PS acusa direita de lançar “bomba orçamental”, PSD e CDS lembram José Sócrates

Os candidatos dos seis maiores partidos debateram esta quarta-feira na TVI.

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Segundo debate foi esta quarta-feira na TVI Nuno Ferreira Santos

Esquerda contra direita. No início do segundo debate das eleições europeias começa por se perceber que, apesar das diferenças dentro da esquerda, mais visíveis que à direita, há dois blocos que se dividem. Por um lado PS, CDU e BE, que lembram os avanços na melhoria dos rendimentos em Portugal, lógica que querem defender na Europa, e PSD e CDS por outro, que atacam a posição socialista, com acento tónico no desaproveitamento dos fundos europeus.

A crise política sobre a reposição do tempo de serviço dos professores entrou pelos argumentos adentro, com Pedro Marques a acusar PSD e CDS de terem lançado uma “bomba orçamental de 800 milhões de euros”. “Como podem falar de responsabilidade orçamental”, questionou. Foi uma “tragédia de má qualidade que deixou marcas na credibilidade” dos dois partidos. O socialista respondia assim a Paulo Rangel que acusou o socialista de ser um dos rostos da crise de 2011 por ter feito, então, parte do Governo de José Sócrates.

Sobre este assunto, Marisa Matias, a candidata do BE quis encerrar o assunto, dizendo que foi uma “falsa crise” e que já se sabe, disse, “que os números foram martelados”. “Só houve dois partidos que não mudaram de opinião, um deles o BE”.

Perante a discussão entre o socialista e o social-democrata, foi Marinho Pinto (do PDR) a pedir para se falar da Europa, lembrando que António Costa puxou estas eleições para o lado nacional e que isso não deve acontecer: “Todos o criticam, mas todos fazem o mesmo”. “Vamos discutir a democracia na Europa que está seriamente ameaçada”, pediu.

Nas questões europeias, a primeira a vir a lume foram os fundos estruturais. Paulo Rangel começou por dizer que foi por responsabilidade de Pedro Marques que houve um corte de 1,6 mil milhões de euros nos fundos de coesão. O socialista repetia “não é verdade, já vai ver”. Depois, Pedro Marques exibiu alguns quadros que mostram que, a preços correntes, não houve o corte de 7% nos fundos de que falava o social-democrata. Os fundos europeus foram um dos temas quentes, levaram a troca de acusações entre o socialista e o social-democrata com ambos a dizerem que “não é verdade” o que diz o interlocutor. 

Antes, tinha sido Nuno Melo a dizer que tinha havido uma redução de 40% nos fundos europeus e acusado Pedro Marques de ser o candidato das “fake news”.

À esquerda, João Ferreira lembrou que houve de facto um “corte no orçamento nas verbas para Portugal” e Marisa Matias lembrou os “cortes sucessivos” que foram aceites pelo PS, PSD e CDS. “Sinto-me envergonhada, não estamos a respeitar quem está lá em casa, não é por se falar mais alto que se tem razão”, disse, referindo-se à troca de críticas entre Pedro Marques e Paulo Rangel.

Afinal qual a razão para se votar em cada partido?

Desta pergunta inicial, várias foram as respostas. Marisa Matias, que se declarou “europeísta, mas crítica - não há outra forma de ser europeísta” -, defendeu que votar no BE é “dar força a um caminho” que o país começou a fazer nos últimos quatro anos, e que tem de prosseguir: “Não cedemos aos interesses financeiros nem imposições de Bruxelas”, disse.

A seguir foi a vez de João Ferreira, da CDU, que defendeu que, “quando foi preciso defender” Portugal na Europa, “foi a voz dos deputados da CDU que lá se ergueu”. Uma “intervenção reconhecida em quantidade e qualidade”, disse. “Não defendemos a visão de um país isolado, virado de costas para os outros, queremos uma outra Europa”, defendeu.

Paulo Rangel, na sua resposta à pergunta inicial, referiu três argumentos para o voto no PSD: “O peso político acrescido, as propostas concretas e a lista que credibiliza muito”. Como uma das medidas, apresentou um programa de luta contra o cancro. Maria Matias e João Ferreira não tardaram a criticá-lo, por não saber que esse programa já existe.

Já Nuno Melo desfiou alguns dos seus trabalhos em Bruxelas “fora das quatro paredes”, nomeadamente a promoção de uma feira agro-alimentar. “O CDS representa o aproveitamento do que o PS desperdiça”, disse, referindo-se sobretudo aos fundos para a agricultura. Além disso quer “ajudar a que a esquerda não se reforce e que os extremismos não cresçam”.

Por fim, foi a vez de Marinho Pinto, o candidato do Partido Democrático Republicano, a criticar todos os anteriores intervenientes, dizendo que estão em “teatralizações” e que não vai levar este tipo de debates para a Europa. “Cheira a eleições e votos, começam a criar artificialmente” estas teatralizações, disse. Essa maneira de estar, sem artificialismos, é uma das coisas que quer manter em Bruxelas e por isso pede o voto. “Estou cansado, mas não estou desanimado”.

No primeiro debate, os seis candidatos dos partidos que têm representação no Parlamento Europeu concentraram-se na maior parte do tempo em questões nacionais, com ataques entre Paulo Rangel (PSD) e Pedro Marques (PS) sobre a política levada a cabo. Desta vez, o debate centrou-se mais nos fundos europeus, mas não deixou de haver picardias entre Rangel, Marques e Melo.

Já no final do debate, uma briga à esquerda com João Ferreira e Marisa Matias a trocarem galhardetes. O comunista referia o trabalho que fez em Bruxelas, referindo as mais de 400 perguntas. Quanto terminou a intervenção, a bloquista desabafou: “Uns trabalham para as estatísticas, outros para as pessoas” o que levou João Ferreira a retorquir que as perguntas que faz “não é trabalho para as estatísticas”. Argumento que levou Marisa Matias a sugerir que se fossem ler as perguntas feitas pelo candidato da CDU e que prefere passar dois anos a negociar uma directiva a fazer perguntas que nada têm a ver com a União Europeia.

Os vários candidatos têm agora vários debates, antes do arranque da campanha, na próxima semana.

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