Santa Comba Dão quer abrir museu do Estado Novo e Salazar no fim do Verão

Obras do Centro Interpretativo do Estado Novo estarão iminentes. Ideia do museu foi alvo de fortes críticas nas últimas décadas.

António de Oliveira Salazar
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Um retrato do ditador na casa do Vimieiro Adriano Miranda
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A casa do Vimieiro, em 2012 ADRIANO MIRANDA
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A casa do Vimieiro, em 2012 ADRIANO MIRANDA
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A casa do Vimieiro, em 2012 ADRIANO MIRANDA
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A casa do Vimieiro, em 2012 ADRIANO MIRANDA
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A casa do Vimieiro, em 2012 ADRIANO MIRANDA
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A casa do Vimieiro, em 2012 ADRIANO MIRANDA

O Centro Interpretativo do Estado Novo deverá abrir dentro de três meses no Vimieiro, em Santa Comba Dão, terra onde nasceu António de Oliveira Salazar. A notícia é avançada este sábado pelo semanário Expresso. A ideia de um museu dedicado a Salazar em Santa Comba foi alvo de um inquérito em 2016 em que a maioria das vítimas do Estado Novo era contra o projecto.

“Este será um local para o estudo da história do Estado Novo. Não um santuário destinado a nacionalistas nem um museu onde se vai diabolizar o estadista de Santa Comba Dão”, diz o presidente da câmara de Santa Comba Dão, Leonel Gouveia, ao Expresso.

O autarca eleito pelo PS não revela qual a direcção científica do projecto museológico nem os seus responsáveis, aludindo de acordo com o semanário à ligação do centro interpretativo a uma “Rota das Figuras Históricas” que, dissera o responsável há meses à Lusa, é um projecto com uma associação de desenvolvimento local.

Já em Dezembro de 2018 a Agência Lusa avançara o plano do autarca Leonel Gouveia para a abertura do espaço em 2019 - o presidente da câmara acreditava então que o projecto trouxesse “não só visitantes, como estudiosos”.

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Rui Salazar de Melo, fotografado em 2012 Adriano Miranda

O Expresso noticia este sábado que as obras na antiga Escola-Cantina Salazar, junto à casa do antigo presidente do Conselho de Ministros e rosto da ditadura do século XX português no Vimieiro, devem começar “dentro de duas a três semanas”, citando o autarca Leonel Gouveia.

A autarquia detém agora a totalidade do espólio, bem como a casa onde nasceu Salazar, a adega e a sua quinta – não sem a sua dose de polémica, com o sobrinho-neto do ditador Rui Salazar de Melo ainda a dirimir argumentos na justiça com a autarquia por incumprimentos contratuais quanto a um terço desse espólio — e prevê instalar no Centro Interpretativo do Estado Novo conteúdos multimédia e interactivos e não apostando tanto em mostrar objectos pessoais do ditador, que deverão ficar reservados para exposição nos imóveis que pertenceram ao governante após sua recuperação.

Em Dezembro de 2018, Leonel Gouveia disse à Lusa que o orçamento do centro interpretativo era de “170 mil euros para a requalificação do edifício” e primeira fase da obra, que queria que tivesse sido inaugurada no início de 2019.

A empreitada beirã surge numa altura em que aumentam apoios para a criação de um Museu da Resistência e Liberdade do Porto e depois de se ter inaugurado um Memorial aos Presos Políticos na Fortaleza de Peniche, onde está prevista a abertura do Museu Nacional da Resistência e da Liberdade em 2020.

O historiador Fernando Rosas, especialista na História do Estado Novo, diz ao Expresso ter sido contactado por Leonel Gouveia sobre o tema e rejeitar qualquer colaboração com “esse pseudo-centro interpretativo” que considera ser um mero “chamariz de turismo político”, aponta, “mesmo que seja feito com as melhores intenções”. A historiadora Irene Flunser Pimentel, também no semanário, não se opõe à criação de um museu sobre o tema, mas frisa a importância da equipa científica e das intenções da sua criação.

O projecto autárquico de um museu em torno da figura de Salazar é antigo e já em 2007 mobilizava activistas antifascistas em abaixo-assinados e petições pela oposição à sua criação. O Ministério da Cultura, então liderado por Isabel Pires de Lima, rejeitava a sua integração na rede nacional de museus.

Em 2016, o inquérito Memória da Oposição e Resistência ao Estado Novo questionou 131 pessoas que foram detidas, exiladas, afastadas das suas profissões ou obrigadas a recorrer à clandestinidade e à deserção pelo regime do Estado Novo, que vigorou em Portugal entre 1933 e 1974.  Sobre a eventual construção de um museu dedicado a Oliveira Salazar em Santa Comba Dão, 51% dizem que não devia ser permitida e 23% são a favor. Vinte e seis por cento não tomaram qualquer posição.

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