Covid-19: Proibição de carne nas escolas de Lyon é recebida com protestos

A medida, imposta para prevenir contágios, entrou em vigor na segunda-feira e durará até à Páscoa. Pais, políticos e agricultores criticam a decisão, defendendo que esta “ideologia” está a pôr em causa a saúde das crianças.

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Lyon é considerada a capital da gastronomia em França Robert Pratta/REUTERS

Desde segunda-feira que as cerca de 200 escolas de Lyon, em França, estão proibidas de incluir carne nas cantinas. A decisão do prefeito de Lyon, Grégory Doucet, do partido ecologista Os Verdes, está a levantar uma onda de críticas entre pais, políticos e agricultores.

A medida surge como precaução para evitar os aglomerados durante as refeições escolares agora em tempos de pandemia, segundo Doucet, sendo que estará em vigor até à Páscoa. Além de ser uma medida de curto prazo, o presidente da câmara garante igualmente que as refeições continuam “equilibradas para todos os nossos alunos”, com “proteína animal, ora peixe ora ovos”, disse ao canal de televisão France 24.

Se com esta decisão Grégory Doucet pretende prevenir a propagação do vírus, a opinião pública não o acompanha na decisão. Já no domingo, o ministro da Agricultura e da Alimentação, Julien Denormandie, manifestou-se à rádio francesa contra a medida, referindo que “é um absurdo sob o ponto de vista nutricional e um escândalo sob o ponto de vista social”, citado pelo The Guardian.

Também se manifestou no Twitter, acusando Doucet de estar a “pôr ideologias nos pratos das crianças” e acrescentando que o melhor para as crianças é dar-lhes o que “precisam para crescer saudáveis”, do qual “faz parte a carne”.

A cidade de Lyon é conhecida como a “capital da gastronomia francesa”, sendo a charcutaria local umas das principais atracções. Como tal, diversos agricultores e talhantes, que se fizeram acompanhar dos seus tractores e gado, foram para as ruas na segunda-feira protestar contra a decisão implementada. Entre as frases nos placares liam-se “Carne dos nossos campos = uma criança saudável” ou “Suspender a carne é uma garantia de fraqueza contra vírus futuros”.

Apoiando essa perspectiva, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, contestou a decisão, caracterizando-a no Twitter como “um insulto inaceitável aos agricultores e talhantes da França”.

A Câmara Municipal de Lyon vê a medida como uma restrição adicional que visa reforçar o combate contra a covid-19, uma vez que não seria fácil “servir quase 30.000 crianças num período de duas horas” e manter simultaneamente o distanciamento social, se a oferta incluir tanto “pratos de carne como vegetarianos”.

Grégory Doucet faz parte da nova vaga de ecologistas que chegou ao poder em França nas últimas eleições municipais do Verão passado. Desde então tem havido um apelo mais resistente à consciência ambiental. Doucet até já demonstrou cepticismo relativamente a acontecimentos desportivos tradicionais no país, como a Volta a França em bicicleta, por exemplo, a que classificou de “machão e poluente”.

Para Doucet, citado pela AFP, “já não é aceitável” realizar provas desportivas cuja “primeira prioridade não é prestar atenção à pegada ecológica”.

A quem o critica pela decisão de retirar a carne das cantinas como ideológica e de estar impingir o vegetarianismo às crianças, Doucet diz que ele próprio consome carne e que o seu antecessor, Gérard Collomb, do Partido Socialista, procedeu de igual forma quando as escolas reabriram após o confinamento de Março.

Texto editado por António Rodrigues

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