À oitava edição, o BioBlitz celebra a biodiversidade a nível nacional em Serralves

Evento científico e pedagógico, que tem como casa-mãe os espaços verdes da Fundação de Serralves, no Porto, acontece entre esta segunda-feira e o próximo domingo. Online acolherá algumas actividades para a comunidade escolar, o que permitirá ao BioBlitz chegar a um público mais vasto.

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Passadiço da Fundação de Serralves, no Porto Nelson Garrido

Começa esta segunda-feira e decorre até domingo (8 de Maio) a oitava edição do BioBlitz, evento que procura tirar partido dos espaços verdes da sua casa-mãe — a Fundação de Serralves, no Porto — para falar aos mais novos (e não só) de educação ambiental, práticas sustentáveis e biodiversidade.

O BioBlitz é conhecido por albergar duas “vidas” dentro de cada uma das suas edições. Os primeiros dias, repletos de oficinas e visitas de estudo, destinam-se exclusivamente à comunidade escolar, ao passo que os dias de encerramento são dirigidos a um público mais amplo. Esta oitava edição não fugirá à regra: entre 2 e 6 de Maio, o evento será, de forma híbrida (isto é, alternando entre o presencial e o virtual), para os mais novos; nos dias 7 e 8, o Parque de Serralves abrirá as suas portas ao público geral.

No que diz respeito aos primeiros dias, a directora do Parque de Serralves, Helena Freitas, diz que serão dinamizadas “360 oficinas científicas e pedagógicas”. Em muitas delas, especialistas de várias instituições e áreas de investigação irão conversar com alunos sobre, por exemplo, árvores, aves, líquenes, morcegos, “animais da quinta”, anfíbios e as relações que o humano pode estabelecer com os elementos naturais que o rodeiam. Já a Lipor, mecenas do BioBlitz, fará actividades em torno da gestão de resíduos. Também se organizarão “saídas de campo”: investigadores do Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental (Matosinhos) e membros da Floradata (Porto) mostrarão a várias turmas a fauna e a flora do Parque de Serralves.

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Uma sessão numa das anterioes edições do Bioblitz Rita_Franca

As oficinas abrangerão públicos escolares de todas as faixas etárias. As actividades digitais acontecerão através de uma plataforma multimédia que foi criada especificamente para as suportar. As escolas que queiram que os seus alunos as integrem têm de se inscrever previamente no site do BioBlitz.

Para o público geral haverá, por exemplo, oficinas pedagógicas, visitas orientadas ao Parque de Serralves, passeios no passadiço da instituição e uma visita guiada que procurará dar a conhecer duas instalações do artista Gil Delindro. As obras são Fictional Forests — que, é assinalado no site do BioBlitz, reapropria “elementos orgânicos do património agrícola português” e “explora a percepção da monocultura enquanto ‘memória romântica rural’” — e Burned Cork — que homenageia os tiradores de cortiça e corresponde a uma escultura sonora de uma árvore vítima de um incêndio florestal.

Quanto a espectáculos de artes performativas, serão apresentados Estranhões e Bizarrocos, da coreógrafa Joana Providência (que adapta o livro Estranhões & Bizarrocos: Estórias para Adormecer Anjos, de José Eduardo Agualusa), e Diversitas, do palhaço Enano. Ambas as criações são dirigidas a famílias.

Helena Freitas explica que haverá ainda “momentos mais inusitados”, como a demonstração da tosquia das ovelhas da Quinta de Serralves. Martin O’Connel, tosquiador profissional da Nova Zelândia, falará sobre “princípios de tosquia respeitadores da integridade física das ovelhas. Caberá, depois, a Alice Bernardo, coordenadora da Saber Fazer, organização que se dedica à divulgação das práticas artesanais portuguesas, explicar “a importância das raças autóctones” e expor os benefícios da “lã enquanto fibra natural”.

“O BioBlitz pode ser apropriado pelo universo escolar nacional”​

Helena Freitas não fez sempre parte da equipa responsável pela realização do BioBlitz, mas foi, enquanto membro do público, acompanhando a sua evolução. Recorda que “começou por ser um evento muito dirigido às escolas” e “centrado no tema da biodiversidade”. Com o passar do tempo, considera, “foi diversificando os temas abordados — e, também, os públicos”.

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Rita_Franca

A bióloga de formação, coordenadora geral da equipa directiva do Parque de Serralves desde Agosto de 2020, envolveu-se de forma significativa na organização da sétima edição do BioBlitz, decorrida no ano passado. Devido à pandemia, o evento teve de apostar num formato híbrido. “A semana educativa foi virtual, ao passo que o fim-de-semana, aberto a um público mais amplo, foi presencial”, recorda — sem, porém, deixar de salientar que as regras sanitárias impostas pela Direcção-Geral da Saúde impediram a organização de receber um número especialmente elevado de pessoas em Serralves.

Helena Freitas considera que a migração para o digital trouxe bons resultados. “Chegámos a mais de 50 mil alunos. As propostas educativas correram bem nesse formato online”, aponta.​

O sucesso da edição de 2021 fez a responsável acreditar que “o BioBlitz pode ser apropriado pelo universo escolar nacional”, tornando-se, assim, “um momento nacional de celebração da biodiversidade”. “Os conteúdos pedagógicos são tão ricos que podem servir as escolas, não têm de se restringir ao Parque de Serralves”, defende.

São vários os motivos pelos quais o BioBlitz vai acontecer entre os dias 2 e 8 de Maio. Em primeiro lugar, diz Helena Freitas, estas datas não interferem com o “plano curricular” das escolas — ainda falta algum tempo para os exames. Por outro lado, Helena Freitas também queria “vincular” o BioBlitz à segunda fase da Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade (COP15). Devido à pandemia, o evento, que chegou a estar calendarizado para os meses de Abril e Maio, tem vindo a ser sucessivamente adiado. “Queríamos ter um momento diário de ligação à COP15, havia a intenção de colocar o BioBlitz como agente dessa dinâmica internacional.”

Reflectindo sobre aquela que tem sido a trajectória do evento desde a sua criação, Helena Freitas acredita que o BioBlitz não precisou de “muitos anos” para se tornar “o grande evento nacional de promoção e celebração da biodiversidade”. “Uma vez que tem, ao mesmo tempo, uma vertente educativa e uma expressão intergeracional, consegue construir uma dinâmica colectiva e familiar que é uma extraordinária celebração da biodiversidade”, afirma.

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