Portugal emite dívida pública a cinco e dez anos com juros mais altos

Tesouro financiou-se em 1215 milhões de euros, com taxas de juro de 3,1% e 2%.

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Procura superou a oferta, embora baixando em relação aos leilões anteriores PATRÍCIA DE MELO MOREIRA

O Tesouro foi ao mercado na manhã desta quarta-feira financiar-se em 1215 milhões de euros em dívida pública a reembolsar dentro de cinco e dez anos, registando taxas de juro em alto em relação a emissões anteriores, em Julho e Novembro do ano passado. O montante obtido pelo IGCP, a agência responsável pela gestão da tesouraria pública, ficou abaixo do valor máximo apontado para este leilão (o intervalo pretendido era entre 1000 milhões e 1250 milhões de euros).

Nas obrigações do tesouro com um vencimento de dez anos, Portugal emitiu 621 milhões de euros a uma taxa de juro de 3,138%, acima dos 2,429% registados no leilão com uma maturidade idêntica, realizado em Novembro. Em obrigações a cinco anos, foram colocados 594 milhões de euros, a taxa de juro foi de 2,03%. A operação anterior imediatamente comparável é mais distante – realizou-se em Julho do ano passado, altura em que se verificou uma taxa de 1,42%.

Como habitualmente, a procura superou a oferta, embora baixando em relação aos leilões anteriores: no caso dos títulos com uma maturidade mais longa, até 2026, a procura foi 1,6 vezes a oferta; nos títulos que vencem em 2021 foi de 1,54 vezes a oferta.

O leilão realizou-se na véspera da reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) onde se espera que Mario Draghi anuncie novos estímulos monetários para impulsionar as economias da zona euro, puxar pela inflação, riscos sobre o crescimento e volatilidade nos mercados financeiros.

Os analistas aguardam com expectativa o resultado da reunião de quinta-feira, prevendo que mais estímulos permitam também a manutenção de baixas de juro nas várias economias, sublinha Pedro Ricardo Santos, gestor da corretora XTB Portugal, alertando porém para o faco de o risco associado a questões orçamentais falar “mais alto na hora de negociar o financiamento ao Estado português”.

O aumento dos juros, vinca o analista numa nota enviada às redacções, revela “a crescente percepção de risco por parte dos mercados, que exigem uma maior remuneração para emprestar dinheiro a República Portuguesa”. Para o analista, “as exigências de mais medidas orçamentais ao executivo português por parte das instituições europeias alimentam receios de que mais austeridade fragilize o acordo das esquerdas parlamentares”.

Filipe Silva, director da gestão de activos do Banco Carregosa, sublinha que, apesar do agravamento dos juros, “as taxas de hoje saíram em linha com o que está a ser praticado no mercado” e vinca que “o país continua a conseguir colocar dívida, de longo prazo, sem qualquer problema, mantendo a procura constante”. E é difícil prever cenários, diz Filipe Silva. “Se voltaremos  ao nível de juros entre 1 a 2% ou nos encaminharemos para mais perto dos 4,5%, é difícil antecipar. Para já, aguardamos com grande expectativa o que fará amanhã o BCE, que ditará, certamente, o futuro próximo da dívida portuguesa”.

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