A seguir à explosão do início do ano, economia regressa à normalidade

Banco de Portugal manteve previsão de crescimento de 2,5% para 2017. Na primeira metade a economia cresceu 2,9%, apontando-se agora para um abrandamento para 2% no segundo semestre.

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Banco de Portugal vê a economia a crescer 2,5% este ano Enric Vives-Rubio
Banco de Portugal vê a economia a crescer 2,5% este ano
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Banco de Portugal vê a economia a crescer 2,5% este ano dro Daniel Rocha

Depois de um primeiro semestre excepcional, em que a economia portuguesa cresceu acima do nível considerado sustentável, começaram já a surgir no terceiro trimestre do ano os primeiros sinais de que o investimento e as exportações estão a caminhar para um ritmo mais moderado, assinala o Banco de Portugal, que ainda assim, para o total de 2017 continua a apontar para uma taxa de variação do PIB de 2,5%, um valor que, desde a criação do euro, apenas encontra paralelo no ano de 2007.

Nas estimativas para a economia portuguesa que divulgou esta quarta-feira, o banco central não alterou a projecção para o Produto Interno Bruto que tinha apresentado em Junho. E, por isso, o crescimento de 2,5% antecipado pelo Banco de Portugal permanece ligeiramente abaixo dos números avançados por outras entidades durante o passado mês de Setembro. O Conselho das Finanças Públicas antecipou na semana passada um crescimento de 2,7%, a Standard & Poor’s de 2,8% quando subiu o rating português e o ISEG estimou que o valor final ficará situado entre 2,6% e 3%.

Todas estas previsões já apontam para um ligeiro abrandamento da actividade económica durante o segundo semestre deste ano face ao primeiro. O Banco de Portugal, com os seus 2,5%, antecipa um abrandamento um pouco mais acentuado, em que depois de uma variação homóloga do PIB de 2,9% no primeiro semestre, a economia crescerá a um ritmo próximo de 2% na segunda metade do ano.

O Banco de Portugal, contudo, faz questão de salientar que, mais do que uma viragem negativa na economia, aquilo a que se deverá estar a assistir é somente a estabilização da economia num ritmo de crescimento mais “normal” depois de uma primeira metade do ano com resultados excepcionais que seriam muito difíceis de replicar. “O elevado crescimento observado no primeiro semestre não corresponde ao crescimento tendencial sustentável da economia portuguesa”, afirma o relatório publicado pelo Banco de Portugal.

Em particular, para a entidade liderada por Carlos Costa, seria sempre muito difícil que as exportações e o investimento mantivessem o mesmo desempenho dos primeiros seis meses do ano. Ao nível das exportações, por exemplo, é preciso ter em conta que as receitas do turismo registaram o maior crescimento das últimas duas décadas, desde a realização da Expo 98, e com um segundo trimestre em que a variação homóloga superou mesmo os 20%.

Agora, nas previsões publicadas esta quarta-feira, o Banco de Portugal, não só antecipa um abrandamento face à primeira metade do ano, como revê as suas projecções em baixa para todos os indicadores relativamente ao que tinha antecipado no passado mês de Junho.

No caso do consumo privado, antecipa agora um crescimento de 1,9%, quando apontava para 2,3% há três meses. Para o investimento, a projecção passou de 8,8% para 8%, um valor que leva em linha de conta os primeiros indicadores já registados no terceiro trimestre no sector da construção, como por exemplo as vendas de cimento.

No que diz respeito às exportações, a previsão do banco central passou de 9,5% para 6,9%, um resultado que acompanha o abrandamento registado nas importações do principais parceiros europeus e que coloca a quota de mercado da exportações portuguesas ainda a subir, mas a um ritmo mais moderado, depois da muito forte subida do primeiro semestre do ano. “O ritmo de crescimento das exportações de serviços que caracterizou os últimos trimestres não se afigura sustentável por um período prolongado”, diz o banco.

Ainda assim, a previsão para o PIB mantém-se inalterada face a Junho porque as importações também crescem menos que o previsto (7,1% em vez de 9,6%) e  porque a variação da existências beneficiou mais o PIB.

No meio deste cenário de abrandamento na fase final do ano, e ao mesmo tempo que lança os habituais avisos para as debilidades estruturais acumuladas ao longo de anos na economia, o Banco de Portugal destaca ainda assim alguns sinais positivos que podem fazer acreditar num aumento do potencial de crescimento da economia portuguesa.

Em primeiro lugar, a economia continua a crescer à base do investimento e das exportações, o que, diz o banco, “tenderá a contribuir favoravelmente para o crescimento do produto potencial no futuro”.

Depois, quando se olha para os ganhos de quota de mercado das exportações portuguesas, verifica-se que estas não estão a acontecer por via de uma redução dos preços, algo que “reforça a ideia da sua sustentabilidade”.

Por fim, os saldos com o exterior continuam a manter-se em valores positivos. E por isso, diz o banco central, “a evolução da economia portuguesa no primeiro semestre de 2017 continuou a ser compatível com a sustentação de equilíbrios fundamentais em termos dos fluxos macroeconómicos”.

Menos positiva é a manutenção da descida da produtividade. Tal acontece porque, a um nível de crescimento muito elevado no primeiro semestre, correspondeu um crescimento ainda mais forte do nível do emprego. 

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