Equipa de investigadores acredita saber a identidade do Assassino do Zodíaco. FBI mantém caso na secção “por resolver”

Um caso com meio século e que voltou à ribalta mundial graças a um filme de David Fincher, Zodiac, há 14 anos. Agora, os especialistas da Case Breakers, que reúne antigos agentes federais e investigadores forenses, acreditam ter encontrado provas da identidade do misterioso assassino em série. Mas as autoridades voltaram a recusar um estudo de ADN.

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As semelhanças nas marcas na testa são para os investigadores um forte indício de se tratar da mesma pessoa DR

Uma equipa de investigação criminal de duas universidades de Maryland foi impedida de ter acesso ao estudo dos cabelos encontrados no punho de uma estudante adolescente, assassinada há mais de meio século, acusa a Case Breakers, uma unidade não-governamental que se dedica a mistérios por resolver e que conta com antigos agentes do FBI e com agentes reformados, além de cientistas e jornalistas.

O grupo acredita ter na mira um forte suspeito de ter sido o Assassino do Zodíaco, associado a pelo menos cinco mortes — Betty Lou Jensen, de 16, David Arthur Faraday, 17, Darlene Elizabeth Ferrin, 22, Cecelia Ann Shepard, 22, e Paul Lee Stine, de 29 anos —, entre 1968 e 1969, mas suspeito de ter sido o responsável por entre 20 e 28 assassinatos (o próprio reclamou terem sido 37).

Entre as possíveis vítimas está Cheri Jo Bates, cujo corpo foi descoberto a 30 de Outubro de 1966, tendo os investigadores encontrado pêlos, pele e sangue sob as suas unhas — a Polícia de Riverside decidiu, na época, congelar todo esse material. Até que, na semana passada, um porta-voz da Polícia de Riverside, Ryan J. Railsback, declarou que o departamento está “100% certo” de que a jovem foi morta por outra pessoa e não pelo Assassino do Zodíaco.

No entanto, denuncia a Case Breakers, o Departamento de Polícia de Riverside recusou uma simples comparação do ADN encontrado com a sequência genética de Gary Francis Poste, um homem que os especialistas forenses vêem como “um suspeito muito forte”, e cujo material de ADN está guardado na polícia de Vallejo, também no estado da Califórnia.

Segundo a equipa da Case Breakers, Gary F. Poste era um veterano da Força Aérea que, durante quatro décadas, trabalhou a pintar casas. Uma mulher que foi sua vizinha elaborou que Gary era casado e que tinha tido um filho, lembrando que passava, nos anos 70 e 80, algum tempo em casa do casal. E a descrição de Poste é a de um homem controlador e abusivo que a ensinava, regularmente, a disparar armas de fogo.

Uma outra mulher chamada Michelle apresentou-se recentemente e relatou à Fox News ter sido casada com o filho de Gary, acrescentando que foi vítima de assédio por parte do sogro e do seu “bando” durante o seu casamento.

De acordo com o site de entretenimento TMZ, que afirma ter tido acesso à certidão de óbito, Gary F. Poste morreu, a 23 de Agosto de 2018, de septicemia, choque séptico, disfagia e demência vascular. O certificado revela ainda que o homem, que teria 80 anos na altura da morte, sofreu de hipertensão, osteoporose, hipotiroidismo e arritmia cardíaca.

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Gary F. Poste pode ser o Assassino do Zodíaco?

Há, essencialmente, quatro pistas que levaram a equipa a relacionar Gary F. Poste com a morte de Cheri Jo Bates e a concluírem que o Assassino do Zodíaco e Poste são a mesma pessoa.

A primeira, um relógio encontrado na cena do crime de Cheri Jo Bates, um Timex que a investigação concluiu ter sido comprado numa base militar. E, em meados da década de 60, Poste passava algum tempo em exames médicos na sequência de um acidente com uma arma de fogo no hospital da Base da Força Aérea de March, onde esse tipo de compra é possível. Detalhe: a base situa-se a apenas 15 minutos de carro da cena do homicídio de Cheri Jo.

A segunda remete para a identificação de alguma tinta no vidro desse mesmo relógio, sendo que o veterano foi pintor de profissão, enquanto a terceira é uma pegada, que viria a ser confirmada como feita por uma “bota de estilo militar”, tamanho 10 (43-44) — marcas do mesmo tipo de calçado e do mesmo tamanho foram encontradas em três cenas de crime relacionadas com o Assassino do Zodíaco. Por fim, foram encontrados quatro cabelos castanhos na mão fechada da jovem, de tonalidade igual ao cabelo de Poste.

As semelhanças continuam: as marcas na testa que se vêem em fotografias de Gary F. Poste são quase o espelho do retrato-robô feito pela polícia a partir de testemunhas que viram o Assassino do Zodíaco. E uma carta com a confissão do homicídio, enviada um mês depois para a polícia, usa termos pouco usuais que se encontraram nas mensagens codificadas e enviadas pelo Assassino Zodíaco, tendo uma daquelas já sido decifrada

A Case Breakers esperava partilhar estes resultados com o Departamento de Polícia de Riverside (DPR), incluindo o ADN de Gary F. Poste, mas acabou por ver a sua tentativa gorada — o actual chefe de polícia do departamento é o oitavo consecutivo a recusar-se a considerar Cheri Jo como a sexta vítima do psicopata, restando-lhe agora esperar pelo próximo.

“Há 55 anos, o DPR optou por ignorar o óbvio. Iria demorar apenas alguns minutos a comparar rápida e silenciosamente o ADN de Poste. Seria de pensar que a dor da família de Cheri Jo e dos seus amigos seria a prioridade número 1. Um brinde à esperança de que o próximo chefe encontre coragem para agir”, resumiu o chefe da equipa e co-fundador da Case Breakers, Thomas J. Colbert.

O caso do Assassino do Zodíaco é um dos mais famosos por resolver nos Estados Unidos. A história ganhou visibilidade global em 2007 graças ao filme de David FincherZodiac, protagonizado por Robert Downey Jr., Jake Gyllenhaal e Mark Ruffalo e baseado no livro homónimo de Robert Graysmit, um cartoonista do San Francisco Chronicle na altura dos assassinatos, que se dedicou a tentar desvendar o caso durante mais de uma década.

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