Na segunda-feira, o Rijksmuseum vai ter um Rembrandt numa caixa de vidro com sete metros quadrados

Dia zero para o complexo projecto de restauro de A Ronda da Noite, a mais ambiciosa das obras do mestre holandês. Dez meses de pesquisa antecedem a intervenção. E todos nós vamos poder ver os técnicos a trabalharem.

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A Ronda da Noite é vista anualmente por dois milhões de pessoas Reuters/MICHAEL KOOREN

O nome escolhido para o processo de investigação e restauro de uma das mais famosas pinturas de Rembrandt, que agora começa no Rijksmuseum, em Amesterdão, parece saído de um filme de espiões ou de guerra – Operação Ronda da Noite. Taco Dibbits, o director do Museu Nacional da Holanda, justifica-o dizendo que o planeamento que envolve a intervenção nesta obra de um dos maiores pintores do século XVII se equipara, em termos de tempo de preparação e complexidade, a uma verdadeira operação militar.

A partir de segunda-feira, A Ronda da Noite, pintura executada em 1642 pelo mestre do século de ouro holandês que desde 1885 ocupa o “altar” do museu (o topo daquilo a que no Rijksmuseum se chama a Galeria de Honra), vai ser estudada e restaurada à vista do público – o que estiver de visita e o que quiser acompanhar online, no site do Rijksmuseum (a intervenção vai ser transmitida em streaming). Na galeria do museu será construída uma caixa de vidro de sete metros quadrados onde trabalharão 12 técnicos de várias especialidades.

De acordo com um comunicado do museu, a primeira fase dos trabalhos será dedicada à recolha de informação e deverá demorar dez meses. No fim desse período, e depois de terem recorrido às mais modernas tecnologias de captação de imagem e de tratamento de dados por elas reunidos, os especialistas estarão em condições de dizer se, como previsto, Rembrandt (1606-1669) fez um desenho preparatório de grandes dimensões, ocupando toda a tela, e de analisar as alterações que o artista introduziu quando passou à pintura, à superfície que é hoje visível.

“O que faremos ao longo dos próximos dez meses é mapear [A Ronda da Noite] camada por camada e pigmento a pigmento”, disse o director ao diário britânico The Guardian. “Só depois faremos planos para o restauro.”

É o mesmo Taco Dibbits que garante, num vídeo do Rijksmuseum, que este será “o maior projecto de conservação e restauro envolvendo uma obra pertencente a uma colecção pública alguma vez feito”. Uma audácia para fazer concorrência à do próprio Rembrandt, nas palavras deste director que é também historiador de arte: “Esta é a obra mais ambiciosa de Rembrandt. (…) Nela [o artista] faz o que ninguém tinha ainda feito — encomendam-lhe um retrato de grupo e ele pinta uma história, uma cena em que há muita coisa a acontecer.”

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