Nos 70 anos de Locarno, um jovem cineasta português está a concurso

Verão Danado, primeira longa de Pedro Cabeleira, concorre no festival suíço que premiou em anos anteriores Pedro Costa e João Pedro Rodrigues. Wang Bing, Raul Ruiz e Denis Côté são outros nomes da edição 2017.

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Verão Danado, de Pedro Cabeleira DR

Nos 70 anos do festival de Locarno, que se comemoram de 2 a 12 de Agosto em edição cuja programação foi anunciada na manhã desta quarta-feira em conferência de imprensa, Nastassja Kinski, Adrian Brody, Mathieu Kassovitz e Jean-Marie Straub terão direito a homenagem, o mestre Jacques Tourneur será agraciado com uma retrospectiva de carreira. E, depois dos prémios de melhor realizador a Pedro Costa por Cavalo Dinheiro, em 2014, e a João Pedro Rodrigues por O Ornitólogo em 2016, Locarno volta a receber cinema de produção portuguesa.

Estamos longe do ano-recorde de 2016, que teve seis filmes nas competições, mas há dois filmes a concurso, um terceiro fora de concurso e duas co-produções. A única longa nacional em competição está no concurso paralelo Cineastas do Presente, dedicado a primeiras e segundas obras de longa-metragem: trata-se de Verão Danado, primeira longa de Pedro Cabeleira, com direcção de fotografia de Leonor Teles (Balada de um Batráquio). No concurso de curtas Pardo di Domani encontramos o documentário António e Catarina, de Cristina Hanes; fora de concurso exibe-se a curta O Homem de Trás-os-Montes, de Miguel Moraes Cabral, que teve estreia no IndieLisboa em Maio último. Na competição principal do certame está 9 Doigts, do francês F. J. Ossang, rodada em Portugal com o apoio de O Som e a Fúria, e nos Cineastas do Presente a francesa Valérie Massadian (Nana) apresenta a sua segunda longa Milla, co-produzida com a Terratreme. 

Verão Danado, produzido em regime quase de no-budget, é a primeira longa de um realizador recém-saído da Escola Superior de Teatro e Cinema, pretendendo propor um retrato da geração millennial portuguesa através do verão de um jovem recém-licenciado (Pedro Marujo) à beira de entrar no mundo adulto. António e Catarina, por seu lado, é um documentário dirigido pela romena Cristina Hanes na sequência do seu mestrado no âmbito do programa trans-europeu DocNomads, realizado com a Universidade Lusófona. O Homem de Trás-os-Montes é uma ficção à volta de uma equipa que filma um documentário sobre as tradições e o quotidiano daquela região.

Se a presença nacional é mais modesta do que em anos anteriores, não deixa de confirmar, pela própria singularidade das escolhas 2017, a aposta continuada do festival no cinema de autor – basta recordar os prémios recebidos noutros anos por Pedro Costa, Joaquim Pinto, Gonçalo Tocha ou José Álvaro de Morais.

O maior ecrã de cinema da Europa

A edição 2017 traz vários nomes de peso: no concurso internacional encontramos o canadiano Denis Côté (Ta Peau si Lisse), o documentarista chinês Wang Bing (Mrs. Fang) ou o francês Serge Bozon (Madame Hyde, com a incontornável Isabelle Huppert e Romain Duris). Do Brasil vem a longa-metragem de terror de Juliana Rojas e Marco Dutra As Boas Maneiras (na competição principal), e o novo filme de Adirley Queirós, Era uma Vez Brasília (na paralela Signs of Life). Há dois fenómenos recentes do cinema indie americano: Lucky, estreia na realização do actor John Carroll Lynch, com Harry Dean Stanton no papel de um ateu de 90 anos a confrontar a sua mortalidade; e Did You Wonder Who Fired the Gun? , adaptação de uma performance de Travis Wilkerson sobre um incidente racista que aconteceu na sua própria família. Mas também um filme “póstumo” do chileno Raul Ruiz (Mistérios de Lisboa), falecido em 2011: La Telenovela Errante, que Ruiz começou a rodar no Chile em 1990 mas nunca terminou, e que foi agora acabado por uma equipa liderada por Chamila Rodríguez, Galut Alarcón e pela viúva Valeria Sarmiento.

O festival, que decorre de 2 a 12 de Agosto, comemora também o seu 70.º aniversário com a abertura do PalaCinema, com três salas construídas de raiz junto à Piazza Grande, onde o maior ecrã de cinema da Europa receberá durante todo o festival uma série de projecções ao ar livre. Entre os filmes escalados para as sessões da Piazza Grande estão Good Time, dos irmãos Safdie, com Robert Pattinson, o thriller Atomic Blonde, de David Leitch (John Wick) com Charlize Theron, e a aclamada comédia americana de Michael Showalter The Big Sick, com Kumal Nanjiani e Zoe Kazan. 

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