Partido árabe israelita apoia rival de Netanyahu para formar governo

Mudar a Lei do Estado Nação, que diz que apenas “o povo judaico” tem “direito de autodeterminação” é condição imposta pela Lista Conjunta para dar suporte à possibilidade de Benny Ganz ser o próximo primeiro-ministro de Israel.

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Dirigentes da lista conjunta, com Ayman Odeh ao centro MENAHEM KAHANA/EPA

É a primeira vez em 27 anos, da última vez ainda Yitzhak Rabin governava, em 1992: o partido árabe israelita apoiou um político israelita para formar governo. A Lista Conjunta, um partido árabe israelita, disse ao Presidente de Israel que apoiaria Benny Gantz como primeiro-ministro.

“Queremos encontrar uma forma de evitar que [Benjamin] Netanyahu continue a ser primeiro-ministro, e isso é o que a maioria dos eleitores quer”, disse Ayman Odeh, líder da Lista Conjunta, ao Presidente Reuven Rivlin, para justificar o apoio a Gantz, do partido Azul e Branco – que obteve uma vitória por muito poucos votos nas eleições de 17 de Setembro, convocadas por Netanyahu depois de não ter conseguido formar governo após as legislativas de Abril.

Uma condição imposta pelo partido dos árabes israelitas para dar o apoio a Gantz, ex-chefe do exército, foi o abandono da Lei do Estado Nação – que declara Israel o “Estado do povo judaico” e no qual apenas este tem “direito de autodeterminação”. Esta lei consagra Jerusalém “unida” como capital – ignorando a pretensão dos palestinianos a Jerusalém Oriental – e define que o hebraico é a única língua oficial, diminuindo o estatuto do árabe, que de oficial passa a ter um estatuto protegido.

Ayaman Odeh deu a conhecer esta condição num artigo de opinião publicado este domingo no New York Times. Benny Gantz já antes deu a entender que seria favorável à mudança da lei elaborada pelo Likud de Netanyahu. Portanto esta condição não deverá ser difícil de satisfazer, pelo menos em teoria.

Quanto a Avigdor Lieberman, o antigo aliado de extrema-direita de Netanyahu, mas que se desentendeu de forma profunda com o primeiro-ministro – impedindo-o de formar governo com os resultados das eleições de Abril, fez já saber ao Presidente que não voltará a aliar-se a Netanyahu. Apelou, no entanto, a um governo de unidade nacional entre o Likud e o partido Azul e Branco.

Estará Netanyahu definitivamente afastado do poder? As consultas do Presidente aos partidos continuam ainda durante o dia de segunda-feira. Gantz pode falhar na sua tentativa de conquistar apoios suficientes e, aí será a vez de Netanyahu – que terá de convencer Lieberman, a peça-chave neste xadrez político. Mas como os resultados eleitorais foram tão aproximados – apenas um deputado de diferença entre os dois partidos mais votados – o Presidente pode insistir num governo de unidade nacional.

Ou, diz o Ha’aretz, os múltiplos processos que pendem sobre Netanyahu podem levar Rivlin a chegar a um acordo com Netanyahu: as acusações contra o primeiro-ministro conservador poderão ser retiradas, em troca do seu abandono da vida política. Mas o Presidente tem-se recusado a discutir a esta possibilidade.

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