Esquerda elogia apelo a consensos, mas espera para ver exercício do mandato

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Cerimónia de tomada de posse no Parlamento Rafael Marchante/Reuters

De um modo geral, a esquerda valorizou o apelo ao consenso e à construção de pontes políticas feito pelo novo chefe de Estado, desejou que Marcelo Rebelo de Sousa cumpra e faça cumprir a Constituição, mas aguarda para ver a concretização no exercício do mandato.

O primeiro-ministro foi muito parco na apreciação do discurso de Marcelo Rebelo de Sousa. “Hoje, o Presidente da República falou por todos nós. É tempo de escutar e não de falar. Fez um discurso em que todos nos podemos reconhecer”, limitou-se a afirmar António Costa à saída da sessão de cumprimentos que se realizou no salão nobre da Assembleia da República.

O presidente do PS e da bancada parlamentar do PS destacou que Marcelo traz a “confiança nas instituições e uma tranquilidade relativamente ao relacionamento institucional futuro”. Carlos César concorda com o Presidente na questão de ser preciso criar um “ambiente de coesão nacional” e considerou importante a referência à “dimensão nacional, atlântica, universal”. O dirigente socialista vincou a necessidade de “afirmarmos com qualidade a imagem do país no exterior” e que a construção de consensos deva associar “finanças sãs ao crescimento económico, ao crescimento do emprego e, sobretudo, à justiça social”.

O presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, observou que Marcelo “leu bem as prioridades e a situação do país” e que “entrou com o pé direito”. Mas salientou ser “importante criar o clima para que essa convergência e esse consenso aconteçam”.

As maiores dúvidas vieram das bancadas mais à esquerda – que no plenário não aplaudiram o discurso de Marcelo. Jerónimo de Sousa comentou que “não basta ter boas intenções – é preciso uma prática” e que é preciso definir em torno de quê se faz a convergência e o consenso.

O secretário-geral do PCP afirmou que a forma de sarar as feridas – expressão usada por Marcelo – é “encetar outra política diferente daquela que foi seguida nestes últimos anos”, mas salientou que o novo Presidente da República, “tal como era expectável”, não está disponível para começar “qualquer processo de ruptura”. Jerónimo disse que para o PCP as feridas que é preciso sarar são as dos que “viram as suas vidas destruídas, que tiveram de emigrar, que perderam o emprego ou cuja reforma não chega”, mas admitiu que “talvez” o Presidente não estivesse a pensar nas mesmas chagas.

Heloísa Apolónia, do PEV, salientou que Marcelo “jurou” perante o Parlamento “cumprir e fazer cumprir a Constituição”. “Esperamos que isso não fique por palavras e que nos actos tenha em conta a Constituição, que está repleta de valores que têm sido violados”, disse a deputada.

Catarina Martins registou as promessas de Marcelo, mas prefere aguardar “pelos dias e pelo mandato que se segue”, prometendo, no entanto, a “colaboração institucional necessária” com Belém. “Tivemos nos últimos anos um Presidente da República que faltou vezes de mais [ao respeito] à lei fundamental do país, em que assenta o contrato democrático e o contrato social – a Constituição. Será relevante, num próximo mandato, corresponder à “expectativa legítima da democracia” de que a Constituição possa ter “o peso devido” na vida do país. Considerando ser “fundamental” o diálogo “muito amplo e muito aberto”, a porta-voz bloquista rejeitou os “falsos consensos do chamado 'centrão político', que responde muito ao centrão do poder económico”.

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