É chinês e dissidente o artista mais popular do mundo, diz-nos a lista das exposições mais vistas de 2019

Museus continuaram a bater recordes no ano passado, embora alguns tenham já registado quebras. No mundo pós-covid-19, talvez nunca mais vejamos uma lista assim.

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Ai Weiwei é um artista e activista LUSA/SEBASTIAO MOREIRA

Em cenário de pandemia, e com os níveis de 2020 previsivelmente mais baixos do que os do ano anterior, a pergunta impõe-se: Terá sido 2019 o último ano de crescimento dos números de visitantes dos museus?

Ainda é muito cedo para dar uma resposta ou tirar conclusões, mas o prolongar das medidas de isolamento social um pouco por todo o mundo, a falência confirmada de algumas exposições que se anunciavam como potenciais blockbusters nos últimos anos e a necessária reflexão que terá de se fazer sobre a programação dos museus e a circulação de obras de arte no pós-surto de covid-19, uma pandemia com consequências ainda imprevisíveis mas certamente inéditas, deixam directores de museus, curadores e promotores culturais naturalmente inquietos em relação ao futuro. Mesmo quando a lista das exposições mais vistas do ano que acaba de ser divulgada pela publicação especializada The Art Newspaper confirma que há artistas que ainda arrastam multidões e museus que são verdadeiros ímans de pessoas.

Ai Weiwei, que se apresentou pela primeira vez no Brasil numa exposição itinerante que começou em São Paulo, passou por Belo Horizonte e Curitiba, e terminou a viagem no Rio de Janeiro, é, de acordo com os dados agora avançados, o protagonista da exposição mais vista de um artista a título individual.

Esta mostra, que inclui as suas esculturas feitas a partir das raízes de uma árvore protegida da floresta atlântica brasileira, a pequi-vinagreiro, foi vista por mais de 1,1 milhões de pessoas no total dos quatro locais e terá registado tão grande afluência, avança como hipótese o Art Newspaper, porque, quando estava no Centro Cultural do Banco do Brasil no Rio (onde teve 600 mil visitantes), coincidiu com os grandes fogos na Amazónia, que comoveram o mundo e colocaram a tónica na protecção do meio ambiente

A do artista dissidente chinês ocupa a terceira posição na lista das exposições mais vistas, um ranking a que esta publicação especializada chega através da análise da frequência diária (não se podem comparar números absolutos porque as exposições têm, naturalmente, durações diferentes). Nos dois primeiros lugares está outra mostra do Centro Cultural do Banco do Brasil (são sempre gratuitas, note-se), no Rio e em Belo Horizonte, dedicada aos bastidores de algumas das maiores criações dos estúdios de animação DreamWorks, com storyboards, desenhos e maquetes de filmes como Shrek ou O Panda do Kung Fu. Esta exposição de animação teve no Rio mais de 11 mil visitantes diários e em Belo Horizonte quase 9300, seguida bem de perto pela de Ai Weiwei, com 9172. 

Arqueologia no top 10

Mas como nem só de animação e arte contemporânea se faz a lista do Art Newspaper, nos lugares cimeiros estão também Munch: A Retrospective (8931 visitantes) e Gustav Klimt: Vienna, Japan 1900 (7808), ambas do Metropolitan Museum de Tóquio. 

Na lista das dez mais vistas, há lugar ainda para a arqueologia — o blockbuster Tutankhamun: Treasures of the Golden Pharaoh, em La Villette, Paris (7808) — para a pintura e o desenho de Jean-Michel Basquiat e Egon Schiele (Fundação Louis Vuitton, Paris, 7026) ou para a fotografia da norte-americana Diane Arbus (Smithsonian Institution, Washington, 6188 visitantes por dia). 

Com 1,1 milhões de visitantes (quase 9800 visitantes/dia), a extraordinária exposição de Leonardo da Vinci no Museu do Louvre, em Paris, ponto alto do programa internacional que marcou os 500 anos da morte deste que é um dos grandes mestres do Renascimento, só contará para a lista das mais vistas de 2020, já que começou no Outono de 2019 mas só terminou em Fevereiro deste ano.

O Louvre, aliás, voltou a encimar o ranking dos dez museus mais visitados do mundo, com 9,6 milhões de entradas, um número que, apesar de tudo, denuncia uma quebra de 600 mil face a 2018, tendência comum a outros museus de Paris (à excepção do D’Orsay).

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charles platiau/ reuters

4 mil visitantes por dia

Com 7,3 milhões de visitantes, o Museu Nacional da China, em Pequim, e com 6,8 os Museus do Vaticano, em Itália, ocupam a segunda e a terceira posições respectivamente, seguidos do Metropolitan Museum de Nova Iorque (6,4) e de três instituições londrinas: o British Museum (6,2 milhões), a Tate Modern (cerca de 6 milhões, mais 230 mil do que no ano passado) e a National Gallery (6). Abaixo dos cinco milhões de visitantes ano estão os três últimos museus do top 10: o Hermitage de São Petersburgo, Rússia (4,9); o Centro  de Arte Reina Sofia, em Madrid, Espanha (4,4); e a National Gallery de Washington, Estados Unidos (4 milhões). 

Fora desta lista mas com números surpreendentes estão o Kunsthistorisches de Viena, Áustria, que mais do que duplicou o número de visitantes, que em 2019 foram 1,8 milhões, graças à exposição que dedicou a Bruegel nos 450 anos da sua morte (vista por mais de 400 mil pessoas, cerca de 4000/dia). 

Com os mesmos 4000 visitantes diários, a exposição com que o Rijksmuseum, o Museu Nacional da Holanda, assinalou os 350 anos da morte de Rembrandt (All the Rembrandts), contribuiu para um ano recorde neste museu de Amesterdão, que teve 2,7 milhões de entradas.

O Prado, em Madrid, registou uma quebra de 175 mil visitantes no ano em que festejava o seu 200.º aniversário, ficando-se pelos 3,5 milhões.

O Art Newspaper faz saber, no entanto, que alguns museus asiáticos e italianos não participaram este ano da lista porque não comunicaram os seus dados por estarem já encerrados devido à pandemia. 

O encerramento de museus e centros de exposições em todo o mundo devido ao surto de Covid-19 irá influenciar muitíssimo este ranking que é publicado há mais de 20 anos. E, em jeito de aviso à navegação, este jornal especializado garante: os números de 2020 vão ter em conta os esforços que os museus fizeram em visitas e outras actividades virtuais. 

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