CP lança comboios turísticos para o ano inteiro

Após o Histórico do Douro até Outubro, haverá Vouguinha no Natal e o Miradouro a mirar o Tejo no Inverno e Primavera.

neg - 1 agosto 2015 - viagem em comboio historico no douro - regua ate ao tua
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O Comboio Histórico do Douro vai continuar a circular até ao fim de Outubro Nelson Garrido
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O Vouguinha deverá circular entre Novembro e 15 de Janeiro ADRIANO MIRANDA
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Depois de um Verão em que a oferta turística da CP se limitou, embora com grande sucesso, ao Comboio Histórico do Douro, a empresa pretende consolidar uma oferta turística que faz uso do Vouguinha com locomotiva a vapor entre Novembro e Janeiro e o aproveitamento das carruagens Schindler que habitualmente circulam no Douro para fazer viagens turísticas na linha da Beira Baixa entre o Entroncamento e Castelo Branco, um percurso que decorre na sua maior parte ao longo do Tejo.

A “jóia da coroa” do turismo ferroviário da CP continua a ser o Histórico do Douro, que circula durante o Verão entre a Régua e o Tua e que teve lucros pela primeira vez este ano. O presidente da CP, falando aos jornalistas na Régua no dia 27 de Setembro à margem de um seminário subordinado ao tema “O turismo na procura pela sustentabilidade e inovação em espaços rurais”, disse que este comboio “teve uma rentabilidade superior a 180 mil euros, enquanto no ano passado houve um prejuízo superior a 30 mil euros”. Apesar do preço dos bilhetes a 49 euros, o Comboio Histórico do Douro teve uma taxa de ocupação ligeiramente superior a 90%, o que demonstra o grande interesse do mercado por este produto

Por esse motivo, a CP decidiu aumentar a sua frequência, pondo-o a circular também às quartas-feiras, e não só ao sábado e domingo como até então. Mais: decidiu prolongar a época, que deveria ter terminado em Setembro, até 30 de Outubro.

As razões para a dificuldade em obter lucros prendem-se com o lado dos custos e a complexidade da sua exploração com tracção a vapor, que exige uma logística mais complicada e uma tripulação aumentada e mais especializada.

A locomotiva a vapor data de 1925 (foi enviada da Alemanha para Portugal como indemnização da I Grande Guerra Mundial) e cinco carruagens de madeira do início do século XX. O programa inclui uma viagem de ida e volta entre a Régua e o Tua, com paragem no Pinhão para visitar a estação (famosa pelos seus azulejos e pela vinoteca nela instalada) e assistir à toma de água da locomotiva que continua a ser feita como no século XIX.

Mas mal se extinga o silvo da locomotiva no Douro, a CP pretende continuá-lo, desta vez no Vouga, na última linha de via estreita em Portugal. Após viagens experimentais que já começaram em 2017, e que foram feitas de forma casuística nos últimos anos, a empresa pretende fixar a oferta durante dois meses e meio por ano, entre Novembro e 15 de Janeiro. Não é a época alta, mas é aquela em que se minimiza o risco de incêndios eventualmente provocados pelas faúlhas da máquina a vapor.

A calendarização obriga a um programa mais consolidado que extravasa a simples experiência da viagem de comboio. Por isso, o Vouguinha terá uma paragem longa em Águeda, onde os passageiros serão recebidos para visitar a cidade e associar-se a actividades culturais e de lazer. A viagem prossegue até Macinhata do Vouga, onde é possível visitar a secção museológica ferroviária. O ponto alto destas viagens ocorrerá na época natalícia com a inclusão de um mercado de Natal em Águeda.

Este comboio, rebocado por uma velha locomotiva Mallet de 1923 (faz 100 anos neste mês de Outubro), que funciona a carvão, é composto por uma carruagem construída na Bélgica em 1908, outra na Alemanha em 1925, outra em Portugal em 1923, todas em madeira, e ainda uma carruagem metalizada “napolitana” (assim chamada por ter sido construída em Nápoles) de 1931.

Para rentabilizar este material histórico durante o Verão, a CP está a estudar a possibilidade de o pôr ao serviço na época alta, mas rebocado por uma locomotiva diesel construída no País Basco em 1964, substituindo assim a tracção a vapor por uma tecnologia menos compatível com os riscos de incêndio durante os meses de calor.

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As carruagens do Miradouro podem vir a circular na Beira Baixa ADRIANO MIRANDA

Num programa que é sequencial, a CP pretende aproveitar os meses de Inverno para lançar aos fins-de-semana comboios turísticos na Beira Baixa entre o Entroncamento e Castelo Branco. A ideia é aproveitar algumas das carruagens Schindler que circulam na linha do Douro, vulgarmente associadas ao comboio Miradouro, para fazer um “Miratejo”, tirando partido das suas características: viaturas vintage, com grande amplitude panorâmica e janelas que se podem abrir para melhor contemplar a paisagem.

Também aqui não se pretende ficar pela simples experiência da viagem de comboio, mas associar-lhe outras componentes culturais. No caso prevêem-se paragens em Almourol e Belver para apreciar os respectivos castelos.

A aventura do Presidencial

O Comboio Presidencial, que pertence ao Museu Nacional Ferroviário, poderá vir a ser explorado pela CP em moldes idênticos aos dos últimos anos enquanto produto de luxo, associado aos vinhos e gastronomia de alta qualidade.

Aquela composição fez meia centena de viagens no Douro, com grande sucesso e visibilidade, tendo sido considerada pelas revistas da especialidade como um dos dez melhores comboios de luxo do mundo, tendo ganho também o Prémio Nacional de Turismo e de o melhor evento público do mundo em 2017

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O Presidencial poderá vir a ser explorado pela CP em moldes idênticos aos dos últimos anos enquanto produto de luxo, associado aos vinhos e gastronomia de alta qualidade Martin Henrik

No seminário na Régua, o empresário Gonçalo Castelo Branco, que foi o mentor daquele projecto e o lançou ao abrigo de um protocolo com o Museu Nacional Ferroviário, queixou-se da pesada estrutura de custos do seu funcionamento e disse que só conseguiu ter lucros no último ano de exploração. “Em dez anos [entre 2012 e 2022 ] os custos ligados à ferrovia aumentaram 1200%”, afirmou.

Para a CP pegar agora no Presidencial terá de o fazer em parceria com uma entidade privada que lidere a parte turístico-gastronómica, mas depara-se com uma dificuldade: o facto de o conceito “comboio de luxo no Douro com chefs estrelas Michelin” estar registado como propriedade intelectual.

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