Rivera e Casado lutam por domínio da direita, mas coligação mantém-se possível

Partido Popular piscou o olho ao Vox, da extrema-direita, para uma solução governativa tripartida. Sánchez e Iglesias uniram-se no debate, mas não há confirmação de coligação.

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Da esquerda para a direita: Pablo Casado, Pablo Iglesias, Pedro Sánchez e Albert Rivera EPA/JuanJo Martín

Na noite desta terça-feira teve lugar o segundo debate da campanha para as eleições gerais espanholas. Pedro Sánchez (PSOE), Pablo Casado (PP), Pablo Iglesias (Unida Podemos) e Albert Rivera (Cidadãos) foram os candidatos representados nestes dois debates. O Vox (partido de extrema-direita que, nas sondagens, reúne mais de 10% das intenções de voto) não esteve representado por não ter qualquer deputado, após decisão da Junta Eleitoral Central (JEC).

Confrontados com a improbabilidade de uma solução de partido único, os candidatos foram questionados sobre quais seriam os pactos que fariam para maximizar o número de deputados. O primeiro-ministro Pedro Sánchez fechou a porta a uma coligação socialista que envolva o Cidadãos: “Não está nos meus planos colaborar com um partido que nos colocou um cordão sanitário”.

Por sua vez, Albert Rivera — que já tinha deixado bem claro no primeiro debate que não existia qualquer hipótese de aproximação ao PSOE — atacou o primeiro-ministro e olhou para o Partido Popular para uma possível coligação de direita: “O senhor Sánchez governa com os que querem liquidar o país. Quero tentar formar um governo liberal e centrista, por isso estendo a mão ao senhor Casado. O senhor Sánchez colocou-nos numa emergência nacional.”

O líder do PP, Pablo Casado, foi mais longe e piscou o olho ao Vox, partido de extrema-direita. “Somos os únicos que nunca nos juntamos ao senhor Sánchez, somos a única alternativa. Sánchez converteu-se numa boneca russa, uma matrioska com Bildu e os nacionalistas dentro. Para formar governo, como em Andaluzia, estaremos encantados em estender a mão a outros constitucionalistas. Apresentei a minha candidatura e se o Vox a quiser apoiar que o faça”.

Por último, Pablo Iglesias confirmou a intenção do Cidadãos de estabelecer uma coligação com o PSOE, mas deixou críticas à indecisão do partido de Sánchez: “Temos que ser honestos e decidir com quem iremos colaborar e o Cidadãos não entende a postura de Sánchez.”

Aborto e eutanásia abrem fissuras entre potenciais parceiros de coligação

A elevada importância destes debates prende-se com o elevado número de indecisos. Nas sondagens que têm sido reveladas nos últimos dias, ainda existem 30% de eleitores que não decidiram a quem entregarão o voto.

Apesar de, num primeiro momento, Rivera e Casado terem juntado críticas a Sánchez, quando o debate foi conduzido até às questões sociais fracturantes — com particular atenção para a interrupção voluntária da gravidez e para a eutanásia —, os representantes dos dois partidos mostraram visões díspares.

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Questão da independência catalã marcou os dois debates ALBERT GEA / REUTERS

“Entendo que, para o PP, custe avançar com o aborto. A lei do aborto parece-nos razoável. No que diz respeito à morte digna, o senhor Casado não a quer regular e eu quero fazê-lo. A dor não entende ideologias. A caridade também. Estamos no século XXI e é um direito poder escolher [uma morte digna]”, afirmou Albert Rivera.

Pablo Casado não concordou com o candidato do Cidadãos. “Temos sido pioneiros no assunto da morte digna nas nossas autonomias [territórios]”, defendeu. Pablo Iglesias, do Podemos, diz que o Vox é um “retrocesso aos direitos para as mulheres” e Pedro Sánchez, apresentando um documento oficial e falando directamente para o líder do PP, acusou a extrema-direita na Andaluzia de “fazer uma lista negra” dos trabalhadores que lutam contra a violência de género. A região é governada por um governo composto por Partido Popular e Cidadãos, com o apoio do Vox. Esta solução governativa pôs fim a 36 anos de governação ininterrupta do PSOE.

