Portugal pediu mais 1820 milhões do PRR, pagamento pode demorar quatro meses

Bruxelas confirma ter recebido segundo pedido de pagamento português. Tem agora dois meses para avaliar pedido. Dinheiro pode chegar em Dezembro ou Janeiro.

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LUSA/MÁRIO CRUZ

O Governo português entregou esta sexta-feira, último dia do prazo, o segundo pedido de desembolso do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), financiado por Bruxelas. São 1820 milhões de euros, em termos líquidos, dos quais 1712 milhões a fundo perdido e 180 milhões sob a forma de empréstimo. A Comissão Europeia tem agora dois meses para avaliar o pedido.

Tal como no primeiro pagamento, será preciso verificar se o país cumpriu os marcos e metas com que se comprometeu para este pagamento. Desta vez, são 20 objectivos: 16 marcos e duas metas para a parcela a fundo perdido; aos quais acrescem dois marcos relativos à componente de empréstimos.

O primeiro pedido de pagamento (1162 milhões em termos líquidos) foi apresentado a 25 de Janeiro, o cheque foi aprovado dois meses depois, a 25 de Março e o pagamento aconteceu a 9 de Maio. Se Bruxelas demorar o mesmo tempo no segundo desembolso, o cheque chegará na primeira quinzena de Janeiro.

Nessa altura, Portugal já deverá estar a preparar o terceiro pedido de desembolso – que será o mais valioso (2331 milhões em termos líquidos para 15 marcos e 19 metas) dos dez a que o país tem direito. O financiamento é garantido pelo programa NextGenerationEU, que vigora até 31 de Dezembro de 2025. É com ele que se paga os investimentos e as reformas negociadas em cada PRR para a recuperação pós-pandemia dos 27 Estados-membros da União Europeia.

No pedido hoje entregue, não se inclui qualquer obra física. A generalidade dos governos nacionais relegou essas intervenções para mais tarde, apostando nas reformas legislativas e outros investimentos de menor complexidade para a fase inicial de execução do PRR.

Assim, Lisboa pede desta vez dinheiro pelo cumprimento de reformas em domínios como o Serviço Nacional de Saúde, Habitação e Ordenamento do Território, Transição Digital, Formação, Energia e apoio a empresas. Em termos brutos, seriam 2092 milhões de euros (1967 milhões a fundo perdido e 125 milhões em empréstimo), mas como todos os países receberam um adiantamento equivalente a 13% do valor global do PRR, essa mesma percentagem é agora descontada em cada desembolso, para apurar o valor líquido a transferir para os cofres nacionais.

Entre as provas que Portugal entregou hoje em Bruxelas estão, por exemplo, a entrada em vigor da revisão dos conteúdos de formação incluídos no Catálogo Nacional de Qualificações relativamente a módulos no domínio das competências digitais; a aprovação dos projectos de bioeconomia sustentável nos sectores têxtil e vestuário, calçado e resinas; o sistema seguro de comunicações móveis para funcionários públicos; a entrada em vigor de um novo modelo de contrato de gestão no SNS; a renovação da plataforma BUPi (Balcão Único do Prédio); mudanças nos sistemas de urgências hospitalares; ou o aumento de capital do Banco Português de Fomento; entre outros.

Portugal poderia ter feito este pedido de desembolso logo em Julho. Desde a criação do PRR, o Governo de António Costa foi sempre muito célere a pedir a verba. Mas desta vez chegou-se a Julho sem todos os marcos e metas completos. Foi o caso da entrada de comandos sub-regionais da Protecção Civil e o aumento de capital do Banco de Fomento. O que levou o executivo a apontar para Setembro.

Os pedidos nacionais são avaliados pela Comissão Europeia, que terá de dar um parecer preliminar. Depois disso, se a avaliação preliminar for positiva, o processo é enviado ao Comité Económico e Financeiro (CEF) do Conselho da UE, que tem até quatro semanas para emitir uma opinião por consenso. Qualquer Estado-membro que tenha dúvida sobre a execução do PRR pode travar o processo e forçar a discussão do caso no Conselho Europeu. Tal medida de emergência suspende o pedido de desembolso, até que os líderes europeus (governos e chefes de Estado) se pronunciem.

Se não houver obstáculos, ou estes forem removidos, a opinião favorável do CEF será enviada à Comissão, que terá de preparar uma decisão de execução do pagamento que possa ser adoptada pelo Comité de Recuperação e Resiliência, num prazo de duas ou três semanas. Adoptada formalmente a decisão, Bruxelas pode então processar o pagamento, “em função das condições de mercado”.

Tudo isto significa que, entre a apresentação do pedido e o desembolso efectivo, podem decorrer quatro meses.

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