Rust: Armeira Hannah Gutierrez-Reed pode ser condenada até 18 meses de prisão

Gutierrez-Reed foi condenada pela morte da directora de fotografia Halyna Hutchins, na sequência de um disparo da arma que Alec Baldwin empunhava. O actor vai a julgamento em Julho.

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Hannah Gutierrez-Reed durante o julgamento JIM WEBER/REUTERS/arquivo
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Hannah Gutierrez-Reed​, responsável pelo armeiro no filme Rust, conhece a sua sentença, nesta segunda-feira, depois de ter sido condenada pelo disparo fatal em 2021 contra a cineasta Halyna Hutchins pelo actor Alec Baldwin.

Gutierrez, de 27, enfrenta uma pena de até 18 meses numa prisão estadual, depois de um júri a ter considerado culpada de homicídio involuntário por carregar por engano uma munição real num revólver que Baldwin estava a usar no cenário da rodagem do western, em Santa Fé, Novo México.

A juíza do tribunal distrital do Novo México, Mary Marlowe Sommer, irá proferir a sentença de Gutierrez, enteada do treinador de armas de Hollywood Thell Reed, numa audiência que terá início às 10h30 locais (17h30, em Lisboa), depois de ter ordenado a sua permanência na prisão do condado na sequência do julgamento de Março.

O advogado de Gutierrez, Jason Bowles, pediu que lhe fosse concedida liberdade condicional, uma vez que não tinha antecedentes criminais. A procuradora do Estado, Kari Morrissey, pediu que fosse condenada a 18 meses de prisão por falta de contrição, citando telefonemas que Gutierrez fez da prisão em que dizia que o júri era “idiota” e que a juíza “tinha sido subornada”.

Muito dependerá do facto de Marlowe Sommer considerar a morte de Hutchins um crime violento grave, disse o advogado de defesa criminal de Santa Fé, Stephen Aarons, que tem acompanhado o julgamento. “O facto de alguém ter morrido e de outra pessoa ter sido alvejada pende muito a favor da pena de prisão”, disse Aarons, acrescentando que Gutierrez poderia reduzir qualquer pena para metade com bom comportamento.

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A directora de fotografia Halyna Hutchins morreu no cenário de Rust CAROLINE BREHMAN/EPA/ARQUIVO

Um júri de Santa Fé demorou menos de duas horas para chegar a um veredicto a 6 de Março. Posteriormente, um dos jurados justificou a decisão com o facto de Gutierrez não ter feito “o seu trabalho” para garantir a segurança das armas no set.

A morte de Hutchins levou inicialmente as produções cinematográficas e televisivas dos EUA a deixarem de utilizar armas de fogo verdadeiras e munições vazias. Dois anos e meio depois, as armas reais estão a voltar, por serem mais realistas, de acordo com os armadores.

Durante o julgamento de três semanas de Gutierrez, os procuradores acusaram-na de, inadvertidamente, ter levado munições verdadeiras para o cenário do filme de baixo orçamento, um acto estritamente proibido há quase um século segundo as directrizes de segurança do Screen Actors Guild.

Mas o advogado Bowles disse que Gutierrez era o bode expiatório de uma produção caótica em que não lhe foi dado tempo para verificar as armas. Atribuiu a morte de Hutchins ao uso imprudente de armas de fogo por Baldwin e aos esforços para apressar e controlar as filmagens por parte do actor, que era também produtor e argumentista de Rust.

Halyna Hutchins foi mortalmente atingida quando Baldwin apontou a sua arma à câmara, com um projéctil a atingir a directora de fotografia, tendo ainda ferido o realizador. O protagonista de Rockfeller 30 nega ter premido o gatilho. No entanto, o FBI e um perito independente em armas de fogo concluíram que o revólver não dispararia sem que o gatilho fosse premido. O julgamento de Baldwin está marcado para 10 de Julho, depois de um grande júri o ter acusado de homicídio involuntário.

Os anteriores tiroteios fatais em estúdio dos actores Brandon Lee, em 1993, durante as filmagens de O Corvo, obra-culto de Alex Proyas, e Jon-Erik Hexum, em 1984, envolveram balas vazias. No primeiro caso, Michael Massee, no papel de Funboy, atingiu Lee, que viria a morrer no hospital. A investigação viria a concluir que se tratou de um acidente, ao perceber que a arma utilizada tinha disparado antes munições verdadeiras. O que aconteceu foi que um cartucho ficou alojado no cano, sendo libertado quando foram disparadas munições secas. Massee não tinha qualquer responsabilidade pelo sucedido, mas o actor, que viria a morrer em 2016, aos 61 anos, nunca conseguiu assistir ao filme. O segundo ocorreu quando o próprio actor encostou o cano à têmpora e disparou a Magnum 44 que usava numa cena da série Cover Up​ e que julgava estar sem munições.

Os historiadores do cinema, como Alan Rode, têm de recuar até ao início do século passado para encontrar exemplos de elenco ou equipa de Hollywood mortos por balas reais acidentalmente carregadas em adereços.

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