a ponderar" a decisão, após todos os fundamento que apresentou terem sido "liminarmente refutados pelos restantes deputados".

Além disso, escreve ainda o presidente do GPIL, Rodrigo Saraiva, a deputada foi recordada que, em Setembro, as funções que cada deputado desempenha seriam reorganizadas. "Foi-lhe igualmente explicado o potencial impacto externo, nomeadamente num momento em que o partido e o grupo parlamentar tinham estado sob forte pressão pública nas horas precedentes [por causa do caso do youtuber que insultou o primeiro-ministro]. E que, especialmente e naquele momento, estava também já prevista uma declaração ao país do senhor Presidente da República relativa à crise política" que Portugal atravessa.

Segundo o comunicado, a deputada, que anteriormente não tinha "manifestado qualquer desconforto com as situações agora invocadas", foi claramente "informada das consequências e da leitura política que uma atitude desta natureza" poderia ter. No entanto, "persistiu na sua intenção" de se demitir.

Carla Castro foi candidata à liderança da Iniciativa Liberal nas eleições que se realizaram na convenção electiva, em Janeiro, que acabou por perder para Rui Rocha. Na altura, Rui Rocha juntou 51,7% dos votos dos membros inscritos, enquanto a lista de Carla Castro teve 44% dos votos e a de José Cardoso 4,3%.

Em entrevista ao PÚBLICO no final do passado ano, a deputada dizia querer pôr o partido "claramente virado para fora" para "ganhar o país", tornando-se "a terceira força política". Na altura em que apresentou a sua candidatura à liderança do partido, prometia manter a actual matriz liberal social, política e económica, recusando qualquer inclinação para um maior conservadorismo nos costumes.

Esta decisão ocorre cerca de três meses depois de o grupo parlamentar decidir manter a deputada como vice-presidente da bancada (actualmente liderada por Rodrigo Saraiva).

Notícia actualizada às 13h56 com o comunicado do Grupo Parlamentar da IL

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