Portugal faz 80 testes por infectado — um “bom sinal” no controlo da pandemia

Incidência da covid-19 em Portugal continua a diminuir, mas reforço do número de testes é já notório, com os que foram realizados a aumentar. Significa isto que o país está a conseguir “controlar a situação e a detectar precocemente os infectados”.

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Paulo Pimenta

A incidência da covid-19 em Portugal continua a diminuir, ao passo que os rastreios têm vindo a aumentar ao longo dos últimos dias. O reforço do número de testes, que deverá acompanhar o desconfinamento, é já visível nos dados e “começou-se a notar esta semana”, altura em que foi registada uma “subida abrupta no número de testes realizados, em termos médios”, explica ao PÚBLICO o matemático Carlos Antunes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

Em média, estão a ser actualmente realizados cerca de 38.000 testes por dia à covid-19 e a 8 de Março este valor rondava os 22 mil. Este indicador atingiu um pico em Janeiro devido ao elevado número de casos registados nessa altura. Em Fevereiro, observou-se uma redução do número de testes devido ao confinamento e a uma diminuição dos contactos sociais. Agora, o número de testes voltou a subir, em resultado dos rastreios efectuados durante a reabertura de algumas actividades, nomeadamente das escolas do 1.º ciclo e pré-escolar, numa altura em que a incidência continua a diminuir.

É este “um bom sinal” que mostra que o país está a conseguir “controlar a situação e a ter capacidade de detectar precocemente os infectados e isolá-los”, explica Carlos Antunes. [Os testes são] a arma que temos e a alternativa ao confinamento”, insiste.

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Portugal faz 80 testes por infectado — valor de referência é 50

Ao mesmo tempo, a taxa de positividade — ou seja, a percentagem de positivos entre o total de testes realizados — mantém-se abaixo de 2%. À data de 22 de Março, segundo os cálculos de Carlos Antunes, a positividade média a sete dias estava em 1,3%, enquanto a 16 de Março estava em 2,2%.

“Estamos já a fazer cerca de 80 testes por cada infectado. Sempre que o número de testes por infectado for superior a 50 temos uma positividade abaixo de 2%”, explica.

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Na reunião desta terça-feira no Infarmed, André Peralta Santos, da DGS, destacou que os dados mostram já “uma intensidade de testagem bastante considerável, dispersa por todo o território nacional, e uma positividade acima de 4% — o valor de referência — só nalguns concelhos”. Isso levou o especialista a concluir: “Em princípio, não temos doença desconhecida na comunidade.”

Abordagem aos testes em Portugal: de “reactiva” a “proactiva”

Carlos Antunes faz notar que Portugal passou de uma abordagem “reactiva” em termos de testes para uma abordagem “proactiva”. “Apesar de a incidência estar a diminuir, nós aumentamos a testagem. Actuamos no sentido contrário e é exactamente esta actuação que permite o controlo epidemiológico”, destaca.

Já Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), realça ao PÚBLICO: [O objectivo é que] a testagem permita identificar casos de forma mais precoce para que consigamos interromper as cadeias de transmissão.” “A identificação de casos depois tem que ter uma repercussão na nossa intervenção e, nesse sentido, é também fundamental que a capacidade do ponto de vista da vigilância epidemiológica esteja assegurada”, acrescenta.

Testes rápidos para detectar surtos e assintomáticos

O reforço do número de testes tem passado pela realização de testes de antigénio que, segundo Carlos Antunes, permitem fazer um primeiro despiste da infecção. Embora tenham uma menor sensibilidade e especificidade, “é uma forma rápida de detectar surtos” e outras situações que não seriam detectáveis, como, por exemplo, os assintomáticos.

Carlos Antunes explica que a positividade é normalmente menor, quando analisamos apenas os resultados dos testes rápidos e dá o exemplo dos testes feitos nas escolas, em que a taxa de positividade foi de 0,1%. “É muito baixa, mas o objectivo é conseguir uma melhor monitorização da situação e detectar os positivos nas actividades em que existe maior número de contactos”, diz, sublinhando que este é apenas um indicador e “não pode ser analisado isoladamente”.

Ricardo Mexia, tal como Carlos Antunes, defende a complementaridade entre os vários testes. “Cada um tem características que se adequam a diversos contextos”, diz o médico de saúde pública. “Para fazermos a monitorização da evolução precisamos de usar testes PCR, porque são esses que nos permitem fazer a sequenciação do genoma e identificar eventuais variantes”, salienta.

Testes maciços alargados a outros sectores

Os rastreios deverão ser alargados à medida que mais sectores vão desconfinando. Segundo anunciou Ricardo Mexia, na reunião de terça-feira, está a ser elaborada uma estratégia de amplificação dos testes a outras áreas, entre os trabalhadores sazonais, os sem-abrigo e os migrantes, bem como outras populações vulneráveis.

“O objectivo é a promoção da testagem maciça e sistemática da população, mas pretende-se que essa testagem seja feita com base em critérios objectivos, claros e adequados ao contexto”, adiantou, destacando que o modelo deverá envolver as autarquias, o sector social, assim como as farmácias e outros sectores.

Ao PÚBLICO Ricardo Mexia afirma que é muito importante que o alargamento do número dos testes se possa implementar o mais depressa possível nos diversos contextos”. Admite que, uma vez que a incidência está a aumentar mais entre os que têm entre 20 e 30 anos, poderá fazer sentido alargar os rastreios às universidades quando forem retomadas as aulas presenciais.

A expectativa é que este plano permita “manter o nível de testagem elevado”, conclui Carlos Antunes, destacando também a importância dos testes aos contactos de risco. “Se isso for aplicado na íntegra e em todas as regiões, supostamente vamos manter uma monitorização mais eficiente.”

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