Portugal foi o terceiro país que mais horas de ficção produziu para TV em toda a União Europeia

Lugar no pódio deve-se às telenovelas. Quando se fala de séries ou filmes, Portugal desaparece do top 10 do Observatório Europeu do Audiovisual relativo a 2018. Alemanha é o país líder em toda linha. Reino Unido produz mais séries curtas.

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Filmagens da novela Dei-te quase tudo (2007), da TVI, em Porto Alto e com a actriz Fernanda Serrano ENRIC VIVES-RUBIO

Muita produção audiovisual está em suspenso nestas semanas de pandemia na Europa, mas em 2018 produziram-se cerca de mil séries, filmes e novelas europeias. Portugal é um dos líderes do sector, diz o mais recente estudo do Observatório Europeu do Audiovisual, sendo o terceiro país que mais horas de ficção televisiva produz em toda a Europa – um lugar no pódio que fica a dever-se ao filão das telenovelas. Quando se fala de séries ou filmes, porém, Portugal desaparece do top 10. O país que mais produz, em todos os formatos e em número de horas, é a Alemanha.

A cada ano, diz o relatório, são produzidos cerca de mil títulos e 13.500 horas de ficção televisiva na União Europeia (UE). Entre 2016 e 2018, o último ano a que se reportam os dados do Observatório, foi a aposta nas séries a principal responsável pelo crescimento do volume de produção. O reverso da medalha é que o número de telefilmes produzidos caiu significativamente: representam agora 36% dos títulos. A Alemanha, o país líder em toda a linha audiovisual, ilustra bem essa tendência: apesar de apostar sobretudo em telefilmes, produziu menos telefilmes e mais séries, com temporadas até um máximo de 13 episódios.

No conjunto europeu, mais de metade da produção em 2018 foi de séries com dois a 13 episódios por temporada (destas, 50% das temporadas produzidas são de séries já existentes, ou seja trabalhos de continuidade). As telenovelas, por sua vez, são apenas 9% da produção mas representam 61% das horas produzidas, mostrando-se particularmente pujantes em Espanha, Portugal, Polónia, Grécia e Hungria.

As novelas catapultam países com populações mais diminutas ou capacidade reduzida de penetração noutros mercados para os lugares cimeiros das listas do Observatório  sobretudo pela quantidade de episódios e horas que representam. É o caso de Portugal, só suplantado pela Alemanha e pela Espanha em número médio de horas produzidas entre 2015 e 2018, com 1225 horas de produção. Só em 2018, geraram-se 1275 horas de ficção portuguesa, sendo que as horas de séries representam menos de 5% desse bolo, ocupado quase exclusivamente por ficção com muitos episódios.

Na UE, há uma tendência clara: os serviços privados de televisão são os principais incentivadores das novelas e as séries são mais encomendadas pelas estações públicas. A fatia de operadores de vídeo on demand (no fundo, plataformas de streaming) que está a produzir séries era ainda, em 2018, de apenas 5%, mas o número está a crescer.

As telenovelas, algumas das quais premiadas internacionalmente, serão a única indústria audiovisual digna desse nome em Portugal numa altura em que a produção de ficção televisiva europeia está em plena luta para aumentar o seu mercado e a sua circulação e para se afirmar nas novas plataformas de distribuição, ao mesmo tempo que tenta combater a omnipresente produção dos EUA.

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Beatriz Batarda na série Sara, de 2018 DR

Portugal estava a posicionar-se num outro mercado, o das séries, com o seu primeiro evento internacional dedicado ao sector previsto para Abril, mas o novo coronavírus obrigou a adiar para Setembro a estreia dessa montra chamada ONSeries Lisboa. Foi o emergir de uma produção regular de séries, centrada na RTP, que suscitou o interesse europeu, mas esse segmento ainda mal se vê no espelho que o novo relatório do Observatório ergueu frente ao rosto do sector europeu.

Os grandes produtores europeus de séries são Reino Unido, França, Itália e Holanda. O Reino Unido é o país que mais séries de curta duração produz, o que reflecte a tradição britânica de séries compactas. Que, por seu turno, cada vez mais os canais premium e os serviços de streaming emulam  é para eles um formato rentável e expedito nestes tempos de produção febril para alimentar tantas novas plataformas e canais. No Reino Unido, “a produção de séries está a aumentar, tal como em Espanha, Polónia e Finlândia”, lê-se no documento do organismo europeu. Em 2018, os britânicos foram responsáveis por 549 horas de séries.

Na ficção europeia trabalharam cerca de 8600 argumentistas e 3600 realizadores entre 2015 e 2018, indica ainda o levantamento, e as co-produções são ainda em número “relativamente baixo mas em crescimento”, representando 13% de toda a ficção feita na UE. 

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