Em três dias, Sánchez tem de conseguir que os independentistas o ajudem a derrubar Rajoy

Dependente dos partidos bascos e catalães, o sucesso da moção de censura apresentada pelo PSOE contra o primeiro-ministro espanhol é difícil. Debate no Parlamento está marcado para quinta e sexta-feira.

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Pedro Sánchez, o líder do PSOE, tem uma missão difícil Zipi/EPA

Pedro Sánchez, líder do PSOE, não terá vida fácil para reunir apoio suficiente para aprovar a moção de censura contra o presidente do Governo espanhol, Mariano Rajoy. Dependentes dos partidos independentistas representados no Parlamento de Madrid, os socialistas receberam exigências incomportáveis em troca do voto favorável à moção.

Depois de conhecidas as pesadas sentenças contra vários dirigentes do PP no âmbito do “caso Gürtel” - no qual o juiz decretou esta segunda-feira prisão sem lugar a fiança para o ex-tesoureiro do partido, Luis Bárcenas e alguns dos outros 12 condenados - , o líder socialista avançou com uma moção de censura contra o chefe do Governo. Sánchez exige que Rajoy assuma responsabilidades políticas sobre a rede de corrupção e financiamento ilegal de campanhas do Partido Popular, principalmente nas suas lideranças regionais.

Nesta segunda-feira, o texto da moção foi apresentado a Ana Pastor, presidente do Congresso. Esta aprovou-o e marcou o debate sobre a moção para quinta e sexta-feira.

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Negociar votos

Sánchez tem assim três dias para conseguir o que parece cada vez mais difícil: conseguir votos suficientes para aprovar a destituição de Rajoy. Mas para que a moção seja aprovada é necessário o voto favorável de pelo menos 176 deputados. O PSOE tem apenas 84.

O Cidadãos, que conta com 32 deputados, revelou imediatamente que o seu desejo é a realização de eleições antecipadas e que não aprova a moção socialista, que prevê que Sánchez ocupe o cargo de chefe do Governo para depois agendar novas eleições, se bem que não foi dado nenhum prazo para esse agendamento.

Mais tarde, o partido liderado por Albert Rivera acabou por afirmar que apoiará a moção se na liderança do Governo for colocada uma figura “neutral”.

Mesmo um dos poucos partidos que assegurou até aqui o seu apoio “sem condições”, o Unidos Podemos (67 deputados), começa a dar sinais de que poderá recuar e prepara algumas exigências em troca do seu voto. A direcção do partido quer ouvir as bases para tomar uma decisão final, e afirmou que quer a formação um Governo “progressista” se o actual cair. Caso contrário, exige eleições antecipadas o mais rapidamente possível.

Além do Podemos, a coligação nacionalista valenciana, o Compromís, que tem quatro deputados, já deu o seu respaldo aos socialistas.  

Mesmo que garanta o apoio do partido liderado por Pablo Iglesias, Sánchez tem de convencer os partidos independentistas bascos e catalães a juntarem-se a si. E esta parece ser a via mais complicada.

O Partido Nacionalista Basco, que tem cinco deputados, já se tinha disponibilizado a negociar com os socialistas. Mas, em declarações ao Diário Basco, Andoni Ortuzar, presidente do partido, revelou que apoiará a moção desde que não se realizem eleições já, contrariamente ao pretendido por Rivera e Iglesias.  

Além disso, os bascos, que foram fundamentais para a aprovação do Orçamento do Estado, querem saber o que os socialistas lhes têm para oferecer, pedindo que um eventual Governo socialista garanta pelo menos o equivalente ao País Basco do que foi conseguido durante as negociações para o orçamento.

Na frente catalã as negociações não se prevêem simples, tendo em conta as evidentes divergências entre os partidos independentistas e o PSOE que se agravaram na sequência do processo independentista na Catalunha.

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O presidente da Generalitat, Quim Torra, quer a libertação dos presos políticos MARTA PEREZ/EPA

No domingo, o actual president catalão, Quim Torra, disse que a moção só terá o seu apoio se o PSOE defender publicamente a libertação dos responsáveis políticos independentistas que se encontram detidos e o direito à autodeterminação da Catalunha.

Nesta segunda-feira, os socialistas rejeitaram liminarmente esta proposta. A porta-voz do grupo parlamentar do PSOE, Margarita Robles, afirmou mesmo que as exigidas demonstra por Torra demonstram “falta de respeito”.

Torra fez parte da lista eleitoral do Juntos pela Catalunha mas como independente, pelo que a sua posição não vincula a dos partidos que fazem parte desta coligação. Porém, como presidente da Generalitat, é provável que sua opinião seja ouvida de forma atenta.

Marta Pascal, coordenadora do PDeCAT (oito deputados), admitiu que um dos objectivos do partido é derrubar Rajoy mas que o seu apoio à moção só acontecerá se o Cidadãos não entrar nesta solução.

A Esquerda Republicana (ERC), que conta com nove deputados, pediu a Sánchez que “rectifique” as suas posições relativamente ao processo independentista catalão, mas não avançou com nenhuma condição em concreto.

Porém, o porta-voz do Juntos pela Catalunha, Eduard Pujol, reiterou aquilo que já tinha questionado anteriormente: “Podem-me explicar de que servirá aos catalães que esteja Rajoy ou Sánchez [na liderança do Governo]?”.

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