O “bota-abaixo” ao vivo na Assembleia

Se se compreende que o PCP faça tudo o que estiver ao seu alcance para beneficiar uma ligação a Loures, onde reina, custa a entender o que leva o PSD a definir a obra como um “carrossel para turistas”, quando um sistema circular é banal em qualquer linha de metro da Europa.

Os deputados da oposição mostraram ao país uma faceta que seguramente ninguém conhecia: o seu profundo conhecimento sobre as artes da mobilidade urbana e a sua infinita sabedoria sobre os segredos das obras do metro na capital. De repente, de surpresa, diferentes propostas foram aprovadas em bloco para obrigar o Governo a suspender a construção da designada “linha circular” do metro de Lisboa, entre o Cais Sodré e o Rato, ou para forçar o estudo ou a execução de soluções complementares para Alcântara ou Loures. Sem aviso prévio, fazendo tábua rasa do debate público em torno de opções que quer o Governo, quer a administração do metro, quer a Câmara de Lisboa defendem, o PSD encabeçou o movimento e forçou o congelamento da obra.

Se se compreende que o PCP faça tudo o que estiver ao seu alcance para beneficiar uma ligação a Loures, onde reina, custa a entender o que leva o PSD a definir a obra como um “carrossel para turistas”, quando um sistema circular é banal em qualquer linha de metro da Europa. Mais: não se entende como podem o PAN ou os Verdes embarcar nestas aventuras que congelam durante anos o avanço da rede de transportes públicos. Ou o que pretende o Bloco com esta súbita intransigência em apoiar tudo o que desgaste o Governo. Melhor, percebe-se: há um clima na Assembleia cada vez mais arredado do compromisso e do consenso – a história do IVA da electricidade pode correr muito mal.  

No caso, o que está em causa não é saber se a linha circular é boa ou má. Ou se Loures ou Alcântara deveriam ficar à frente. Nem sequer questionar se é uma prioridade num país onde os comboios gastam tanto tempo a ligar as duas principais cidades do país como o velho Foguete nos anos de 1950. O que esta balbúrdia “partisan” põe em causa é um processo e uma lógica inerente à concretização de opções políticas. Uma obra que é discutida em público, que recebe pareceres, que tem de obedecer a estudos de viabilidade e a uma declaração de impacte ambiental não deve ser travada quando já está em fase de concurso. O Parlamento não é nem pode ser o derradeiro fiscal de obras do regime e os deputados não podem usar escolhas políticas legítimas, mesmo que contestáveis, mesmo que apenas defendidas pelo PS, como alvos para desgastar o Governo. Usar o expediente da recomendação para meter o metro na gaveta é um recurso do “bota-abaixo” que Rui Rio jurou não usar como recurso na oposição.

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