Os BAFTA a caminho dos Óscares, a última paragem da temporada de prémios

Os principais prémios britânicos foram entregues a 12 Anos Escravo e Gravidade. Mas que sinais dá esta última cerimónia na longa corrida até aos Óscares?

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Chiwetel Ejiofor e o BAFTA de melhor actor Suzanne Plunkett/REUTERS
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Cate Blanchett Luke MacGregor/Reuters
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Alfonso Cuarón celebra o seu BAFTA com Oprah Winfrey e com o produtor de Gravidade, David Heyman Suzanne Plunkett/REUTERS
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Steve McQueen, ao centro, com a equipa de 12 Anos Escravo CARL COURT/AFP
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Barkhad Abdi, vencedor do BAFTA para melhor actor secundário, e Emma Thompson Suzanne Plunkett/REUTERS

A duas semanas dos Óscares, os BAFTA, a última grande paragem do comboio da temporada de prémios de cinema de 2014, premiaram alguns favoritos. O melhor filme foi 12 Anos Escravo, de Steve McQueen, o melhor filme britânico foi Gravidade, do melhor realizador Alfonso Cuarón, e Cate Blanchett foi mais uma vez a melhor actriz em Blue Jasmine. Mas os prémios da Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas são ou não indicadores para os Óscares, com os quais têm apenas em comum cerca de 250 votantes?

Antes da cerimónia de domingo à noite em Londres, confirmava-se na passadeira vermelha o que há perto de uma década se faz notar: os prémios da Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas têm ganho importância em vésperas de Óscares, e isso nota-se no star power das cerimónias, que recebem cada vez mais nomes de primeira linha da indústria, e na respectiva cobertura mediática. Como explicam os analistas, isso deve-se em muito ao facto de, em 2001, os BAFTA terem passado a realizar-se antes dos Óscares e não em Abril, o seu lugar no calendário até ao início deste século.

Nos últimos anos nota-se também na crescente importância dos BAFTA, o “crossover entre o Reino Unido e os EUA”, como disse o actor David Morrissey à entrada dos BAFTA, uma cerimónia que teve um príncipe, William, a entregar o prémio carreira a Helen Mirren, mas também muitos vencedores ingleses – independentemente da existência de um prémio de melhor filme britânico.

O vencedor deste último galardão, a odisseia espacial em 3D Gravidade, também estava nomeado para melhor filme nos BAFTA. É um título hollywoodesco em dimensão e protagonistas (Sandra Bullock e George Clooney), mas mexicano no realizador (Cuarón), no argumento (Alfonso e Jonas Cuarón) e na fotografia, embora tenha produção e efeitos especiais britânicos. Já 12 Anos Escravo é um filme de produção e carga americana sobre a escravatura no século XIX, mas com um protagonista e um realizador britânicos (vencedor do Turner, o prémio de artes mais importante do Reino Unido, em 1999). A concurso nos BAFTA estava ainda Filomena, de Stephen Frears, um filme britânico sobre uma mãe irlandesa (Judi Dench) forçada a entregar o seu filho para adopção, com argumento do também protagonista masculino Steve Coogan e de Jeff Pope – que receberam o BAFTA de melhor argumento adaptado. Os três títulos concorrem para o Óscar de Melhor Filme.

A “invasão britânica” no cinema e televisão americanos, a maior e mais global indústria do mundo, é outro dos factores que ajudam os BAFTA a posicionar-se como uma antecâmara da cerimónia-corolário da temporada anual de prémios. Mas, sendo uma antecâmara, os BAFTA são também uma antevisão dos Óscares? “Não”, escreve Tim Gray, o editor da Variety especializado na temporada de prémios. Já o analista da Hollywood Reporter, Scott Feinberg, é menos taxativo quando responde à sua própria pergunta sobre se os BAFTA representam uma verdadeira antecipação dos Óscares. “Sim e não”, escreve.

