Rios secaram na Amazónia: indígenas pedem ao Brasil que declare emergência climática

A seca e a vaga de calor mataram grandes quantidades de peixe nos rios de que vivem os indígenas e a água dos riachos lamacentos e dos afluentes do rio Amazonas tornou-se imprópria para consumo.

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Uma vista aérea mostra o rio Tumbira, que foi afetado pela seca do rio Negro, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do rio Negro, em Iranduba, estado do Amazonas, Brasil Reuters/BRUNO KELLY
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Uma vista aérea mostra o rio Tumbira, que foi afetado pela seca do rio Negro, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do rio Negro, em Iranduba, estado do Amazonas, Brasil Reuters/BRUNO KELLY
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Uma pessoa num barco navega no Lago do Puraquequara, que tem sido afetado pela seca, em Manaus, Brasil Reuters/BRUNO KELLY

Os habitantes indígenas da Amazónia estão a pedir ao governo brasileiro que declare uma emergência climática, uma vez que as suas aldeias não têm água potável, alimentos ou medicamentos devido a uma seca severa que está a secar rios vitais para viajar na floresta tropical, disseram os seus líderes esta terça-feira.

A seca e a vaga de calor mataram grandes quantidades de peixe nos rios de que vivem os indígenas e a água dos riachos lamacentos e dos afluentes do rio Amazonas tornou-se imprópria para consumo, informou a organização de cúpula APIAM, que representa 63 tribos da Amazónia.

"Pedimos ao governo que declare uma emergência climática para resolver urgentemente a vulnerabilidade a que os povos indígenas estão expostos", pediu a APIAM num comunicado divulgado numa conferência de imprensa.

Os rios Negro, Solimões, Madeira, Juruá e Purus estão a secar a um ritmo recorde e os incêndios florestais estão a destruir a floresta tropical em novas áreas no Baixo Amazonas, afirmou a APIAM no mesmo documento.

A ministra do Ambiente, Marina Silva, disse à Reuters no mês passado que o governo estava a preparar uma brigada especial para prestar assistência de emergência à região amazónica atingida pela seca. O governo enviou dezenas de milhares de pacotes de alimentos para comunidades isoladas pela falta de transporte fluvial.

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Uma imagem de drone do que resta do rio na comunidade de Tumbira, na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro, em Iranduba, Brasil EPA/Raphael Alves

A região está sob pressão do fenómeno climático El Niño, com o volume de chuvas no Norte da Amazónia abaixo da média histórica. O problema mais grave para as comunidades indígenas que não têm água encanada é o saneamento, já que a água dos rios não pode ser bebida, disse a coordenadora da APIAM, Mariazinha Bare.

"Os rios menores secaram e viraram lama", disse Bare numa entrevista. "Os indígenas têm de caminhar longas distâncias na floresta tropical para encontrar água potável, e a má qualidade da água está a deixar as pessoas doentes", acrescentou.

Os rios intransitáveis dificultaram o acesso da assistência médica às aldeias amazónicas, referiu ainda Mariazinha Bare, adiantando que não se espera chuva até ao final de Novembro ou início de Dezembro, altura em que os rios e a sua população de peixes normalmente se renovam.

O rio Madeira, a sudoeste, já não é navegável no seu curso superior, isolando aldeias indígenas e comunidades não-indígenas que dependem da colecta de frutas na floresta tropical, mas não podem retirar seus produtos.

Ivaneide Bandeira, que dirige a organização indígena Kaninde no estado de Rondônia, disse que as comunidades não-indígenas isoladas estavam pedindo comida às aldeias indígenas.

A responsável disse que o fumo dos incêndios florestais está pior do que nunca, agravando a crise climática e afectando a saúde de idosos e crianças.

"Não é apenas a corrente do El Niño. A desflorestação continua com estes incêndios", disse por telefone. "O avanço agrícola não pára. Estão a destruir tudo, como se não vissem o que está a acontecer à natureza."

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