Brasil regista maior área devastada na floresta amazónica em 15 anos

Dados do instituto Imazon, uma organização não-governamental, dizem que foi a segunda vez consecutiva que o desflorestamento da Amazónia passou dos dez mil quilómetros quadrados.

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Um indígena da tribo Kayapo observa os troncos de árvores cortadas por madeireiros junto à aldeia Krimej, no Sudoeste do estado do Pará LUCAS LANDAU/Reuters

A floresta amazónica no Brasil perdeu, num ano, a maior área dos últimos 15 anos, com a devastação de 10.781 quilómetros quadrados, o que equivale a sete vezes a cidade brasileira de São Paulo, informou nesta quinta-feira o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazónia (Imazon).

A organização não-governamental, que recolhe dados através do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD, que não está é ligado ao Governo e faz medições mensais), frisou que a desflorestação na maior floresta tropical do planeta entre Agosto de 2021 a Julho de 2022 foi 3% superior à registada no calendário passado, entre Agosto de 2020 e Julho de 2021.

“Foi a segunda vez consecutiva que o desflorestamento passou dos dez mil quilómetros quadrados no período. Somadas, as áreas destruídas nos últimos dois calendários chegaram a 21.257 quilómetros quadrados”, destacou o relatório do Imazon.

Mas olhando só para os números de 2022, as más notícias confirmam-se. Observando o período de Janeiro a Julho, o Imazon concluiu que a área de floresta perdida neste ano cresceu 7% face a 2021, passando de 6109 quilómetros quadrados para 6528 quilómetros quadrados. Isso significa que, só este ano, a região já perdeu um território de floresta equivalente a cinco vezes a cidade do Rio de Janeiro. Traduzindo os danos para uma realidade mais próxima dos portugueses, se considerarmos apenas a área urbana da Lisboa (100 quilómetros quadrados), este estrago equivaleria a um pouco mais do que 65 cidades de Lisboa.

Há, no entanto, números diferentes, porque há diferentes entidades e formas de medir o desmatamento na Amazónia. Dados divulgados em Julho pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), um organismo público, usando o sistema DETER - que emite alertas sobre zonas em risco de desmatamento, quase em tempo real - apontavam já para uma perda recorde de floresta amazónica no Brasil atingiu nos primeiros seis meses do ano: foi destruída uma área cinco vezes maior do que a cidade de Nova Iorque, 3988 quilómetros quadrados, era então dito.

​“O aumento do desflorestamento ameaça directamente a vida dos povos e comunidades tradicionais e a manutenção da biodiversidade na Amazónia. Além de contribuir para a maior emissão de carbono num período de crise climática”, alertou Bianca Santos, investigadora do Imazon.

“Relatórios da ONU já alertaram que, se não reduzirmos as emissões [de gases com efeito de estufa], fenómenos extremos como ondas de calor, secas e tempestades ficarão ainda mais frequentes e intensos. Isso causará graves perdas tanto no campo, gerando prejuízos para o agronegócio, quanto para as cidades”, acrescentou.

Os ataques contra povos indígenas e invasões das suas terras por mineiros ilegais e madeireiros, sobretudo na Amazónia, aumentaram de forma drástica em 2021, quando o ponto de partida era já uma situação “aterradora”, afirma outro relatório, este do Conselho Missionário da Igreja Católica, divulgado na quarta-feira.

Houve 305 invasões de terras indígenas em 2021, quando no ano anterior foram registados 263 casos. São quase três vezes mais casos do que os registados por esta entidade em 2018, quando o Presidente Jair Bolsonaro foi eleito, relata a agência Reuters.

Houve ainda 176 assassínios de pessoas de origem indígena, menos seis do que em 2020, quando se registou o maior número de homicídios deste tipo. Os suicídios de indígenas brasileiros subiram para 148 no ano passado, o maior número de sempre.

Os dados do Imazon mostram que a expansão do agronegócio tem sido responsável pela maior perda de floresta amazónica. Segundo o Imazon, 36% do desflorestamento dos últimos 12 meses ocorreu apenas na região conhecida como Amacro, onde um processo de expansão do agronegócio. Ali foram derrubados quase quatro mil quilómetros de florestas entre Agosto de 2021 e Julho de 2022. Esta região é composta por 32 municípios concentrados na divisão entre os estados brasileiros do Amazonas, Acre e Rondónia (a designação resulta da junção das primeiras letras de cada estado).

O estado do Pará é o que mais devastou floresta. As imagens de satélite detectaram que nos últimos 12 meses foram derrubados 3858 quilómetros quadrados de floresta no estado, 36% do território destruído na Amazónia brasileira.

De seguida, ficaram os estados do Amazonas (2738 quilómetros quadrados), Mato Grosso (1620 quilómetros quadrados), Rondónia (1312 quilómetros quadrados) e Acre (865 quilómetros quadrados).

Também foi a quarta vez seguida em que a devastação atingiu o maior patamar desde 2008, quando o Imazon iniciou a monitorização com o Sistema de Alerta de Desmatamento.

Devido à menor frequência de nuvens na Amazónia, o calendário de monitorização da desflorestação começa em Agosto de um ano e termina em Julho do ano seguinte.

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