Negada fiança a Ghislaine Maxwell, acusada de atrair menores para serem abusadas por Epstein

O pedido de fiança de cinco milhões de dólares foi negado devido ao alto risco de fuga da alegada cúmplice de Epstein. Maxwell é acusada de seis crimes, quatro dos quais envolvem o transporte de menores para abuso sexual.

Foto
Ghislaine Maxwell é acusada de seis crimes Reuters/Lucas Jackson

Uma juíza dos Estados Unidos negou a fiança a Ghislaine Maxwell, esta terça-feira. Embora se tenha declarado inocente durante uma audiência em que duas mulheres apontaram as suas acções como “odiosas", a companheira de longa data de Jeffrey Epstein é acusada de atrair jovens raparigas para serem abusadas sexualmente pelo falecido financeiro.

A juíza distrital em Manhattan Alison Nathan rejeitou o pedido de fiança de Maxwell, concordando com o elevado risco de fuga da socialite britânica salientado pelos procuradores. Na audiência que durou mais de duas horas, a juíza fez notar que Maxwell “demonstrou sofisticação ao esconder os seus próprios recursos e a si mesma”, durante o ano que se seguiu à morte de Epstein.

Maxwell, de 58 anos, é acusada pelos procuradores de ajudar Epstein a recrutar e eventualmente abusar de raparigas com idades a começar nos 14 anos, entre os anos de 1994 e 1997. A socialite também é acusada de ter mentido durante os depoimentos em 2016. O julgamento está marcado para 12 de Julho do próximo ano.

Detida desde 6 de Julho na prisão de Brooklyn, Maxwell apareceu num vídeo com o cabelo apanhado, cansada, com uma t-shirt castanha e óculos. Maxwell foi detida a 2 de Julho, acusada de seis crimes. Quatro deles estão relacionados com o transporte de menores para realizar actos sexuais ilegais e dois de perjúrio. A juíza Nathan aponta as provas contra Maxwell como “fortes” — caso seja condenada, a cúmplice de Epstein pode enfrentar até 35 anos de prisão.

Durante a audiência, foram apresentadas declarações de duas mulheres que acusam Maxwell de permitir que fossem abusadas sexualmente. Uma delas, Annie Farmer, afirmou que Maxwell “nunca mostrou qualquer remorso pelos seus crimes hediondos” e que “Maxwell apresenta um perigo que tem de ser levado a sério”. “Ela é uma predadora sexual que abusou de mim e de diversas crianças e jovens mulheres”, acusou Farmer.

Numa declaração lida pela procuradora federal Alison Moe, uma segunda mulher não identificada confirmou que “sem Ghislaine Epstein não tinha conseguido fazer o que fez”. A mulher, que conhece Maxwell há mais de dez anos, revelou sentir-se ainda ameaçada, acrescentando que “se ela sair, preciso de ser protegida”.

Os procuradores acusaram Maxwell de atrair raparigas e normalizar o abuso ao perguntar-lhes sobre as suas vidas, escola, família, enquanto as levava às compras ou ao cinema — o que “antecedia” o abuso de Epstein.

Fora do radar

Os advogados de Maxwell procuraram que fosse aprovada uma fiança de cinco milhões de dólares (4.400 milhões de euros) e prisão domiciliária com monitorização electrónica. 

“Nenhuma combinação de condições consegue razoavelmente assegurar a sua presença em tribunal”, disse a juíza, que ordenou o confinamento continuado. “A arguida tem a capacidade de viver escondida. É boa nisso”, reforçou Moe ao argumentar contra a fiança. 

Maxwell demonstrou que pode “viver indefinidamente fora do radar”, continuou Moe, relembrando que levou um ano a encontrar a socialite que fugiu depois da morte de Epstein. Os promotores apontaram a sua riqueza e múltiplas cidadanias — americana, francesa e britânica — como riscos que tornavam a detenção necessária.

Antiga namorada e colaboradora de longa data de Epstein, Maxwell foi detida em Bradford, New Hampshire, onde as autoridades disseram que esteve escondida. A propriedade foi adquirida em Dezembro do ano passado, através de uma transacção totalmente em dinheiro e que protegia a sua identidade. 

“Inocente, excelentíssima”, declarou-se Maxwell depois de a juíza ter pedido a sua confissão.

Ao pedir a fiança, o advogado de defesa Mark Cohen argumentou que Maxwell não apresentava um risco de fuga e que não tinha tentado escapar à detenção. Cohen acrescentou que a companheira de Epstein não estava a “fugir de casa, nem a procurar nenhum túnel secreto”.

O advogado fez ver as condições em que Maxwell estava a ser mantida — numa sala, com as luzes sempre acesas — e que já tinha estado sem poder tomar banho durante 72 horas. Cohen também apontou o risco de Maxwell contrair a covid-19, na prisão.

Em Julho do ano passado, Epstein foi acusado de explorar sexualmente dezenas de raparigas e mulheres desde 2002 até 2005 nas suas residências em Manhattan e Palm Beach, na Florida. Enforcou-se a 10 de Agosto, aos 66 anos, numa prisão em Manhattan. O financeiro tinha ligações a várias figuras poderosas, incluindo o Presidente Donald Trump, o antigo Presidente Bill Clinton e o príncipe André da Grã-Bretanha.

Sugerir correcção