Passos recebe clientes desesperados do antigo BES

Os dois líderes da coligação PSD/CDS fizeram poucos contactos na rua em Sintra e no Cadaval.

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Os lesados do BES voltaram a marcar presença na campanha PSD/CDS Miguel Manso

Outros, mais discretos, foram aconselhados a esperar em silêncio por Passos Coelho, dentro das instalações dos bombeiros voluntários do Cadaval, onde a coligação se preparava para ouvir agricultores. Três foram recebidos pelo primeiro-ministro, mas no final mantinham a desilusão com a resposta: a solução aconselhada era recorrer aos tribunais e não andar atrás da campanha.

Ana Clara Henriques era uma das lesadas do BES que esteve numa sala com Passos Coelho e candidatos a deputados. Emigrante em França perdeu 50 mil euros. “O marido de uma senhora [lesada do BES] tem quase 90 anos. Quando é que isso se vai resolver?”, questionou a antiga cliente à saída do encontro.

Passos Coelho terá garantido que vai continuar a fazer pressão junto dos reguladores. “Isso não chega”, disse, desesperada. Logo à chegada da caravana com os dois líderes, os protestos, ainda que reduzidos, causaram alguma tensão na comitiva. Ana Clara Henriques ganhou a atenção mediática e a seguir foi convidada a retirar-se para uma sala, longe dos jornalistas, onde esperou mais de uma hora para falar com Passos Coelho.

Durante esse tempo, os dois líderes estiveram num auditório a ouvir representantes de associações de agricultores. O presidente do CDS (que no governo tem a pasta da agricultura) mostrou saber na ponta da língua os números do sector. E no final apelou aos agricultores para votarem na coligação, empregando os mesmos argumentos dos últimos dias: o risco de instabilidade num futuro Governo PS e a possibilidade de se alargar a partidos que defendem a saída do euro (PCP).

À saída da sessão, outros populares insultaram o primeiro-ministro e à noite uma dezena de manifestantes buzinavam frente ao restaurante do jantar-comício, em Torres Vedras, com cartazes em inglês.

Poucos contactos na rua
Ao longo do dia, poucos são os contactos que os dois líderes têm com a rua, sem estarem rodeados de seguranças ou de jotinhas. Foi assim também de manhã em Sintra, numa visita relâmpago no centro turístico.

No arranque oficial da campanha, a mensagem tem por base a recuperação do país, a segurança e a estabilidade política. Passos Coelho foi questionado sobre se viabilizaria um Orçamento do Estado do PS, caso estivesse na oposição. “A melhor resposta que posso dar é ver o comportamento que tive enquanto era líder da oposição”, afirmou, referindo-se à aprovação pelo PSD, durante a sua liderança do partido, de um aumento de impostos proposto pelo PS, com o argumento de que não estava a ajudar o Governo PS mas sim o país. “Estamos encontrar um resultado para esta coligação que nos permita governar em melhores condições. Esse é o objectivo. Não é especular se perdermos as eleições”, acrescentou.

A questão dos entendimentos – neste caso da Segurança Social – veio à baila ao almoço com apoiantes em Mafra. Passos começou por reconhecer que é muitas vezes abordadas por reformadas que lhe perguntam se conseguia viver com 350 euros por mês ou menos.

“Nós que actualizamos sempre as pensões mínimas que outros congelaram, preservamos sempre os mais frágeis nos tempos de dificuldades. E eu pergunto para os meus botões: Como é que, em 40 anos de democracia, o nosso estado social não foi capaz de dar uma perspectiva de presente a pessoas que trabalharam toda uma vida”, interrogou-se. 

Mais uma vez, coube ao número dois da coligação fazer o ataque mais duro ao PS. “Olhando para o programa de Segurança Social parece que o PS foi tomado de assalto por um grupo de ultraliberais. E pimba sai uma aventura de 6 mil milhões de euros na sustentabilidade necessária ao pagamento das actuais pensões e sai uma incógnita de 1.020 milhões de euros com toda a probabilidade de afectar os mais desfavorecidos”, afirmou.

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