Europa e Ásia reforçam compromisso com o comércio global livre sem nunca falar de Trump

Na maior cimeira de Bruxelas, os líderes de 51 países europeus e asiáticos, que representam 65% do PIB mundial, deixaram um aviso de que a sua acção conjunta pode ter um "impacto poderoso"

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51 líderes europeus (além da UE também a Noruega, Suíça e Rússia) e asiáticos estiveram reunidos em Bruxelas Reuters/PIROSCHKA VAN DE WOUW

A 12.ª cimeira entre a União Europeia e Ásia, esta sexta-feira em Bruxelas, serviu para os 28 Estados-membros e os seus parceiros asiáticos fazerem uma manifestação da sua força e se apresentarem como os campeões do comércio livre a nível global — num evidente, embora não assumido, contraste com o proteccionismo e unilateralismo dos Estados Unidos de Donald Trump, e também num sinal de vitalidade e solidez no actual contexto do “Brexit”.

Como ficou claro, os dois blocos querem “valer” mais do que os 65% do PIB mundial que juntos representam. A ideia é que a sua parceria (a reunião decorreu sob o mote “Parceiros Globais para Desafios Globais”) possa transformar-se numa plataforma de diálogo e cooperação multilateral, assente num sistema de regras internacionais, em matérias que vão desde o combate às alterações climáticas, à promoção dos objectivos de desenvolvimento do milénio e ao compromisso com a não-proliferação nuclear — na península coreana ou no Irão. “Se a UE e a Ásia actuarem em conjunto, o impacto da sua acção é poderoso”, notou um diplomata europeu envolvido na preparação da cimeira.

Os 51 líderes europeus (além da UE também a Noruega, Suíça e Rússia) e asiáticos que estiveram reunidos em Bruxelas comprometeram-se a cumprir as regras de um sistema comercial “aberto, justo e liberal” e a combater “todas as formas de proteccionismo”. A frase, que consta no documento de conclusões, deixa subentendida a referência às novas tarifas alfandegárias que os EUA começaram a aplicar, tanto à UE como à China, e que ameaçam a estabilidade do comércio global.

Porém, algumas divergências existentes entre os europeus e os asiáticos, nomeadamente os países que Bruxelas acusa de distorcer os mercados com subsídios estatais e outras medidas que levam à super-capacitação industrial em vários sectores, com a China à cabeça, permaneceram no final da reunião. Foi, aliás, necessário reescrever vários pontos da declaração final para obter a luz verde de Pequim.

Outros parágrafos, de referência aos desafios políticos e de segurança, também foram revistos para iludir as tensões e as discórdias entre os países, incluindo aquelas entre os asiáticos. “Conseguir um consenso entre a Rússia, a China e a Europa nunca é uma coisa simples”, admitiu um diplomata, vincando mesmo assim a importância política das conclusões da cimeira.

Pontos sobre terrorismo e migrações foram suavizados, tal como a linguagem sobre o conflito que tomou conta do estado de Rakhine, junto à fronteira da Birmânia e do Bangladesh, onde se refugiaram milhares de  apátridas da minoria Rohingya perseguidos pelo Exército birmanês.

À margem da cimeira, a UE firmou um novo tratado de livre comércio com Singapura, que estava a ser negociado há oito anos. Para breve, revelaram fontes comunitárias, está a assinatura de acordos idênticos com o Japão e o Vietname, e ainda a Indonésia e a Malásia. “O nosso objectivo é, no futuro, poder estabelecer uma área de comércio livre de região para região, entre a UE e a Associação das Nações do Sudeste Asiático, mas ainda não chegamos lá”, admitiu um diplomata.

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