Porque se põe um drone e um humano a dançar?

A União Europeia está a usar um dueto entre uma bailarina e um drone como exemplo do potencial de unir a arte e a tecnologia para estimular a inovação.

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EIT European Institute of Innovation
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Nos últimos anos, os sistemas aéreos autónomos não-tripulados – mais conhecidos como drones – ganharam reputação de serem invasores de privacidade, brinquedos perigosos, armas de guerra, e a causa de atrasos em vários aeroportos internacionais. Mas a União Europeia quer mostrar que também podem ter utilizações menos nefastas, como por exemplo serem bailarinos.

Desde Outubro que um dueto entre a bailarina japonesa Ayumi Tobaye e um drone é usado como exemplo do potencial em unir a arte e a tecnologia para estimular a inovação na Europa. Quando o drone avança, a bailarina recua, quando a bailarina tenta alcançar o drone, a máquina sobe para longe. O barulho do motor funde-se com a música.

A dança foi apresentada pela primeira vez durante os prémios do Instituto Europeu de Inovação em Tecnologia (EIT), em Budapeste, na Hungria. A coreografia é da autoria da francesa Nina Kov – há oito anos que colabora com cientistas e engenheiros europeus para encontrar novos algoritmos e mecanismos para pôr máquinas e pessoas a dançar lado a lado.

“O drone é dos melhores símbolos para os grandes debates da tecnologia”, explicou ao PÚBLICO Nina Kov, que trabalha actualmente em Londres. “Podemos vê-los como uma tecnologia malévola que nos vai atacar, ou podemos vê-los como ferramentas para transportar medicina e comida. Pô-los a dançar com humanos acentua isso.”

O seu trabalho foi escolhido pelo EIT como pano de fundo para apresentar novos planos para criar uma comunidade dedicada a desenvolver projectos e negócios, especificamente, na área da cultura e das artes. A ideia é juntar a cultura a projectos de inteligência artificial e robótica. “A Europa tem uma enorme herança cultural e queremos que se torne uma ferramenta para potenciar a inovação. Propomos isto à Comissão Europeia no nosso orçamento para 2021”, anunciou Martin Kern, director interino para o EIT.

O trabalho de Kov é exemplo dessas vantagens. “Comecei a dedicar-me a sério aos drones em 2011 depois de conseguir financiamento da União Europeia”, recordou Kov. “Nas primeiras coreografias, havia só um drone controlado manualmente por um piloto, mas agora é possível organizar espectáculos com centenas de drones autónomos. São guiados através de uma luva que a bailarina leva na mão.”

Cada drone vem equipado com um pequeno processador que recebe informação da luva, de um GPS (para indicar a sua posição exacta), e vários sensores para evitar que os drones choquem uns com os outros. Usam algoritmos inspirados nas viagens de aves migratórias para se coordenarem, alinhados, em torno da bailarina. O trabalho surgiu de uma parceria de Kov com uma equipa de biofísicos na Universidade de Eötvös Loránd, em Budapeste.

“A tecnologia pode ser reaproveitada para sistemas de entrega de mantimentos”, voltou a salientar Kov. Desde Abril que os drones autónomos da Wing, uma startup da empresa-mãe do Google, a Alphabet, fazem entregas de supermercados, restaurantes e farmácias em alguns subúrbios de Camberra, na Austrália.

Actualmente, a produtora húngara Collmot Entertainment – que Kov liderava até 2016 – organiza vários espectáculos por ano, mas o actual foco da coreógrafa é criar um sistema para pôr um só drone a dançar sozinho em palco. A coreografia para a EIT em Budapeste ainda tinha a ajuda de um piloto humano.

“Um dos maiores desafios é a segurança. A bailarina usa sempre óculos e é preciso aprender a dançar com barulho”, notou Kov. “Temos de ver a tecnologia como uma ferramenta. O meu fascínio com estas máquinas é o facto de existirem em três dimensões, partilhou. E a ideia de coreografar no ar é o sonho de qualquer coreógrafo.”

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