Forças israelitas dispersam violentamente palestinianos dentro e fora da mesquita Al-Aqsa

Mais de 200 palestinianos ficaram feridos no Pátio das Mesquitas, após as orações da última sexta-feira do Ramadão. As duas próximas noites são de alto risco.

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Mais de 200 palestinianos ficaram feridos na última sexta-feira do Ramadão AMMAR AWAD/Reuters

Jerusalém vive há um mês em tensão crescente. Na noite da última sexta-feira do Ramadão, forças de segurança israelitas dispararam balas de borracha e granadas de atordoamento contra fiéis na Mesquita Al-Aqsa. Antes, tinham dispersado com violência os palestinianos que rezavam no exterior e se preparavam para ali ficar depois das orações, numa vigília em solidariedade com famílias que enfrentam a expulsão iminente das suas casas num bairro de Jerusalém Oriental. A Jordânia, país que é o guardião oficial dos locais santos muçulmanos na cidade, denuncia uma “agressão selvagem”.

Pelo menos 205 palestinianos ficaram feridos, assim como 17 polícias israelitas, nos confrontos que se seguiram à acção das forças de Israel, a maioria junto ao terceiro lugar mais sagrado do islão (depois de Meca e Medina), alguns noutras zonas de Jerusalém Oriental.

O Crescente Vermelho Palestiniano diz que um dos feridos perdeu um olho (notícias não confirmadas falam já de três palestinianos que perderam uma vista) e há dois com ferimentos graves. Muitos mais sofreram ferimentos no rosto e nos olhos, provocados por balas de borracha com revestimento de metal e estilhaços das granadas de atordoamento.

Vídeos publicanos nas redes sociais mostram os fiéis a rezar no Pátio das Mesquitas, enquanto se ouvem já disparos das forças israelitas. Face aos disparos, alguns, principalmente jovens, respondem lançando cadeira, sapatos e pedras.

Depois de milícias de colonos armadas terem percorrido as ruas de Sheikh Jarrah com gritos de “Morte aos árabes”, na noite de 23 de Abril, activistas e palestinianos comuns têm organizado protestos diárias em apoio às seis famílias que podem estar prestes a ser alvo de expulsão forçada das suas casas neste bairro, onde vivem desde os anos 1950. A ONU avisou Israel na sexta-feira que estas expulsões podem ser consideras “crimes de guerra” – Jerusalém Oriental, que Israel anexou, é território palestiniano ocupado e ali devia aplicar-se a lei internacional e não a justiça israelita.

Apesar disso, associações de colonos judeus têm conseguido que tribunais decidam a expulsão de famílias palestinianas que ali vivem há gerações, com colonos à espera para ocupar as suas casas. Após o recurso apresentando pelos residentes, na segunda-feira o Supremo Tribunal Israelita vai anunciar a decisão final sobre o despejo de um primeiro grupo de seis famílias – outras terão de sair no início de Agosto.

“Se não apoiamos este grupo de pessoas, [as expulsões] chegarão à minha casa, à casa dela, à casa dele e a todos os palestinianos que aqui vivem”, disse o manifestante Bashar Mahmoud, de 23 anos, do bairro vizinho de Issawiya, citado pela agência Reuters.

Vários habitantes de Sheikh Jarrah têm divulgado vídeos e fotografias onde se vêem colonos armados a circular perto das suas casas. Na quinta-feira à noite a polícia impediu o acesso de palestinianos que queriam manifestar-se no bairro: em vez disso, montaram uma mesa na rua para um quebrar de jejum colectivo, sendo provocados por judeus ultra-ortodoxos, incluindo com sprays de gás pimenta. Seguiram-se confrontos, com o envolvimento das forças israelitas.

Se a noite de sexta-feira foi de violência e caos, teme-se o que pode acontecer nas próximas, e não é apenas por causa da decisão judicial de segunda-feira.

De sexta para sábado, celebra-se a chamada Noite do Destino (Laylat al-Qadr), a mais sagrado do Ramadão, quando os fiéis voltarão a juntar-se para orações no complexo da Mesquita Al-Aqsa. E no domingo começa o Dia de Jerusalém (que se comemora até à noite de segunda-feira), um feriado nacional em que Israel celebra a anexação de Jerusalém Oriental judeus nacionalistas organizam paradas na cidade.

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