A crise económica na fase de mitigação

A batalha pela economia chegou à fase da mitigação e tudo o que todos puderem fazer vai ser pouco para a ganhar

Rui Rio deixou no ar esta quarta-feira um aviso tão brutal como verdadeiro: “Quanto melhor para a saúde, pior para a economia. E isso é dramático para equilibrar”, disse o líder do PSD. A resposta positiva dos portugueses aos conselhos das autoridades sanitárias pode estar a ter um reflexo positivo na contenção da propagação do vírus, mas essa mobilização crucial para a saúde pública vai deixar feridas tão profundas na economia que até os avisos pessimistas do Banco de Portugal parecem esperançosos. Sejamos realistas: o país parado em autodefesa do essencial (as vidas e a saúde), a queda da actividade na Europa abaixo do golpe da crise de 2009 ou a ausência de certezas sobre o fim do pesadelo fazem com que uma queda do produto de 5.7% e um aumento do desemprego para 11.7% sejam notícias animadoras.

Para lá chegarmos, precisamos de acreditar que as ajudas do orçamento e da União Europeia, ou as medidas aprovadas pelo Banco Central Europeu serão suficientes para garantir a respiração assistida ao tecido produtivo e conservar ao máximo postos de trabalho. A cada dia que passa, o Governo vai-se apercebendo da degradação da situação e procura responder com as armas de que dispõe. O desafio é imenso. Há sérias dúvidas sobre se os nove mil milhões de euros de empréstimos às empresas serão suficientes para mobilizar patrões obrigados a parar a produção por tempo indeterminado. Avolumam-se os receios sobre se o reforço da compra de dívida pública por parte do BCE ou o acesso a quatro mil milhões do mecanismo de estabilização financeira da UE chegam para garantir o nervo financeiro do estado. Basta ler os sinais desta semana para admitir que a pandemia vai “dividir-nos definitivamente em ricos e pobres”, como receia Ursula Von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia e só por milagre haverá eurobonds.

Ainda vamos discutir muito sobre se o Governo faz o que pode ou o que deve, embora esta quinta-feira nos tenha chegado um sinal positivo: ao conceder apoio para o layoff automaticamente, dispensando de aplicar a proverbial desconfiança burocrática do estado a empresas aflitas, o Governo deu sinais de estar disposto a pensar e agir fora da caixa. Mas nem só com muito dinheiro novo ou com soluções flexíveis se inventará uma solução para as ameaças à economia. Se o estado pagasse já os quatro ou cinco mil milhões de euros aos fornecedores, como recomenda o PSD, já seria uma boa ajuda. A batalha pela economia chegou à fase da mitigação e tudo o que todos puderem fazer vai ser pouco para a ganhar.   

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