Ambos assinalam que os dois prémios têm grupos de votantes diferentes – os BAFTA têm 6500 votantes, 1500 nos EUA e os restantes no Reino Unido, e a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood é composta por cerca de 6000 membros da indústria, sendo os actores o grupo mais representado. Em comum têm cerca de 250 pessoas, mas como especifica Feinberg, o facto de os prémios britânicos terem sido entregues em pleno período de votação para os Óscares (de 14 a 25 de Fevereiro), as escolhas da academia britânica podem “equilibrar os votos de alguns membros da academia” americana. “Uma coisa é certa”, diz Gray, “haverá um genuíno suspense até que o último envelope seja aberto a 2 de Março” nos Óscares, quando é revelado o melhor filme de 2013.

Favoritos e esquecidos

Na longa noite desse domingo de Óscares, a luta final será entre Capitão Phillips, 12 Anos Escravo, Filomena, Golpada Americana, Gravidade, Her – Uma História de Amor, O Lobo de Wall Street, Nebraska e O Clube de Dallas. Este último, que ainda não se tinha estreado no Reino Unido quando das nomeações para os BAFTA, não foi sequer nomeado para os prémios britânicos. O protagonista desta história sobre o contrabando de medicamentos para a sida nos anos 1980, Matthew McConaughey, e o actor secundário Jared Leto foram assim ignorados nas categorias em que têm sido favoritos (e vencedores nos Globos de Ouro e na Guilda dos Actores). Em Londres, foi o estreante Barkhad Abdi a levar para casa o BAFTA de actor secundário e o seu primeiro prémio – tinha sido nomeado para os Globos e para os prémios da Guilda de Actores. Abdi, que até filmar Capitão Phillips era motorista de limusines no Minnesota, é candidato ao Óscar de actor secundário, para o qual concorre com Leto, Michael Fassbender (12 Anos Escravo), Jonah Hill (O Lobo de Wall Street) e Bradley Cooper (Golpada Americana).

A contabilidade da relação entre os Óscares e os BAFTA mostra que nos últimos 20 anos as duas academias escolheram o mesmo melhor filme 11 vezes – e nos últimos cinco anos a sua escolha para o prémio mais desejado coincidiu sempre. Nas categorias de actuação, na última década a escolha de melhor actor coincidiu sete vezes e a de melhor actriz seis. E esta será talvez a categoria que tem uma favorita destacada para o Óscar: Cate Blanchett junta agora o BAFTA ao seu Globo de Ouro e ao prémio da Guilda dos Actores, apenas três dos 21 prémios que já recebeu pelo papel da protagonista instável e abrasiva de Blue Jasmine, de Woody Allen, e que dedicou a Phillip Seymour Hoffman.

Em Janeiro, quando Gravidade e 12 Anos Escravo empatavam na escolha da Guilda dos Produtores Americanos para o melhor filme de 2013, percebia-se que é particularmente difícil arriscar previsões sobre quem chegará primeiro à meta a 2 de Março. Este empate inédito reforçou a ideia de que este é um ano renhido. Gravidade tem, tal como Golpada Americana, dez nomeações para os Óscares; Cuarón venceu o Globo de melhor realizador e o prémio da Guilda dos Realizadores, e este sindicato tem premiado nos últimos dez anos o realizador daquele que será o melhor filme nos Óscares. 12 Anos Escravo está nomeado em nove categorias para os Óscares e já tem o Globo de Ouro de melhor filme dramático e o prémio da Guilda dos Actores para a actriz secundária Lupita Nyong’o – que, nos BAFTA, foi preterida a favor de Jennifer Lawrence em Golpada Americana.

O filme de David O. Russell tem dez nomeações para os Óscares e já conta no seu currículo com o prémio da Guilda dos Actores para melhor elenco – o equivalente da cerimónia ao prémio de melhor filme – e com globos para o melhor filme de comédia e para as actrizes Amy Adams e Jennifer Lawrence. A jovem actriz, a mais recente namoradinha da América, tornar-se-á a única pessoa a ter dois Óscares antes de cumprir 24 anos, se a Academia lhe der a estatueta de melhor actriz secundária dentro de duas semanas.

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