Portugal vai ter o seu primeiro evento internacional para o mercado das séries

Chama-se ONSeries e reúne os produtores e exibidores portugueses com compradores, operadores de streaming e co-produtores em Abril no CCB. Co-produções com Navarra, em Espanha, são um dos focos.

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Rita Blanco em Conta-me Como Foi em 2008 Enric Vives-Rubio

ONSeries é o nome do primeiro evento que terá lugar em Portugal para mostrar novas séries e projectos emergentes de audiovisual portugueses a operadores, financiadores e imprensa de todo o mundo. “Vai ser um momento de contacto entre quem produz, quem exibe, quem financia”, diz José Fragoso, o director de programas da RTP1, uma das entidades que, a par do Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) ou da Portugal Film Commission, apoia esta iniciativa da espanhola Inside Content. A 28 e 29 de Abril, o Centro Cultural de Belém, em Lisboa, acolhe o evento.

O encontro, divulgado esta semana pela organização, responsável por uma plataforma semelhante em Espanha - a Conecta Fiction -, define-se como “uma montra para as séries televisivas à procura de comercialização e distribuição internacional”. Quer também ser uma “plataforma para a co-produção”, um dos principais focos do actual discurso sobre financiamento da indústria do audiovisual português e em particular para o mercado das séries.

O ONSeries Lisboa promete em comunicado trazer à capital portuguesa “um grupo seleccionado de compradores, operadores de streaming, co-produtores e imprensa de todo o mundo” para “descobrir uma selecção de novas séries de televisão portuguesas”. E acrescenta: “Os produtores independentes portugueses e os executivos das principais estações de televisão apresentam em primeira mão tudo o que a ficção portuguesa pode oferecer ao mercado internacional”.

Em Portugal há muito se fala de uma indústria de novelas na televisão, mas as séries terão ainda apenas um mercado em crescimento – nas últimas duas décadas, foi o formato telenovela que mais ocupou a produção de ficção televisiva, tendo-se desenhado movimentos semelhantes com o formato série nos últimos 20/30 anos, com marcos como Conta-me Como Foi na RTP, antes disso Médico de Família na SIC ou também Equador na TVI. Os canais generalistas privados enveredaram sobretudo pela produção de novelas, uma ficção episódica de longa duração cujo cunho é já premiado internacionalmente.

Com o passar dos anos, foi na RTP e sobretudo há pouco mais de uma década que a exibição de séries made in Portugal encontrou o principal palco, com a encomenda e exibição de uma nova vaga de títulos que atravessa direcções de programas. “Para a ficção portuguesa é importante haver um evento com foco nas séries, porque existem já um pouco pela Europa toda”, disse esta sexta-feira ao PÚBLICO José Fragoso. As co-produções são uma das formas de as séries portuguesas darem o salto para se tornarem mais competitivas, precisou o director de programas da RTP1 nas filmagens de um novo título, Atentado, sobre a tentativa de homicídio de Oliveira Salazar em 1937, realizada por Jorge Paixão da Costa e escrita por Francisco Moita Flores.

No ONSeries, “vai haver espaço para apresentar projectos, para encontrar soluções para financiamento”, frisou, fazendo eco das palavras de Géraldine Gonard, directora do ONSeries Lisboa, citada no mesmo comunicado enviado à imprensa. “Este showcase desempenha um papel vital para fazer de Portugal uma opção viável para muitos atores da indústria internacional”, diz a também responsável pelo Conecta, com base na província de Navarra. “Pensamos que esta é a melhor maneira de viabilizar uma co-produção e, certamente, atrair investimento estrangeiro”, diz, detalhando que o objectivo é “também estreitar laços entre os produtores de Portugal e de Navarra. Este é o momento de realizar o primeiro programa de intercâmbio de projectos entre Portugal e Navarra”.

O ONSeries tem o alto patrocínio do Ministério da Cultura e da Câmara Municipal de Lisboa, além do apoio da Associação de Produtores Independentes de Televisão (APIT) ou da Associação para a Gestão Colectiva de Direitos de Autor e de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (Gedipe). Luís Chaby Vaz, presidente do ICA, insere o seu apoio e o da Film Commission nacional no “plano de internacionalização do cinema e audiovisual português” e elogia a possibilidade de encontro dos players portugueses com “um público altamente qualificado”.

O evento destina-se obras já terminadas mas também a projectos embrionários em busca de financiamento, e vai promover encontros directos entre portugueses proponentes e parceiros internacionais com quem poderão colaborar, ter um fórum que pode ser uma plataforma para negociar acordos e sessões de pitching (propostas) de novos projectos ou em busca de agentes de vendas, plataformas de streaming ou parceiros ou especificamente para a co-produção Portugal/Navarra. 

O encontro realizar-se-á quando ainda poderá não haver um cenário claro quanto à transposição da chamada “directiva Netflix”, que obriga os serviços de vídeo on demand como as plataformas de streaming a ter pelo menos 30% dos seus catálogos com séries e filmes produzidos na União Europeia e que prevê que esses serviços contribuam para o financiamento da produção audiovisual dos países em que estejam presentes. Essa directiva poderá favorecer as co-produções e aquisição de títulos já terminados por estes novos agentes do sector. Como o PÚBLICO escreveu em Janeiro, o Governo já está a consultar as várias empresas do sector sobre a transposição da directiva e seus impactos no mercado. O prazo para a transposição da Directiva Serviços de Comunicação Social Audiovisual (2018/1808) termina em Setembro deste ano, pelo que deverá começar a moldar o sector, já atento, depois disso. 

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