Republicanos preparam defesa de Trump com fidget spinners e um olho nas eleições

Com o fim do tempo destinado à acusação no julgamento do Presidente Donald Trump, a atenção vira-se para os poucos senadores republicanos que ainda podem ajudar o Partido Democrata a manter viva a esperança numa condenação.

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Lisa Murkowski, do Partido Republicano, é uma das poucas senadoras que ainda não rejeitou a convocação de testemunhas EPA/ERIK S. LESSER

À medida que as horas vão passando no julgamento do Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, alguns senadores do Partido Republicano começam a comportar-se como se estivessem a meio de uma reunião particularmente longa e aborrecida.

Um deles, o senador Richard Burr, da Carolina do Norte, aproveitou uma pausa para enviar a mensagem de que o Partido Democrata ainda não conseguiu entusiasmar ninguém com os seus esforços para afastar o Presidente da Casa Branca. Na quinta-feira, durante a hora de almoço, Burr distribuiu dezenas de fidget spinners pelos seus colegas, para os manter entretidos.

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Mark Rounds, do Partido Republicano, brinca com um fidget spinner REUTERS/Susan Cornwell

“Não sei o que mais podem eles dizer. Ouvimos os argumentos todos nas primeiras 13 horas”, disse outro senador republicano, Ron Johnson, do Wisconsin, referindo-se aos sete congressistas do Partido Democrata, liderados pelo congressista Adam Schiff, que apresentam a acusação contra o Presidente Trump desde quarta-feira.

“Schiff deve ir na sétima hora a repetir a primeira hora, e isso é muito aborrecido”, disse o senador Mike Rounds, do Dacota do Sul. “Significa que, pelos vistos, há muita gente que não está a prestar atenção.”

Batalha por testemunhas

Mesmo descontando a já esperada dose de propaganda política, no Partido Republicano, para tentar influenciar quem ainda não se decidiu sobre a culpa ou a inocência de Donald Trump nas acusações de abuso de poder e de obstrução do Congresso, nada indica que o Partido Democrata está hoje mais perto de alcançar a única vitória que poderia trazer surpresas ao julgamento: a audição de testemunhas próximas do Presidente norte-americano, como o antigo conselheiro de Segurança Nacional John Bolton, ou o chefe de gabinete da Casa Branca, Mick Mulvaney.

Como o Presidente Trump só pode ser condenado com uma maioria de dois terços do Senado (67 em 100), resta ao Partido Democrata convencer pelo menos quatro senadores do Partido Republicano a irem contra os seus líderes numa votação que deverá ter lugar no final da próxima semana.

Ainda assim, é provável que a Casa Branca conteste nos tribunais qualquer intimação de testemunhas, o que pode suspender o julgamento durante meses.

No lado republicano, os olhos estão postos nos senadores que, segundo os actuais padrões da política norte-americana, são vistos como moderados: Susan Collins (Maine), Mitt Romney (Utah), Lisa Murkowski (Alasca) e Lamar Alexander (Tennessee). Mas é preciso acompanhar também alguns senadores do Partido Democrata, eleitos em estados onde o Presidente Trump é popular: Doug Jones (Alabama), Gary Peters (Michigan) ou Kyrsten Sinema (Arizona).

Com mais um ou outro nome, é este grupo que vai decidir se as provocações do senador Richard Burr, com a oferta de fidget spinners, não esconde também algum nervosismo no lado republicano.

À excepção de Lamar Alexander, de 79 anos (que termina o mandato em Novembro e não se vai recandidatar), todos os outros estão a tentar perceber se um voto contra a maioria do seu partido, na próxima semana, será equivalente a uma sentença de morte política nos seus estados.

E depois de um início de julgamento em que tudo parecia estar em aberto para o Partido Democrata, os dias foram passando sem nenhum sinal de que o trabalho da equipa de acusação – que termina esta sexta-feira – esteja a causar rombos no Partido Republicano.

Lisa Murkowski, uma das senadoras republicanas que o Partido Democrata não pode perder, confirmou à CNN que vai esperar pelos argumentos da defesa de Trump, entre sábado e terça-feira (domingo é dia de descanso), para tomar uma decisão.

Mas o facto de Murkowski ter repetido, na quinta-feira, um dos principais argumentos da Casa Branca contra a convocação de testemunhas, não é um sinal encorajador para os democratas.

O Presidente Trump e seus apoiantes dizem que o Partido Democrata devia ter esperado pelas decisões dos tribunais sobre a proibição da Casa Branca de autorizar depoimentos durante as audições na Câmara dos Representantes – um processo que podia durar meses, em ano de eleições presidenciais.

“A Câmara dos Representantes decidiu que não queria atrasar o processo por ter de ir para os tribunais”, disse Lisa Murkowski. “E agora querem que sejamos nós a ir para os tribunais.”

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