Primeira sonda privada (israelita) viaja na madrugada de sexta-feira para a Lua

Espera-se que o veículo espacial israelita financiado por fundos privados aterre na Lua a 11 de Abril.

Imagem artística da sonda <i>Beresheet</i> na superfície da Lua
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Imagem artística da sonda Beresheet na superfície da Lua Oshratsl
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Equipa da missão com a sonda Beresheet Yoav Weiss

Pela primeira vez, Israel vai lançar uma sonda para a Lua. Chama-se Beresheet – palavra hebraica para “génese” – e viajará até ao nosso satélite natural a bordo de um foguetão Falcon 9 da empresa SpaceX (do multimilionário Elon Musk), descolando por volta da 1h45 (hora de Lisboa) desta sexta-feira no Cabo Canaveral, nos Estados Unidos. Esta é a primeira missão à Lua financiada por fundos privados e, se tudo correr bem, Israel tornar-se-á o quarto país a aterrar na Lua.

Com 585 quilos e cerca de um metro e meio – praticamente do tamanho de uma máquina de lavar –, a Beresheet foi construída pela organização SpaceIL e pela Israel Aerospace Industries (IAI), uma das maiores empresas israelitas na área da defesa. Financiado por fundos privados (e não por iniciativa governamental), este projecto custou 100 milhões de dólares (cerca de 88 milhões de euros).

“Este é o início da história de Israel no espaço profundo… caso seja um sucesso ou um falhanço”, afirmou à agência Reuters Morris Kahn, presidente da SpaceIL. O multimilionário israelita investiu 44 milhões de dólares (cerca de 38,8 milhões de euros) do seu próprio dinheiro para este projecto. O casal multimilionário Miriam e Sheldon Adelson também investiram 24 milhões de dólares (21 milhões de euros) no projecto.

Depois de quase dois meses de viagem e 6,5 milhões de quilómetros, espera-se que a Beresheet chegue à Lua a 11 de Abril. Mas antes, a sonda terá (sobretudo) um obstáculo durante a viagem: a quantidade de energia necessária para chegar ao seu destino. Como o Falcon 9 fornecerá apenas 10% dessa energia​, a Beresheet mover-se-á em órbitas elípticas à volta da Terra tirando partido da atracção gravitacional da Lua. 

Se em Abril a sonda alunar, Israel entra assim no grupo de países que já aterraram na Lua: os Estados Unidos, a Rússia e a China, que no início do ano conseguiu que um veículo pousasse pela primeira vez no lado oculto do nosso satélite natural. A SpaceIL pretende que a Beresheet inspire futuras missões científicas em Israel, segundo a Reuters. Contudo, Yigal Harel (vice-presidente da SpaceIL) disse à mesma agência que a sua organização não tem planos para futuras missões.

Uma “cápsula do tempo”

Durante uma missão programada para durar apenas dois ou três dias na Lua, a sonda israelita usará os instrumentos a bordo para fotografar o sítio onde alunará e para medir o campo magnético da Lua.

Os dados recolhidos pela sonda serão enviados para a estação terrestre da SpaceIL, em Israel, através da Deep Space Network da NASA (rede de antenas a nível internacional usada para comunicar com sondas), explicou à Reuters Yigal Harel.

Com a Beresheet vai ainda uma “cápsula do tempo” com ficheiros digitais do tamanho de moedas que têm textos bíblicos, desenhos de crianças, símbolos israelitas ou memórias dos sobreviventes do Holocausto. “Vão ficar na Lua para sempre”, disse ao jornal The Guardian Yonatan Weintraub, co-fundador da SpaceIL.

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Com a sonda, vai uma cápsula com textos bíblicos, canções, desenhos de crianças ou testemunhos de vítimas do Holocausto Yoav Weiss

O grande objectivo da SpaceIL sempre foi pôr a primeira sonda israelita na Lua. Fundada em 2011, esta organização foi criada por três jovens engenheiros (Yariv Bash, Kfir Damari e Yonatan Winetraub) para concorrer ao desafio internacional Lunar X Prize da Google, que tinha o objectivo de levar uma sonda privada à Lua. A SpaceIL foi mesmo uma das cinco finalistas, mas o concurso terminou em 2018 sem um vencedor, depois de a Google ter retirado o seu patrocínio. Mesmo assim, a organização avançou com o seu projecto.

De acordo com a Reuters, se tudo correr bem, Beresheet será o protótipo de futuras missões na Lua planeadas pela IAI e pela empresa aerospacial alemã OHB System em nome da Agência Espacial Europeia.

E as viagens à Lua não vão parar por aqui este ano: a Índia planeia lançar a Chandrayaan-2 e a China a Chang’e-5.

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