À esquerda nada de novo

O que fica do primeiro debate quinzenal é que, para já, continua a “geringonça” sem ser “geringonça”.

A novidade é um íman para a nossa atenção e é natural que a entrada no Parlamento de três novas forças partidárias tenha concentrado grande curiosidade no arranque da legislatura e em particular no primeiro dos debates quinzenais. Uma curiosidade que só foi reforçada pela polémica, evitável, sobre a capacidade de terem ou não tempo para o confronto com o primeiro-ministro.

O outro motivo de curiosidade era o de perceber o tom e o conteúdo de Rui Rio na dupla faceta de líder de oposição e novamente candidato à liderança do PSD. Tal como já o tinha feito na discussão do programa de governo o tom foi vivo e directo, mas, na substância, não conseguiu marcar pontos no salário mínimo e continuou a perseguir o último tema mediático, o dos chumbos, que até pode ser diferenciador, mas revelou pouca capacidade para surpreender e deu voz a uma visão redutora da questão.

Mas é tão importante olhar para o que é novo – e ainda estamos longe de perceber os desafios que representarão para a vida parlamentar os estreantes – como para aquilo que se manteve. E o que fica do primeiro debate quinzenal é que, para já, continua a “geringonça” sem ser “geringonça”. António Costa soube escolher um tema de conforto, “políticas de rendimento”, e os partidos à esquerda com que tem estabelecido entendimentos parlamentares exibiram o habitual tom crítico, mas sem sair da coreografia que vimos na anterior legislatura.

Uma atitude que deixa adivinhar que aquilo que é mesmo crucial, a aprovação do Orçamento do Estado, deve estar bem encaminhada, como salientaram jornalistas deste jornal no podcast Poder Público. O habitual jogo de propostas e contrapropostas para encontrar um equilíbrio visível entre quem governa e quem é suposto influenciar a governação continua vivo. E não pode deixar de ser visto como um sinal o facto de António Costa ter decidido manter as nomeações de representantes do PCP e do BE para o Conselho de Estado.

Por mais uns tempos, o país está salvaguardado de surpresas, o que não deixa de ser positivo. O reverso desta falta de novidades é continuarmos a ver o acento tónico nos problemas do Estado e da função pública e poucos avanços na frente económica, na capacidade de conseguir um país mais competitivo. Pelo menos não haverá desculpas para, no prazo de um ano, o Governo mostrar o que afinal valem as suas apostas para este mandato: alterações climáticas, sustentabilidade demográfica, transição digital e combate às desigualdades.

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