Luísa Ducla Soares destrava línguas há 50 anos

A escritora aceitou fazer mais um livro sobre lengalengas e trava-línguas porque nele pôde integrar o presente e o futuro.

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Imagens que ilustram duas lengalengas inéditas Helder Teixeira Peleja
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Helder Teixeira Peleja
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,Os ovos misteriosos
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Capa do livro “Destrava-Lengas”, editado pela Livros Horizonte Composição de capa de Sylvie Lopes a partir das ilustrações de Helder Teixeira Peleja

Quando Luísa Ducla Soares foi desafiada pela editora a fazer este Destrava-Lengas, pôs-se a pensar: “Que loucura fazer tantos livros sobre estes temas! Sobre lengalengas já fiz cinco!”, diz ao PÚBLICO via email. E acrescenta: “É verdade que sou uma fã da literatura tradicional e durante sete anos me dediquei a estudar e recolher na Biblioteca Nacional e junto de pessoas várias imenso material que depois me levou a publicar contos, lendas, trava-línguas, provérbios, adivinhas, lengalengas, etc. Tantas coisas originais, curiosas, imaginativas, com um misto de realidade e fantasia...”

Acabou por se questionar (e ainda bem): “Se, ao longo de séculos, houve pessoas anónimas que, não sei onde nem quando, as inventaram, não terá sentido dar continuidade a essa tradição?

A escritora disse então à Livros Horizonte que “só faria um livro desses se fosse também virado para o presente e para o futuro”. Ei-lo. Destrava-Lengas traduz as suas observações e inquietações: “Quantas situações e objectos em desuso vamos repetindo, em edições múltiplas, quando a imaginação continua a ser fértil e se podiam introduzir nos moldes tradicionais os objectos, as vivências, as expressões do dia-a-dia das crianças de hoje.”

Assim, descreve: “Iniciei então o livrinho com trava-línguas e lengalengas feitos por mim nesse momento. Isso constitui metade do livro. A outra metade consiste nos textos puramente tradicionais.”

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Uma lengalenga inédita e actual: “Net, Net, Net, Net, coisas velhas são um frete!/ Fui pescar na Internet com o meu computador, mas caí dentro do mar!/ Ai, que horror, que horror, que horror!/ Encontrei um tubarão com cem dentes de leão./ Encontrei uma baleia: era tão grande e tão feia!/ Encontrei um peixe-espada só a dar-me espadeirada./ Ui, nadei a sete braços a fugir da Internet, deitei o computador para dentro da retrete!/ Net, Net, Net, Net, Net, Net, coisas novas são um frete!”

O que a autora continua a querer, nestes seus 50 anos de histórias, é desafiar as crianças (e os adultos): “Criem os seus textos, na solidão da casa, em conjunto, na aula, na companhia de familiares. Quero que esta tradição não se extinga! Que a sintamos como nossa.” No fundo, pede-lhes que façam o mesmo que ela também (e tão bem) faz.

“Já li ou ouvi alguns textos bem divertidos feitos por inspiração do livro”, conclui satisfeita a autora cujos textos muitos de nós conhecemos desde a infância. O humor, a crítica, o inesperado e o absurdo fazem parte das suas obras, que não infantilizam o leitor, antes o surpreendem e conquistam para a leitura e para a literatura.

Criar um livro diferente

Helder Teixeira Peleja diz ao PÚBLICO que ilustrar os textos de Luísa Ducla Soares “foi um desafio enorme”. “Quando recebi este convite, o meu primeiro pensamento foi pensar as ilustrações de forma a tornar este um livro diferente dos que já existem com textos deste género”, recorda. E descreve: “A minha ideia passou por fazer com que cada página dupla contasse uma mini-história, com os elementos representativos de cada lengalenga, de cada trava-línguas, a interagirem entre si.”

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Helder Teixeira Peleja

Definido o rumo, lançou as mãos à obra, “primeiro rabiscando no papel e depois concluindo as ilustrações digitalmente, seguindo o meu processo habitual de trabalho”.

Feliz com o resultado final, diz: “Está um livro muito interessante, colorido, divertido e que tem o aliciante extra de conter alguns textos criados pela Luísa especificamente para esta publicação.” Tudo verdade.

Que tal satisfazermos o pedido da autora e aumentarmos todos nós este património original e divertido da tradição oral? Leiam e escrevam.

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