Presidente italiano exige acordo rápido entre PD e 5 Estrelas, senão convoca eleições

Presidente já está a consultar os partidos. Líder do centro-esquerda, Nicola Zingaretti, mandatado para negociar um Governo de coligação, pôs em cima da mesa cinco condições e diz à formação de Di Maio que é pegar ou largar.

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Sergio Mattarella com Nicola Zingaretti nesta quinta-feira PAOLO GIANDOTTI/EPA
O Presidente italiano, Sergio Mattarella, terá agora de decidir se apoia um novo Governo ou se convoca eleições antecipadas
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O Presidente italiano, Sergio Mattarella, quer rapidez na formação do novo Governo Massimo Pinca/Reuters

O Presidente italiano, Sergio Mattarella, quer um acordo rápido entre o Partido Democrático (PD) e o movimento anti-sistema 5 Estrelas e vai dar-lhes “alguns dias” para chegarem a acordo sobre um governo de coligação, caso contrário convoca eleições antecipadas. O líder do PD, Nicola Zingaretti, disse estar disponível para negociar, mas impôs cinco condições.

Zingaretti foi mandatado nesta quarta-feira pelo partido para negociar a formação de um novo executivo com o 5 Estrelas. Mas, para o fazer, há cinco condições: o compromisso com a União Europeia; o pleno reconhecimento da democracia representativa, com o parlamento a ser o seu epicentro; mudanças na política de gestão dos fluxos migratórios, colaborando com Bruxelas; e a transformação de receitas económicas e sociais em políticas de redistribuição, abrindo a porta ao investimento privado. E, por fim, o futuro Governo não pode ser dirigido pelo primeiro-ministro demissionário, Giuseppe Conte, demasiado associado ao defunto executivo, que caiu na terça-feira por iniciativa de um dos seus integrantes, Matteo Salvini.

Com estas condições, Zingaretti pretende romper com as políticas e imagem do anterior Governo, envolvido em constantes trocas de acusações e insultos entre os seus ministros, apontando para o próximo orçamento do Estado (que tem que estar pronto para apresentar ao parlamento e à Comissão Europeia em meados de Outubro). Quer um “ponto de viragem” e um Governo de “descontinuidade” com o anterior, como afirma o documento do PD que o mandatou, citado pelo La Repubblica.

“É um dever concretizar esta vontade que existe de dar vida a uma nova maioria parlamentar, capaz de dar respostas reais e sérias aos problemas do país”, disse Zingaretti, que se via cada vez mais encurralado perante a pressão para negociar com o 5 Estrelas do antigo primeiro-ministro e hoje senador Matteo Renzi.

Renzi, antigo líder do PD está de volta e tudo tem feito para evitar eleições antecipadas que possam dar maioria absoluta a uma possível coligação entre a Liga de Salvini, os Irmãos de Itália e a Força Itália de Silvio Berlusconi – juntos somam quase 50% dos votos, segundo as mais recentes sondagens. Renzi controla a maioria da bancada parlamentar da formação de centro-esquerda e ameaçou a liderança com uma cisão, além de se ter multiplicado em contactos e entrevistas, para pressionar a favor de um “governo institucional”, composto pelo PD e pelo 5 Estrelas.

Zingaretti está desde o início numa posição difícil. Assumiu uma postura dúbia desde os primeiros momentos da crise recusando posicionar-se. Defendia eleições antecipadas – podia assim substituir os partidários de Renzi nas listas de deputados – sem nunca o assumir e recusava uma coligação com o partido populista. Mas, pressionado, cedeu à proposta de Renzi.

“Nunca demonizei o 5 Estrelas. Tenho sido alvo de críticas, por vezes violentas, por tentar desenvolver uma análise cuidadosa desse movimento, mas não posso ignorar as diferenças enormes [entre o PD e o 5 Estrelas] que dizem respeito a princípios”, disse Zingaretti.

5 Estrelas cauteloso

O 5 Estrelas preferiu, até ao momento, não se pronunciar oficialmente, garantindo apenas que a liderança está “unida e compacta” em torno do seu líder, Luigi Di Maio. No entanto, aos poucos, conhecem-se algumas reacções às cinco condições de Zingaretti: “São muito vagas, mas o espaço [de manobra] está lá”, disse uma fonte do partido populista ao La Repubblica. As condições não levantaram problemas entre a liderança do partido, diz o jornal italiano, exceptuando uma: a referente à democracia representativa, por ser uma negação da democracia directa defendida pela formação de Di Maio.

A mais recente crise política italiana começou quando o ministro do Interior e líder da Liga (partido de extrema-direita), Matteo Salvini, apresentou uma moção de desconfiança ao Governo do qual fazia parte. Apanhou aliados e adversários em plenas férias de Verão esperando eleições antecipadas para recolher os benefícios da sua popularidade nas urnas, pedindo ao eleitorado "plenos poderes" para continuar a aplicar as suas políticas. Porém, a jogada foi travada e o país não caiu nas suas mãos, pelo menos por agora.

Chamado a falar no Senado, o primeiro-ministro italiano teceu duras críticas a Salvini, acusando-o de “oportunismo político”, de pôr “em causa os interesses nacionais” e lhe faltar cultura democrática. E, entre acusações, anunciou renunciar ao cargo antes da votação da moção de desconfiança, levando à queda automática do Governo. Sob ataque, o líder de extrema-direita respondeu que “faria tudo novamente se tivesse outra hipótese”. “Fala como Matteo Renzi”, acusou Salvini.

Caído o Governo, o Presidente italiano começou esta quarta-feira a consultar os líderes das forças políticas no Parlamento para apurar se existe uma maioria alternativa que sustente um Governo. Se for da opinião que uma maioria PD-5 Estrelas não terá estabilidade, marcará rapidamente eleições. 

Os primeiros a serem ouvidos pelo chefe de Estado foram os presidentes do Senado, Elisabetta Casellati, e da Câmara dos Deputados, Roberto Fico. Esta quinta-feira tem encontro marcado com os líderes do Partido Democrático, Irmãos de Itália, Força Itália e 5 Estrelas.

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