Jordânia avisa Israel para parar com ataques “bárbaros” contra fiéis em Jerusalém

Repressão das forças israelitas deixou mais de 300 palestinianos feridos desde sexta-feira à noite. Tribunal israelita adia decisão sobre expulsão de famílias de Jerusalém Oriental.

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Manifestante palestiniana detida pelas forças israelitas em Jerusalém ATEF SAFADI/EPA
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Palestiniano protesta junta a barricas das forças israelitas na Cidade Velha RONEN ZVULUN/Reuters
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Cerca de 90 mil palestinianos rezaram em Al-Aqsa na chamada Noite do Destino, a mais sagrada do Ramadão AMMAR AWAD/Reuters

A Jordânia, guardião oficial dos locais santos muçulmanos em Jerusalém, apelou este domingo a Israel para pôr fim ao que descreve como ataques “bárbaros” contra os fiéis na Mesquita Al-Aqsa. Numa nova noite de violência, pelo menos 120 palestinianos ficaram feridos depois de a polícia israelita ter reprimido com violência manifestantes que protestavam contra o despejo iminente de várias famílias num dos bairros de Jerusalém Oriental. Na véspera, mais de 200 fiéis ficaram feridos quando as forças israelitas entraram no Pátio das Mesquitas e em Al-Aqsa.

“O que a polícia e as forças especiais israelitas estão a fazer, desde violações contra a mesquita a ataques aos féis, é [um comportamento] bárbaro que rejeitamos e condenamos”, afirmou o Governo de Amã num comunicado. “Israel, enquanto força ocupante, tem a responsabilidade de proteger os direitos dos palestinianos nas suas casas”, lembrou ainda o ministro dos Negócios Estrangeiros jordano, Ayman Safadi.

Numa referência às famílias palestinianas que enfrentam a expulsão forçada das suas casas em Sheikh Jarrah, Safadi afirmou que isso “é um crime de guerra” – uma acusação em tom de aviso que repete as palavras do porta-voz do Alto Comissariado para os Direitos Humanos da ONU, Rupert Colville, na sexta-feira, quando afirmou que estas expulsões podem constituir “crimes de guerra”.

A tensão esteve alta em Jerusalém ao longo de todo o mês do Ramadão, que termina na terça-feira. Em antecipação de uma decisão judicial sobre a expulsão de seis famílias – o veredicto estava previsto para segunda-feira, mas foi adiado –, colonos armados têm-se mostrado nas ruas do bairro de Sheikh Jarrah: no dia 23 de Abril, houve mesmo milícias de colonos a entrar em casas de palestinianos aos gritos de “Morte aos Árabes”. Os palestinianos, por seu turno, têm-se reunido na área para vigílias em apoio das famílias afectadas, depois de quebrarem o jejum do Ramadão.

Depois de uma noite com provocações de colonos – e até de um deputado da extrema-direita israelita, Ben-Gvir – que acabou com a detenção de vários palestinianos, na quinta-feira, na sexta as forças de segurança israelitas dispararam balas de borracha e granadas de atordoamento contra fiéis que rezavam no Pátio das Mesquitas e, em seguida, contra os que estavam no interior da própria Mesquita Al-Aqsa. Alegadamente, tentariam impedir que as dezenas de milhares de muçulmanos ali concentrados permanecessem depois das orações em protesto contra as expulsões.

De sábado para domingo celebrava-se a chamada Noite do Destino (Laylat al-Qadr), a mais sagrada do Ramadão, e foram cerca de 90 mil os muçulmanos a rezar em Al-Aqsa. Muitos vinham de outras zonas e como os israelitas proibiram a passagem dos autocarros em que viajavam percorreram a pé o fim do percurso.

Alguns ficaram para uma nova noite de protesto, com as forças israelitas a dispersar os manifestantes a cavalo e com equipamento antimotim, disparando canhões de água e granadas de atordoamento. Parte dos manifestantes, os mais jovens sobretudo, responderam lançando pedras, acendendo fogueiras e derrubando algumas das barricadas policiais nas ruas que dão para os portões murados da Cidade Velha. O Crescente Vermelho Palestiniano regista 120 feridos, incluindo uma criança de um ano, a somar aos 205 da véspera, a maioria atingidos por balas de borracha ou bastões.

Paradas de nacionalistas

A próxima noite é de alto risco, com Israel a celebrar o Dia de Jerusalém, quando a comemoração da anexação de Jerusalém Oriental costuma ser marcada por paradas de judeus nacionalistas na cidade. Por isso mesmo, e para ganhar tempo, o Supremo Tribunal israelita decidiu adiar o anúncio da decisão do recurso das famílias que enfrentam a expulsão.

Estas famílias chegaram depois da Nakba (ou Catástrofe), como os palestinianos se referem à fuga e expulsão de centenas de milhares de pessoas em 1948, quando foi criado o Estado de Israel. Na década seguinte, com Jerusalém Oriental sob mandato da Jordânia, dezenas de famílias deslocadas de outras cidades abdicaram do seu estatuto de refugiados em troca de um pedaço de terra na cidade.

Apesar das inúmeras provas documentais sobre estes acordos, o sistema judicial israelita (que de acordo com a lei internacional não tem autoridade sobre a população que Israel ocupa) decide invariavelmente a favor dos colonos que nos últimos anos têm tentado ocupar estas casas.

Assim como os colonatos, também estas ocupações são ilegais e podem mesmo ser considerados “crimes de guerra”. Indiferente a isso, o ainda primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, rejeitou este domingo “a pressão para não construir em Jerusalém”.

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