Guaidó diz que ajuda humanitária vai entrar a 23 de Fevereiro

As principais cidades assistiram a novas manifestações convocadas pela oposição a Maduro, que pede às Forças Armadas que permitam a entrada de ajuda para a população.

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Guaidó promete que a ajuda humanitária vai chegar aos venezuelanos Leonardo Munoz/EPA

O presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, prometeu que a ajuda humanitária irá entrar na Venezuela a 23 de Fevereiro, precisamente um mês depois de se ter proclamado Presidente interino. A oposição venezuelana voltou a sair à rua esta terça-feira com a esperança de quebrar o impasse que rodeia o envio de ajuda, recusada pelo Presidente Nicolás Maduro. O regime trouxe igualmente os apoiantes para as ruas, em manifestações de sinal contrário.

O presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, convocou novos protestos em todo o país para aumentar a pressão sobre Maduro na nova frente de embate entre a oposição e o Governo – a ajuda humanitária. “Voltamos às ruas para exigir a entrada da ajuda humanitária que irá salvar a vida de mais de 300 mil venezuelanos que estão hoje em risco de morte”, afirmou Guaidó, que desde que foi declarado Presidente interino, no mês passado, pela Assembleia Nacional, assumiu o protagonismo da oposição ao “chavismo”.

Falando aos seus apoiantes, prometeu que a ajuda humanitária irá chegar a 23 de Fevereiro, mas não explicou como irá superar a resistência das Forças Armadas. "A ajuda humanitária irá entrar na Venezuela sim ou sim. Porque o usurpador vai ter que sair sim ou sim", afirmou, referindo-se a Maduro.

Há cinco dias que vários contentores de alimentos e medicamentos estão armazenados em Cúcuta, cidade colombiana próxima da fronteira, sem poder seguir viagem por causa de um bloqueio imposto pelas Forças Armadas. O envio da ajuda foi coordenado por uma comissão da Assembleia Nacional, em conjunto com a USAID, a agência de cooperação internacional do Departamento de Estado norte-americano, e com o Governo colombiano.

O objectivo é combater a escassez de alimentos e medicamentos na Venezuela. A FAO, a agência da ONU para a alimentação, disse que 1,2 milhões de venezuelanos atravessaram a fronteira para a Colômbia “esfomeadas”. Nos últimos anos, o país tem atravessado uma crise económica aguda, com uma inflação galopante e a impossibilidade de importar vários produtos de primeira necessidade.

O envio de ajuda humanitária tornou-se parte do confronto institucional entre o Governo venezuelano e a oposição, os primeiros à procura de legitimidade e os segundos de poder efectivo. Aproveitando o Dia da Juventude, que comemora uma batalha da Guerra de Independência da Venezuela, Guaidó convocou manifestações em todo o país que também recordam muitos dos manifestantes mortos em confrontos com as forças de segurança – calcula-se que tenham morrido 40 pessoas em Janeiro nessas circunstâncias.

O grande objectivo da oposição é apelar directamente às Forças Armadas para que viabilizem a passagem dos camiões com ajuda humanitária. “Enviamos-vos uma mensagem clara: unam-se à luta dos venezuelanos e permitam o acesso de alimentos e medicamentos de que necessita a nossa gente”, afirmou Guaidó, na véspera da manifestação.

A proclamação de Guaidó como Presidente interino, acusando Maduro de “usurpação” do cargo - dado que as eleições presidenciais de Maio de 2018 não são reconhecidas como livres e justas -, deu à oposição venezuelana uma força renovada, que se ampliou pelo rápido reconhecimento da legitimidade do presidente da Assembleia Nacional por vários países da América Latina e da União Europeia. Desde então, a fractura social do país aprofundou-se, com os dois pólos opostos a lutarem pelo poder e pelo reconhecimento. Guaidó e os seus aliados internacionais querem a marcação de novas eleições presidenciais, mas Maduro insiste que as de Maio do ano passado foram justas e livres, rejeitando regressar às urnas.

Os esforços de mediação internacional têm sido infrutíferos. A primeira reunião do grupo de contacto que junta países europeus, incluindo Portugal, e sul-americanos não conseguiu chegar a acordo para uma posição conjunta, mas também não existe vontade da oposição em voltar a sentar-se à mesa com o Governo, que acusa de apenas tentar ganhar tempo.

A oposição tem tentado encontrar brechas nas fileiras das Forças Armadas, convicta de que é no apoio militar que reside o esteio do regime. A entrada de ajuda humanitária tornou-se no mais recente campo de batalha, embora Guaidó tenha assegurado que não pretende “politizar” o tema.

Maduro recusa “show”

Maduro não parece, no entanto, dar sinais de vir a mudar de ideias em relação à entrada de ajuda humanitária no país. Em entrevista à BBC, o Presidente venezuelano voltou a apelidar de “show” o envio de bens de primeira necessidade pelos EUA com o objectivo de “humilhar” o país. “A Venezuela é um país com capacidade para satisfazer todas as necessidades do nosso povo”, garantiu. O “chavismo” também convocou marchas para esta terça-feira para comemorar o Dia da Juventude e para denunciar a “intervenção imperialista”.

O líder venezuelano insiste em culpar os Estados Unidos pela crise política e económica no país, acusando o Presidente Donald Trump de ser um “extremista” e de estar a asfixiar o país para poder justificar uma intervenção militar. “É muito simples, se querem ajudar a Venezuela devolvam os biliões de dólares em recursos que nos pertencem”, afirmou Maduro.

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