Museu Nacional do Rio de Janeiro ganha meteorito para a reabertura após incêndio

Meteorito de 4560 milhões de anos foi encontrado no estado de Pernambuco após a queda em 2020. Ficará no Museu Nacional do Rio de Janeiro, que ardeu em 2018 e terá reabertura parcial em 2024.

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O meteorito foi encontrado em 2020 em Santa Filomena, no estado de Pernambuco (Brasil) Museu Nacional/UFRJ

O meteorito Santa Filomena foi apresentado como a primeira peça a ser incorporada ao acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro desde que o incêndio destruiu sua sede, em 2018. Investigadoras da instituição exibiram a rocha de 2,8 quilos recuperada em Santa Filomena, Pernambuco (no Nordeste do Brasil), após a queda de diversos fragmentos no local em 2020.

A peça com idade estimada em 4560 milhões de anos ficará exposta no Palácio São Cristóvão no ano que vem, na primeira parte do museu recuperada. A previsão é que a reabertura da entrada principal e o hall de acesso ocorra em 6 de Junho de 2024.

Já as obras completas do Museu Nacional do Rio de Janeiro devem ficar prontas no fim de 2026. Estima-se que 85% dos 20 milhões de exemplares que estavam no prédio tenham sido destruídos durante as mais de seis horas de incêndio na noite de 2 de Setembro de 2018.

“No ano que vem, em 6 de Junho, isso aqui estará aberto e restaurado para o público. Esse trabalho mostra, mais uma vez, que os profissionais do Museu Nacional continuam gerando pesquisa de qualidade e realizando parcerias, demonstrando que a instituição está mais viva do que nunca”, disse o director da instituição, Alexander Kellner.

A nova peça se junta agora a outras da colecção do museu, que inclui também o maior meteorito já encontrado em solo brasileiro, a pedra do Bendegó, achada no século XVIII no sertão da Bahia.

Segundo a investigadora Elizabeth Zucolotto, o meteorito Santa Filomena é classificado como um condrito, que são meteoritos rochosos comuns. “É um meteorito mais comum, mas o que não é comum é a chuva em cima de uma cidade. Muitos pedaços, principalmente pequenos.”

A queda do Santa Filomena aconteceu na tarde de 19 de Agosto de 2020, na cidade que leva o nome da peça, no sertão de Pernambuco. Os moradores ouviram um estrondo acompanhado da queda de vários fragmentos do céu. Um deles, inclusive, chegou a quebrar o telhado de uma casa.

No dia seguinte, um grupo de investigadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ligados ao Museu Nacional, chegou à cidade para começar o estudo de identificação das rochas encontradas.

A peça torna-se ainda mais especial, de acordo com os investigadores, por ser representativa dos primórdios do nosso sistema solar. Ela veio da cintura de asteróides, um espaço sem planetas, que fica entre Marte e Júpiter.

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Investigadoras da Universidade Federal do Rio de Janeiro exibem o meteorito Santa Filomena, que passa a integrar o acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro Museu Nacional/UFRJ

“Ele tem umas estruturas esféricas chamadas 'condros', intactas há 4,56 bilhões de anos [4,56 mil milhões de euros]. São vestígios de como era nosso sistema solar primordial e nos dão pistas de como os corpos planetários, asteróides e cometas se formaram”, disse a investigadora Amanda Tosi.

A investigação sobre o meteorito Santa Filomena foi coordenada pelo grupo Meteoríticas, com as investigadoras Amanda Tosi, Elizabeth Zucolotto, Diana Andrade e Sara Nunes. O trabalho foi publicado pela revista Meteoritics & Planetary Science.

O estudo é assinado também pelo astrónomo amador Marcelo Zurita, da Bramon (Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros), que conseguiu registar o impacto da bólide celeste que explodiu originando os outros fragmentos. Cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) também ajudaram a rastrear a trajectória do objecto no espaço.

Posse de meteoritos

O episódio em Santa Filomena desencadeou uma corrida de caçadores de meteoritos gerando controvérsia sobre o direito de posse dessas rochas. Um projecto de lei, ainda em trâmite, discute como esse património deve ser tratado no Brasil.

De um lado, há investigadores que lutam pela venda e posse de meteoritos e, do outro, os que apoiam a regulamentação. A legislação prevê, no entanto, uma percentagem da rocha para a ciência, libertando o restante para o comércio.

A investigadora Elizabeth Zucolotto afirma que a venda da propriedade dos meteoritos regulamentada por lei impossibilita que eles saiam do país ilegalmente. Para ela, isso indica que haverá uma fiscalização suficiente para proibir o contrabando.

Exclusivo PÚBLICO/Folha de S. Paulo

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