Há uma nova Cervejaria Trindade com quase dois séculos para redescobrir

A icónica cervejaria lisboeta, que esteve fechada por mais de um ano para obras e renovação, quer reconquistar os portugueses. Um património global, bife e croquetes incluídos.

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A cervejaria Trindade, em Lisboa, esteve fechada durante 13 meses DR
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O projecto arquitectónico de Ana Costa procurou manter a traça original do edifício DR

São oito séculos de história que começam com um convento e terminam com uma cervejaria que remonta a 1836. Depois de fechada para obras de renovação em 2021, a Cervejaria Trindade, que integra o grupo Portugália, reabriu com novidades para elevar a fasquia: não só para conquistar os turistas que andam às voltas pelo Chiado e Bairro Alto, em Lisboa, mas também pelo público português que tem saudades de “um bife à Trindade”.

O regresso do Fugas à Trindade faz-se pela mão de Anísio Franco, conservador no Museu Nacional de Arte Antiga, que numa iniciativa do Centro Nacional de Cultura, no final de uma tarde de Outubro faz uma visita guiada que começa na rua e entra pelo edifício, entretanto remodelado. O Convento da Santíssima Trindade nasceu ali, no século XIII, conta o especialista em História de Arte, saltando até 1755, o ano do terramoto ao qual o convento sobreviveu, assim como recuperou de dois incêndios, avança, em 1704 e 1756.

Ainda à porta da cervejaria, Anísio Franco debruça-se sobre a extinção das ordens religiosas, em 1864, e como o edifício foi comprado por Manuel Moreira Garcia que ali instalou a fábrica de cerveja e a cervejaria, a que deu o nome do convento. De frente para o edifício, mostra os painéis de azulejo e, lá dentro, debruça-se sobre a história dos painéis desenhados por Luís Ferreira, conhecido por “Ferreira das Tabuletas”, o director artístico da Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego.

Primeiro o átrio, depois o antigo refeitório do convento — a entrada e a primeira sala da cervejaria, respectivamente, que hoje estão elegantemente decoradas. Em 1946 é criado um salão no espaço que era o da antiga igreja do convento. As suas paredes têm trabalhos de Maria Keil e o mobiliário foi desenhado pelo arquitecto Keil do Amaral — exactamente o mesmo mobiliário que hoje preenche as salas da cervejaria.

A sala de entrada da cervejaria, onde se servem petiscos DR
A sala seguinte, o refeitório, decorado com os azulejos Viúva Lamego, do século XIX DR
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A sala de entrada da cervejaria, onde se servem petiscos DR

O espaço, que esteve 13 meses fechado, foi renovado e o mobiliário recuperado. “Isto ninguém tem”, diz Francisco Carvalho Martins​, CEO do grupo Portugália, orgulhoso e apontando para as mesas com pés de madeira e tampo de pedra. “Deixamos a pedra sem toalha porque é a essência, é aquilo que as pessoas reconhecem que já não há noutros espaços”, continua em conversa com o Fugas.

Além do espírito do espaço, a preocupação foi também a de manter uma cozinha à altura e Francisco Carvalho Martins conta que convidou o chef Alexandre Silva como consultor, antes mesmo de ter ganho a estrela Michelin, o “namoro” já começara há cinco anos. “Contratamo-lo pela sua personalidade e arte culinária. O seu caderno de encargos foi a de manter a Trindade como cervejaria, mas com uma comida bem confeccionada”, conta.

A ideia é também o “reposicionamento” da cervejaria — que em 1997 viu o edifício integrado no Património Cultural de Lisboa pela Direcção-Geral de Turismo​. À medida que a visita com Anísio Franco avança, agora para os claustros, na rua, onde há mesas que podem ser ocupadas nas noites mais quentes, há participantes que se queixam que deixou de ser “em conta” ir à Trindade. Francisco Carvalho Martins concorda: “É natural que algumas da pessoas com menos elasticidade económica venham menos vezes. Não vemos razão para a Trindade não ter preços como os da concorrência. Perde-se de um lado e ganha-se do outro.”

O marisco é uma marca da cervejaria Trindade DR
Os claustros não foram esquecidos na recuperação do edifício DR
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O marisco é uma marca da cervejaria Trindade DR

A casa tem mais de sete dezenas de funcionários, da cozinha à sala, e o objectivo é fazer 500 refeições diárias, avança o responsável do grupo Portugália, que comprou a Trindade em 2007. Há quem fique pelas primeiras salas, onde se servem mais cervejas e petiscos; e há quem se dirija à sala Maria Keil, onde se serve o famoso bife, mas mariscos e outros pratos.

A ementa é completa e, depois do couvert (3,60€), chega à mesa o famoso croquete da casa (2,20€), um Brás de bacalhau (17,90€), com batatas crocantes; e um bife de lombo à Trindade (25,40€). Tudo pronto a partilhar e, no caso do bife, pergunta-se logo se queremos um ou dois ovos estrelados (mais um ovo é 1,30€). Para acompanhar, uma cerveja da casa.

Há ainda muitas opções de mariscos, peixes e carnes. Por fim, entre as sobremesas destacam-se o pudim de cerveja com gemas de ovos, cerveja preta e canela (6,80€) e o arroz doce queimado (com o mesmo processo que o leite de creme) com compota de limão e canela (5,90€).


O Fugas fez a visita e jantou a convite da Cervejaria Trindade

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