Ucrânia e separatistas pró-Rússia organizam troca de prisioneiros

Desde 2017 que os dois lados da guerra no Leste da Ucrânia não organizavam uma troca de detidos. Kiev recebeu 76 pessoas.

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A troca de prisioneiros ocorreu em Gorlivka, na região de Donetsk EPA/VALERI KVIT

A Ucrânia e os separatistas pró-Rússia trocaram dezenas de prisioneiros este domingo, cumprindo mais um passo no processo de paz para a guerra no Leste do país. A possibilidade de libertação de responsáveis pela repressão em Kiev em 2014 motivou protestos.

O gabinete do Presidente Volodimir Zelensky confirmou a iniciativa, detalhando que Kiev recebeu 76 pessoas que estavam detidas pelos grupos separatistas. Não é conhecido o número de prisioneiros liberados pelo lado ucraniano. A agência estatal UNIAN citava um responsável separatista de Donetsk que dizia esperar receber 87 pessoas, mas esse número não foi confirmado de forma oficial.

A troca de prisioneiros, que ocorreu perto da cidade de Gorlivka, na região de Donetsk, foi recebida com protestos em Kiev, por causa da possibilidade de entre os presos libertados pelo Governo estarem antigos elementos das Berkut, a polícia antimotim que esteve por trás da repressão violenta das manifestações de 2014. Na altura, cerca de uma centena de manifestantes foi morto durante os confrontos na Praça da Independência.

A Procuradoria-Geral ucraniana assegurou que os julgamentos de cinco suspeitos pelas mortes iriam continuar.

Desde 2017 que a Ucrânia e os rebeldes não faziam uma grande troca de prisioneiros – foram envolvidas 300 pessoas. Em Setembro, a Ucrânia e a Rússia organizaram uma troca de prisioneiros, que incluiu 24 marinheiros que tinham sido capturados no estreito de Kerch, em Novembro do ano passado, e também o realizador Oleg Sentsov, vencedor do Prémio Sakharov de 2018.

A troca deste domingo acontece depois da cimeira no início do mês que reuniu os líderes da Ucrânia, da Rússia, de França e da Alemanha. O objectivo foi o relançamento do processo de paz, que estava há vários anos paralisado.

Zelensky, um comediante sem experiência político eleito em Maio, prometeu acabar com o conflito que já causou mais de 13 mil mortos desde que em 2014 grupos de rebeldes armados ocuparam parte do território ucraniano. Apesar de o nível dos confrontos ter descido, na linha da frente continua a haver trocas de tiros e uma solução militar parece estar fora de causa.

Apesar de ter mostrado vontade política para apresentar progressos, as iniciativas de Zelensky têm motivado controvérsia. O anúncio recente de que Kiev está disponível para organizar eleições nas regiões ocupadas e conceder um estatuto de autonomia foi criticado pelos sectores ultranacionalistas, que o consideram uma capitulação face a Moscovo.

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