PS deixa Pedro Marques sozinho. Campanha queixa-se de “total ausência de combate político”

Tirando os fins-de-semana, quando Costa aparece, o PS está adormecido na pré-campanha para as europeias. O estado-maior de Pedro Marques queixa-se de “total ausência de combate político”.

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LUSA/MáRIO CRUZ

O homem que entregou este domingo as assinaturas para a lista do PS ao Parlamento Europeu é um candidato sozinho no terreno. O velho “aparelho” do PS está desaparecido e a todas as “provocações” feitas por Rui Rio, Paulo Rangel, Assunção Cristas, Nuno Melo… o PS responde nada.

“É a total ausência de combate político”, resume ao PÚBLICO uma fonte da campanha de Pedro Marques, que espera que a sondagem da Aximage, que diminuía as esperanças dos socialistas nas eleições, sirva para que os dirigentes do partido tenham “um sobressalto” e invertam aquela que tem sido “a ausência do PS” nestes primeiros dias de pré-campanha para as eleições para o Parlamento Europeu.

Não se trata apenas de andar ao lado do candidato: a todas as questões políticas diariamente colocadas pela oposição, os dirigentes do PS não respondem, raramente a porta-voz vem a jogo. Pedro Marques é hoje um homem sozinho. “Ou o PS se mexe e começa a apontar as contradições da campanha do PSD e do CDS ou, se isso não acontecer, arriscamo-nos a ter uma votação baixa”, diz ao PÚBLICO a mesma fonte próxima de Pedro Marques.

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Costa com Pedro Marques, este domingo, em Avintes. O líder do PS puxa sozinho pelo candidato José Coelho/Lusa

Se a polémica das nomeações de familiares para o Governo é considerada um factor de perturbação da campanha, a falta de apoio diário dos dirigentes nacionais não o é menos. Claro que António Costa faz essas despesas do combate político a Rangel, Rio e Cristas – mas só aos fins-de-semana. Nos dias úteis, Pedro Marques é um homem sem aparelho, sem porta-vozes em acção.

Muito só e a caçar votos garantidos

A pré-campanha de Pedro Marques arrancou cedo, em meados de Fevereiro, e tem até sido muito activa, com deslocações e intervenções por todo o país. Mas uma análise desta mesma campanha revela, de facto, uma parca participação do partido e das figuras com maior peso e visibilidade – até os membros da lista têm dado pouco sinal de si. Basta dar uma vista de olhos à conta do Twitter do candidato para esta ausência ficar clara. Por outro lado, os momentos em que o candidato ganhou mais notoriedade pública nem sempre jogaram a seu favor.

Destes, o principal aconteceu no período do Carnaval. Numa altura em que os políticos fogem das ruas como o diabo da cruz, Pedro Marques resolveu ir fazer campanha para a folia carnavalesca em Loulé (4 de Março) e Torres Vedras (5 de Março), com uma passagem pela Feira da Orelheira e do Fumeiro, em Cabeceiras de Basto, pelo caminho. Da campanha no período do folguedo, o mais visível foi um vídeo partilhado na Internet em que Pedro Marques samba desengonçado ao lado de matrafonas de Torres. E, claro, daí a saltar para o achincalhamento nos mais diversos programas de humor foi apenas um instante. Ainda hoje esta é a imagem que mais marca a pré-campanha de Marques.

Nos primeiros da campanha eleitoral para a presidência da Câmara de Lisboa, em 2001, o candidato socialista, João Soares, que viria a perder a autarquia para Santana Lopes, teve uma acesa discussão pública com membros da direcção da sua campanha. Razão: só o estavam a levar a locais onde o voto já estava garantido, quando ele precisava de ir conquistar votos novos.

A campanha de Pedro Marques às eleições europeias de 26 de Maio parece estar a seguir este caminho que desagradou a João Soares em 2001. A conta do candidato no Twitter revela dezenas de almoços e jantares com “apoiantes e simpatizantes” do PS e participações em incitavas organizadas pelo partido, algumas delas residuais e em que apenas estão presentes poucos dirigentes partidários locais.

Outro exemplo de caça ao voto garantido são as muitas fotografias que Pedro Marques divulga com autarcas socialistas a darem apoio ao… candidato socialista. Fotos sempre reveladas pelo candidato na sua conta no Twitter e que são em muito maior número do que as dos próprios membros da lista, que pouco têm sido vistos nas acções de pré-campanha de Marques.

Costa dá peso... e apaga

Quem não tem faltado à campanha é Costa, especialmente aos fins-de-semana. A presença do líder do PS e primeiro-ministro dá, por um lado, peso e visibilidade à campanha, mas, por outro, tira palco ao candidato, com os diversos órgãos de comunicação social, e em especial os canais de televisão, que destacam Costa e quase “apagam” Marques. E quando o próprio secretário-geral do PS lança ataques directos ao cabeça de lista do PSD, as críticas do “número um” da lista socialista perdem importância. E permite também a Paulo Rangel responder ao líder do PS e ignorar o seu rival directo.

Uma imagem confrangedora deste isolamento de Pedro Marques foi revelada na passada quinta-feira pelo próprio. Com o Governo e o PS ainda a lembrarem ruidosamente “a grande medida” da redução do preço dos passes sociais dos transportes, o cabeça de lista do partido às europeias resolveu pegar no tema. No Twitter revelou um vídeo desta acção de campanha: mostra o candidato, com mais três ou quatro desconhecidos, a distribuir cumprimentos e panfletos à entrada do cais dos barcos de Cacilhas.

Nesta segunda-feira, Pedro Marques teve a companhia de alguns membros da lista e da “número dois” do PS, Ana Catarina Mendes, durante a entrega da lista socialista às eleições de 26 de Maio no Tribunal Constitucional, em Lisboa. Um evento logo apagado pelo ministro das Finanças, Mário Centeno, que pouco tempo depois apresentou as metas orçamentais a partir de 2020.

Na edição digital do Acção Socialista desta segunda-feira, a manchete ainda vai para as declarações de António Costa no fim-de-semana, relegando a entrega da lista socialista às europeias no Tribunal Constitucional, o tema do dia da pré-campanha, para segundo plano.

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