Mobilidade do futuro deve “acontecer naturalmente”

Conclusões do congresso sobre transportes diz que a transição energética deverá ser feita através de soluções disponibilizadas pelo mercado, sem proibições de comercializar veículos com motores de combustão.

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Diogo Ventura

Num evento que tinha por mote a mobilidade sustentável, o congresso da Adfersit - Associação Para a Defesa dos Sistemas Integrados de Transportes evidenciou nas suas conclusões que “o transporte de longa distância a nível europeu deverá processar-se através da ferrovia e as frotas de autocarros de mercadorias e passageiros deverão ser progressivamente renovadas, com recurso ao hidrogénio e a combustíveis de baixo teor de carbono, como os biocombustíveis ou combustíveis sintéticos”.

Mas esta transição energética não deverá ser imposta. Os congressistas entendem que “deverá acontecer naturalmente, através das soluções disponibilizadas pelo mercado” e sem que se proíba a venda de veículos a gasóleo ou gasolina.

O documento com as conclusões diz que o futuro aponta para mobilidade através de veículos eléctricos com recurso a baterias ou pilhas de combustível e que “a electrificação da ferrovia é também um factor essencial” para se atingir a neutralidade carbónica.

Esse objectivo é ambicioso: o sector dos transportes é responsável por um quarto das emissões de gases com efeito de estufa na UE, o que significa uma travagem a fundo no modo como se transportam hoje as pessoas e as mercadorias, dado que será necessária uma redução de 90% das emissões até 2050.

Com o poder político a anunciar vultuosos investimentos públicos em infra-estruturas, sobretudo ferroviárias, para promover uma mobilidade mais sustentável, os responsáveis pela indústria nacional estão apreensivos com a fatia do bolo que lhes poderá caber nos projectos do PNI 2030. As conclusões reflectem que o Estado terá que “reforçar os seus meios e capacidades por forma a que seja possível lançar empreitadas de valor menos elevado ao que tradicionalmente tem sido feito” porque as empreitadas de grande dimensão inviabilizam a ida a concurso da maioria das empresas e gabinetes de projecto portuguesas.

Ainda com o PNI2030 como pano de fundo, o documento defende também a revisão do Código da Contratação Pública “que não cria um ecossistema favorável à participação nacional, face ao ainda pouco ‘músculo’ do nosso tecido empresarial que resultou do período ‘pós-troika’”.

Realizado num momento de crise devido à pandemia – o que levou a organização a cancelar a participação presencial que estava prevista para a Gulbenkian – o 14º congresso da Adfersit foi dos poucos em que não houve lamentos devido à falta de investimentos previstos.

Entre o PNI2030 e o Plano de Resiliência e Recuperação há milhões de euros para investir nos transportes. Os projectos e as prioridades são relativamente consensuais, embora se tivessem notado as habituais divergências em torno da bitola ferroviária.

No sector aéreo falou-se novamente em repensar as infra-estruturas aeroportuárias antes de se avançar para o Montijo, mas há acordo em que deve haver “integração das infra-estruturas aeroportuários nacionais na futura rede de alta velocidade”.

O evento caracterizou-se pela ausência das duas principais maiores empresas públicas do sector dos transportes. A CP só esteve representada num painel pelo seu vice-presidente, Pedro Moreira, mas a IP não contou com a participação de nenhum dos seus responsáveis.

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