“Há quem se envolva na bandeira espanhola e não goste de Espanha”

Logo na primeira intervenção da noite, Pedro Sánchez fez questão de deixar bem claro que não colaborou com separatistas, acusando Albert Rivera e Pablo Casado de terem mentido no primeiro debate. O tema da independência catalã marcou a discussão de segunda-feira e voltou a ter alguns momentos de tensão.

Pablo Iglesias tentou colocar alguma água na fervura quando o tema foi novamente colocado em cima da mesa, admitindo a hipótese de uma consulta popular na Catalunha: “Uma das chaves é sermos plurinacionais. Temos que procurar formas para que existam encaixes. Podemos chegar a um entendimento através do diálogo e de forma democrática. Respeitamos que haja um referendo na Catalunha. Há quem se envolva com a bandeira espanhola, mas não goste de Espanha”.

Pedro Sánchez não demonstrou a mesma flexibilidade: “Defendemos a governação autónoma, não vai haver independência nem referendo, mas negociaremos com todas as forças políticas dentro da Constituição”.

Pablo Casado afirma que o seu partido é o “antídoto contra o separatismo”, enquanto Rivera garante que, se o Cidadãos fizer parte da solução governativa, o Governo irá “apoiar os 95% dos espanhóis que luta pela Espanha e não os 5% que querem dividi-la”.

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Pedro Sánchez é inflexível: não haverá referendo na Catalunha JUAN MEDINA / REUTERS

Questão catalã dominou primeiro debate

Esta segunda-feira — no primeiro dos dois debates que antecedem as eleições de domingo — a questão da independência catalã dominou as discussões. Pablo Casado, do PP, e Albert Rivera, líder do Cidadãos, concentraram ataques a Pedro Sánchez, que acusaram de ser demasiado próximo dos líderes do movimento separatista.

Albert Rivera mostrou, inclusive, uma fotografia de Sánchez com Quim Torra, presidente da Catalunha, colocando a hipótese de o primeiro-ministro espanhol estar em dívida para com os separatistas pelo apoio que estes providenciaram na aprovação da moção de censura que levou ao afastamento de Mariano Rajoy.

Casado, por sua vez, disse que considerava vergonhoso o apoio dos líderes catalães em julgamento a Sánchez, “em troca de perdões e autodeterminação”. Sánchez garantiu que não existirá “referendo ou independência” na Catalunha, pedindo aos partidos secessionistas para “regressar à Constituição”.

O primeiro-ministro espanhol respondeu às acusações do líder do PP que, durante a campanha, acusou Sánchez de ter negociado com “aqueles cujas mãos estão manchadas de sangue”, fazendo referência ao EH Bildu. O primeiro-ministro, de papéis na mão, afirmou que o PP também tinha negociado com o partido basco — que chegou a apoiar o agora extinto grupo terrorista ETA. “Estas são 127 iniciativas assinadas pelo ramo basco do PP com o Bildu. Portanto, de que cores são as suas mãos, senhor Casado?”, questionou Sánchez.

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Pedro Sánchez substituiu Mariano Rajoy REUTERS TV

Iglesias, líder do Podemos, foi o candidato menos atacado. A certo ponto do debate, tentou que Sánchez desse a garantia de que não faria qualquer acordo de governação com o Cidadãos, mas foi Rivera que, prontamente, respondeu a Iglesias. “Não se preocupe, não faremos qualquer acordo com Sánchez”.

Como resposta, Iglesias apontou ao opositor falta de coerência. “Disse uma coisa e fez o contrário demasiadas vezes. Disse que nunca colocaria Rajoy no poder”, afirmou o candidato do Podemos, a que Rivera rapidamente retorquiu com a menção da propriedade de luxo que Iglesias adquiriu em Maio avaliada em 600 mil euros.

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