Carrossel para turistas

Andou bem o PSD ao votar favoravelmente a suspensão da construção da linha circular do Metro de Lisboa.

Uma má decisão, por muito que a pintem de cor de rosa, passe o tempo que passar, tenha a forma geométrica que tiver, custe o que custar, será sempre uma má decisão.

A vontade obsessiva deste Governo do Partido Socialista em pretender implementar em Lisboa uma linha circular de metropolitano é objetivamente uma má decisão.

Uma má decisão do ponto de vista do combate às alterações climáticas.

Uma má decisão do ponto de vista da redução do uso do veículo automóvel individual –​ entram por dia em Lisboa cerca de 370 mil automóveis.

Uma má decisão do ponto de vista da promoção da intermodalidade da rede de transportes públicos.

Uma má decisão do ponto de vista da gestão da rede, pois acaba por afunilar o Metro no ponto mais central de Lisboa, a Baixa, numa espécie de carrossel para turistas.

Uma má decisão porque não é conhecido qualquer estudo que fundamente e compare verdadeiras alternativas de expansão da rede de metro.

Uma má decisão porque não é claro que melhore a frequência do acesso da linha de Cascais ao eixo central de Lisboa.

Uma má decisão porque piora, e muito, a qualidade de vida e acessibilidade a Lisboa dos utentes com origem em Odivelas, Loures, Santa Clara e Lumiar, obrigados que serão a transbordos que hoje não existem.

Uma má decisão porque o Governo adia sine die soluções que verdadeiramente podem servir a mobilidade na região, nomeadamente a expansão à zona ocidental de Lisboa, bem como a expansão para uma zona negra do ponto de vista do transporte ferroviário, que é Loures, com a possibilidade de servir as populações da região Oeste.

Uma má decisão porque, após um investimento de 210 milhões de euros, os cerca de 2,8 milhões de cidadãos que vivem, trabalham e estudam na Região de Lisboa ficam pior servidos.

Andou bem o PSD ao votar favoravelmente a suspensão da construção da linha circular.

Não vale a pena ao Governo deturpar a verdade, tentando virar os portugueses contra os partidos que na Assembleia da República acompanharam a decisão de suspensão deste mau projeto.

Afirmou o ministro do Ambiente que “Portugal perde o acesso a fundos comunitários”. É mentira! Os mesmos podem ser alocados a outros projetos, conforme disse o ministro do Planeamento e a própria Comissão Europeia; de resto, fica a sugestão para que estes fundos voltem à casa de partida, já que em 2017 estavam alocados ao interior do País. Foi o Governo quem, por uma questão eleitoral, os desviou para Lisboa, concretamente para a rede de metropolitano.

Indemnizações a empreiteiros? É mentira! Não está a decorrer qualquer obra no metro nem nenhuma adjudicação. Foi lançado o concurso, o mesmo ficou deserto de propostas. Foi prorrogado o prazo por duas vezes e só agora, ao final de alguns meses e provavelmente com alterações ao valor base de concurso, surgiram dois concorrentes.

Por mais inverdades e histórias que nos contem, não será por aí que um mau projeto se transforma num bom projeto.

Mas nada do que se passou no Parlamento em sede de discussão do Orçamento caiu do céu, por dá cá aquela palha. Foi a arrogância do Governo que o cegou e o impediu de perceber que, afinal, os avisos que o Parlamento fez eram para ser levados a sério.

Recorde-se que, por proposta do PSD, em Julho de 2019, a Assembleia da República aprovou uma resolução no sentido da suspensão desta obra, que não conheceu qualquer voto contra.

Ocorreram ainda vários debates parlamentares acerca do tema e na Comissão de Economia foi inclusivamente constituído um grupo de trabalho que durante meses abordou a temática, efetuando audições com o Governo, Área Metropolitana de Lisboa, câmaras municipais de Lisboa, Odivelas, Loures e Amadora, estruturas representativas dos trabalhadores do metro, técnicos, especialistas e Administração do Metro. Com a exceção do Governo socialista, da Câmara de Lisboa e do presidente do Metro, todas as entidades apresentaram reservas ao projeto, tendo mesmo a maioria fortes argumentos contra a sua construção.

O Governo fez ouvidos de mercador. Avançou com este mau projeto, só podendo, por isso, queixar-se agora de si próprio, já que seguramente não foi por falta de aviso.

O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico

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