Vanessa Lopes: “Eu sou a amiga cigana”

Com 25 anos, quer “quebrar as histórias repetitivas” das mulheres na comunidade cigana e acabar com os estereótipos entre os portugueses. Quarto episódio da série Nada contra, mas... Testemunhos na primeira pessoa para ver sem preconceitos e sem "mas".

Portuguesa e cigana “com muito orgulho”, Vanessa apresenta-se, aos 25 anos, como aquela que veio ao mundo para “quebrar as histórias repetitivas” das mulheres na comunidade cigana e acabar com os estereótipos entre os portugueses.

“Se fores ao dicionário ver o significado de 'cigano', é 'ladrão'”, conta Vanessa, que desde cedo aprendeu a lidar com as “perguntas estranhas” dos amigos. “Na escola, eu sempre fui reservada. Mas os meus colegas perguntavam sempre: quando é que te casas? Mais tarde, com 13, 14 anos, perguntavam-se: é suposto tu vires à escola?”

Contrariando estas ideias associadas à comunidade cigana, Vanessa prosseguiu os estudos e ainda não se casou. Ao início, foi difícil convencer os pais, mas a irmã mais nova já não precisa de implorar para poder continuar a ir à escola. As barreiras são para ser levantadas, uma a uma, primeiro em casa, depois na comunidade, mais tarde no país. Não é só o dicionário que Vanessa quer mudar.

Adaptou o seu estilo e a forma de falar para se integrar e ser aceite, mas não quer perder a sua essência. É a “amiga cigana” que quer tornar visível o lado bom da sua comunidade – aquele que não vê passar nos meios de comunicação social, mas pelo qual é julgada quando vai a uma entrevista de trabalho.

Vanessa prefere falar da música, da dança, do respeito pela família e pelos mais velhos. “Nós reunimo-nos sempre e estamos juntos, em partilha, em convívio, e eu acho que é uma coisa muito boa da comunidade cigana.”

E os sapos nas montras? Um dia, Vanessa entrou num cabeleireiro e perguntou sobre o batráquio à entrada. Tal como já suspeitava, era para afastar os ciganos. Vanessa ri-se quando recorda este episódio. Mexe no longo cabelo escuro, impecavelmente cuidado. “Os ciganos adoram tratar do cabelo. 'Querida, vais perder tanto dinheiro com o sapo aí'”.